Me senti em 1994. Quatro anos sem disco novo (ano passado ela lançou a ótima "Deadwood" - que está em Sex & Cigarettes, novo álbum da diva R&B que saiu semana passada) e Toni Braxton volta com um single desses. Baita canção. Entre um sussurro e outro e os backing sexy ela solta até os "uh" característicos. Suave e dançável. Ela continua a mesma de 1994. E isso é ótimo.
Com um background que inclui atividades como baterista e dançarino de
break, o austríaco Bernhard Weiss, a.k.a. Demuja, descobriu a discotecagem e
em seguida, a produção de sua própria música, por volta de 2010. Lançando
seus singles por selos como o norueguês Uncut House Records, o americano Nervous Records e o italiano Traxx Underground, em 2016 Demuja criou seu próprio selo, MUJA, por onde saíram três EPs até agora.
Fã de vinil e reclamando para si influências que vão de artistas de house music (Kerri Chandler, Moodymann), jazz (Herbie Hancock, Miles Davis), hip-hop (Mos Def, Wu-Tang Clan) e diretores como Quentin Tarantino, seu lançamento mais recente é o EP Turn Around (realizado no final de Março pela gravadora alemã Toy Tonics) e inclui quatro faixas de house em estado bruto, sem muito polimento. Com samples irreconhecíveis (pra mim, ao menos), timbres macios de teclados e um modus operandi french touch, Turn Around solidifica a promissora carreira de Demuja.
Mais uma faixa especialmente bem feita dos australianos
do Flight Facilities, o novo single "Need You" (com vocais da neozelandesa NÏKA), não deve ir muito além dos pendrives de DJs de
clubes alternativos minúsculos. Entenda: deveria ir longe. É um pop
dançável tão bem acabado que merecia chegar num público realmente
grande. Não me pergunte como. Mas que a música é muito, muito legal, é.
O hilário vídeo de "Need You": Schwarzenegger em algum lugar dos 70, procurando sua cara-metade.
O lendário Todd Terry volta com um single que não é lá nenhuma maravilha em termos de inventividade e originalidade, mas é eficiente o bastante para jogar gasolina na pista dos clubs. "Come On Now" saiu pelo próprio selo de Todd, Inhouse Records e não vai além de algumas variações de synths e o sample-título - mas o bumbo pesa uma tonelada e o baixo tem vida própria. Simples, certeira.
Dia desses fui parar numa página do Youtube que trazia aprimeira canção gravada por Björk, pirralhinha ainda, em algum lugar dos 70. Uma fofura. A música era "I Love To Love", de Tina Charles.
O single da cantora inglesa saiu em 1976, e com a disco a pleno vapor, foi hit fácil no mundo inteiro. Produzida por um dos top produtores da época, o indiano-britânico Appaiah Biddu, "I Love To Love (But My Baby Loves To Dance)" tem um arranjo adocicado de cordas e os agudos impressionantes de Tina Charles (então com tenros 22 aninhos), prontos pra espatifar as vidraças mais próximas.
"I Love To Love": disco britânica infiltrando-se nas paradas.
Na visão oblíqua do locaço DJ Koze, isso é uma dance track. O DJ e produtor alemão (um dos chefões da prestigiada gravadora Pampa Records) convidou a irlandesa Róisín Murphy (ex-cantora do Moloko)
pros vocais de "Illumination" e perpetrou uma das faixas mais
interessantes do período, techno-funky com um loop interminável de
guitarra e baixíssimas frequências sustentando a melodia. Um lançamento
bem ao gosto do seu selo. A canção vai estar em knock knock (assim mesmo, em minúsculas), próximo álbum de Koze, previsto pro começo de Maio.
Basta uma olhada nos títulos das músicas pra sacar o que contém esta quase uma hora de Everything Was Beautiful, And Nothing Hurt (Mute),
novo álbum do produtor americano: "The Last of Goodbyes", "Welcome to
Hard Times", "The Sorrow Tree", "This Wild Darkness", "A Dark Cloud Is
Coming" e por aí vai, divã abaixo. Sobra escuridão, melancolia e baixo
astral, tudo regado com arranjos pesadíssimos (no sentido lúgubre do
termo). Ouça a sessão de cordas macambúzia de "The Ceremony of
Innocence" e afaste-se imediatamente de qualquer objeto cortante;
perceba a voz embargada do robozinho-vocoder de "The Tired and the Hurt"
e, por análise combinatória, constate que "This Wild Darkness" supera "Times Change" do New Order e assume o posto de rap mais triste da história.
Alguma
luz no fim do túnel com os timbres amadeirados do piano elétrico e os
bons vocais de Apollo Jane em "Welcome to Hard Times", a voz algo Liz Fraser de Julie Mintz em "The Sorrow Tree" e o trip-hop portishediano de "A Dark Cloud Is Coming", insuficientes para clarearem o ambiente escurecido que permeia o álbum.
Pode muito bem ser dito que Everything Was Beautiful, And Nothing Hurt
é introspectivo e reflexivo e que não passa de um espelho que reflete a
situação realmente desanimadora do mundo atual. Pra mim, é só triste,
mesmo, em todos os aspectos. E tô fora.
Onde foi que os suecos do Little Dragon erraram, mesmo? A banda já enfileirou (desde o meio dos anos 2000) uma pá de grandes canções, bons álbuns, indicação pro Grammy, a vocalista Yukimi Nagano já gravou com SBTRKT, DJ Shadow e Kaytranada e então, o que faltou pra banda realmente estourar? O novo single, "Best Friends" continua a saga dos escandinavos e é, possivelmente, a canção pop da semana. Refrão perfeito, instrumental inventivo, tudo absolutamente no lugar certo. Talentosíssimos.
"Best Friends": os melhores três minutos e meio da semana.
The National eu acho chato pra cacete, mas até que o vocalista da banda, Matt
Berninger, não conseguiu estragar a bela "My Enemy", nova do Chvrches.
Pop de sintetizador com aquela carga de dramaticidade de plástico que
poderia estar na trilha de qualquer filme do John Hughes. "My Enemy" é uma canção bem melhor que "Get Out", lançada mês passado, e é outra faixa que estará em Love Is Dead, próximo álbum do trio escocês cuja data de lançamento foi revelada semana passada: 25 de Maio.
"My Enemy": o bom synthpop nos trilhos, novamente.
Excelente a música nova do duo alemão Digitalism, "Holograms". A faixa vai estar no seu próximo EP, Zdar C1u6 (Star Club), programado para o final de Março. Com vocais de Jens "Jence" Moelle (o da esquerda, na foto), "Holograms" é um paredão de sintetizadores emoldurado por pinceladas de timbres devastadores, mas não é um single exatamente direcionado para as pistas (como, você lembra, o hitaço "Zdarlight"). O BPM é baixo, mas o refrão ganha em euforia. Demais.