terça-feira, 29 de abril de 2014

10 Perguntas Para... Paradizzle

Di-Gestivo (de barba) e Feijão (de óculos): Magnum feelings.
Buenas. Comecei a prestar atenção no Paradizzle em Setembro do ano passado, quando ouvi sua faixa "Out Run", um funk eletrônico baseado em samples de fino trato e de alto poder rebolativo. De lá pra cá, DJ Feijão e Di-Gestivo lançaram "Out Run" no Beatport, alcançando o segundo lugar na parada Funk/R&B do site, além de permanecer mais de um mês no Top 100. Mais: a música "Class" entrou na coletânea Roller Disco do selo Royal Soul e a dupla ainda estreou seu live no meio de Janeiro, em Porto Alegre. Entre ensaios, festas e várias idas à Arena do Grêmio, sobrou tempo pra responder às 10 Perguntas aqui do blog.

1) Porque o Brasil ainda não emplacou um artista de dance/eletrônica em um nível Chemical Brothers da cena?

Acreditamos que o Brasil tem um delay histórico em relação a cena gringa. Mesmo com a informação altamente globalizada dos tempos atuais, as pessoas ficam meio dependentes do próximo passo que os gringos vão dar. Temos muitos DJs e produtores bons, mas que na nossa visão não estão tão empenhados em produzir algo inovador, estão mais interessados em simplesmente discotecar e seguir as tendências do mercado.

2) Lançamentos de dance enchem uma lista telefônica diariamente. Como esses artistas podem tornar a atividade rentável sem fazer shows e com o download ilegal irrefreável?

Sem fazer shows, sem estar em contato direto com o público fica difícil. A principal renda dos artistas sempre foi vender shows. A venda de artigos como camisetas, adesivos e outros também pode ajudar, bem como a venda do CD físico (que já estamos fazendo uma tiragem inicial). Assinamos com a Label francesa Springbok Records e a brasileira Royal Soul Records, e nesse sentido temos tido bons resultados, pois DJs mundo afora compram musicas via sites como Beatport, Juno, iTunes ou Bandcamp, além da visibilidade que essas labels tem nos proporcionado para divulgar nossa música.

"Class":


3) Isaac Hayes falou certa vez que estava preocupado com o uso do sampler pela geração de músicos da virada dos 90 pros 2000, questionando algo como “se continuar assim, quem eles vão samplear daqui vinte anos? Os samples dos samples?" Como fazer do sampler um instrumento criativo hoje em dia?
Somos muito fãs de "Mr. Ike" e o consideremos uma figura referencial na música, mas neste ponto discordamos dele. Na nossa opinião, os samples são tão intermináveis quanto o seu uso, pois cada um dá a sua interpretação, incluindo timbres, velocidade, levada, etc... às vezes a ponto de deixar o sample praticamente irreconhecível. Nós, na verdade, não temos a mínima noção da quantidade de música produzida ao longo das últimas décadas no mundo e pra quem gosta, a pesquisa é prazerosa e se torna parte do processo. No Paradizzle, procuramos aliar o sample à outros elementos para alcançar um resultado original.
4) Com sua música baseada em samples, qual a dificuldade em liberar os trechos? Encontrar a quem pagar ou buscar a liberação de samples de artistas semi-obscuros? 


Como citado anteriormente, o sample pode se tornar irreconhecível, o que já ajuda bastante. Muitas vezes a maior dificuldade é justamente encontrar esses artistas obscuros para liberar, levando em conta que muitos nem sequer estão vivos. A legislação sobre o uso de samples é confusa e deixa brechas, muitas pessoas não entendem ou até criticam o seu uso, mesmo sem se dar conta que tiveram conhecimento do original através do sampleado. Acreditamos que na maior parte das vezes os tais artistas querem mais é serem sampleados e lembrados, eles veem isto como uma forma de homenagem, já que não fizeram sucesso algum em sua época de atividade. Encaramos dessa forma também, como uma forma de reverenciar e resgatar a música destes artistas. Mas, às vezes, músicas produzidas com samples viram hit e a coisa pode tomar contornos mundiais. Nesse sentido, acho justo que o artista apareça e queira tomar sua parte.    

5) O funk carioca ajuda ou atrapalha a cena eletrônica no Brasil? 


O funk carioca está forte atualmente, e é algo legítimo dos guetos, é natural que as pessoas tenham curiosidade, a batida é envolvente mesmo, pessoalmente gostar ou não já é outra historia. Os gringos piram no pancadão e nos atabaques, pois é a imagem que tem de nós e se formos pensar bem, é a cara do brasileiro. Ao mesmo tempo que ajuda DJs que gostam de funk carioca, e influencia uma parte da cena mundial, como o Diplo, ele rouba o espaço não só da música eletrônica como também do rap e outros estilos. 

6) Quem faz boa música de pista no Brasil hoje?

Difícil responder isso. Há boas produções espalhadas pela web, que muitas vezes aguardam um olhar mais atento como o do seu blog, que é especializado nessa área. Pessoalmente, salvo raras exceções, entendemos que não só no Brasil, como mundialmente, a música pop atravessa uma fase que não nos agrada, vide os estilos que surgiram nos últimos anos como dubstep e trap. O próprio rap caminhou por um lado onde o groove foi deixado de lado em detrimento de um estilo mais duro, pesado e, digamos, "cinza". O funk carioca, e também o sertanejo universitário, são músicas de pista no Brasil hoje, mas se é bom ou não é uma questão pessoal. O Paradizzle foi criado como uma alternativa a esse cenário, uma volta aos funks e aos grooves.

"Bounce":


7) Independente do gênero, qual é o disco mais bem produzido da história?

Thriller, do Michael Jackson. A união de esforços de Quincy Jones com o Michael Jackson mais amadurecido tornou esse disco imbatível em termos de musica pop, não é a toa que é o disco mais vendido da história. Tudo é tecnicamente perfeito e foi composto, executado e arranjado de maneira brilhante, além de contar com compositores talentosos como Rod Temperton (Heatwave), Paul McCartney, e ainda possuir um apelo visual irretocável.

8) Há planos para um álbum ou o projeto vai se concentrar em singles?

Por enquanto estamos trabalhando na divulgação do EP Summer Funk, mas já temos bastante material produzido, e há planos para o lançamento de um próximo EP de músicas próprias, como também um EP de remixes, sendo também bastante provável que haja o lançamento de singles no meio deste processo. Queremos também produzir um videoclipe, mas isto depende basicamente da verba que podemos conseguir para tanto. 

9) Como funciona o live do Paradizzle? Já existe uma tour programada pra sair Brasil afora, ou algo assim?

Em nosso live procuramos adicionar elementos que possam enriquecer e interagir com as músicas, sejam partes de contra-baixo ou guitarra, que são tocados pelo Di-Gestivo, enquanto DJ Feijão toca as bases com os toca-discos, fazendo scratches, intervenções e adicionando colagens. Nas últimas apresentações houveram participações de Big MC Tchê, conhecido rapper gaúcho que estará presente em uma nova faixa que estamos trabalhando, e também o B-Boy Ted da Companhia Hackers Crew, que é uma das pioneiras em Breakdance no Rio Grande do Sul. Já houveram contatos de países da Europa e dos Estados Unidos e estamos em tratativas para em breve tocar no exterior.

10) Pra onde vai a música eletrônica?

Pensamos que ela vai para onde as pessoas levarem, com toda a liberdade e criatividade que possa ter, sem barreira nenhuma. Se depender do Paradizzle, ela vai se misturar cada vez mais ao funk e à black music, que é a nossa praia.

Muito obrigado pela oportunidade, Carlinhos! Um salve a quem leu essa entrevista!

"Out Run":

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