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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Piano in the Dark


Não é nada de extraordinário, mas a nova dos belgas do Piano Club, "Think For Yourself", é uma linda viagem nostálgica eletro-orgânica que condensa funk, disco e pop com vocais oníricos, um climinha meio tristonho e o canto falado incidental da rapper Salomé Dos Santos Ataíde Magalhães, a.k.a. Blu Samu, confortavelmente inserido à melodia. Pra ouvir numa relax ou garantir um bom número de quadris em movimento na pista. O single, lançado no final de Janeiro, ainda tem a boa "The Wake Up Call", disponível para audição na página da banda no Bandcamp.

Créditos a quem merece: vi lá no Electro Boogie Encounter, fonte inesgotável de música boa gerada pelo incansável Caio Zini. Vale a visita.

"Think For Yourself": mantendo a tradição belga de fornecedora de boa música.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

37ºC


Novíssima do duo gente fina Chromeo, "Bedroom Calling" é mais uma faixa que vai estar em Head Over Heels, quinto álbum dos canadenses, que sai ainda este ano. O primeiro single, "Juice", foi lançado em Novembro do ano passado. Achei que tanto "Bedroom Calling" (que tem participação do rapper americano The-Dream) quanto "Juice" não ultrapassaram muito a temperatura do corpo. São boas faixas de funk eletrônico com paletó e gravata, bem comportadinhas, fofinhas ou "muito amor", pra usar uma expressão em voga. Uma dosezinha de ousadia (sexual, instrumental) pode cair bem nesse som, pro Chromeo provar que é muito mais que um par de rostinhos bonitos.


"Bedroom Calling": 37 graus Celsius.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Lola em Disco


Vale a pena dar uma checada no trampo do prolífico porto-alegrense Guilherme Silveira (a.k.a. DJ Feijão e também metade do Paradizzle) e seu projeto Lola Disco. Depois do debut Summer Body (lançado em Abril do ano passado pelo selo americano Sunrise) e vários singles, já saiu Girl Talk em Novembro, com oito faixas - um engavetamento de samples encaixados sob batidas ora french touch ora funk cremoso pós-disco - tão divertidas de ouvir e/ou dançar quanto descobrir de onde vem as amostras usadas por Guilherme, um aplicado caçador de fontes. Evoluindo tecnicamente em pouco tempo, dá pra sacar claramente que Girl Talk vem com um som mais limpo e preciso do que o primeiro disco. Perceba a progressão ouvindo de boa no Bandcamp e de quebra, dando aquela moral comprando o álbum em formato digital (só seis doletas), porque a limitada edição em CD já esgotou.


"Instantly": um dos melhores momentos de Girl Talk.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Melhores de 2017 - Músicas


Minha lista de músicas preferidas de 2017 é composta por dez faixas bem distintas entre si. O ponto aqui não é se uma música é melhor que a outra; a ordem da listagem diz respeito somente ao que eu mais gostei, simples assim. Os títulos que estão em vermelho levam pro post da canção. Tem pop, drum'n'bass, R&B, synthpop, funk, indie... mas todas com pelo menos um dos três ingredientes em sua receita: são dançáveis, tem groove ou tem algum elemento forte de eletrônica. Exatamente do que o blog trata. Eis:

1) "Holding On" > The War On Drugs



2) "Havana" > Camila Cabello



4) "The Mirrored River" > Goldie



10) "Pop Voodoo" > Black Grape

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Future Funk


Me admirei - muito - ao ouvir "Filthy", o primeiro single do novo álbum de Justin Timberlake, Man of the Woods (lançamento programado pra 02 de Fevereiro). Produzido pelo próprio Timberlake mais o parceiro de sempre Timbaland e o produtor Danja, "Filthy" é um funk cibernético corpulento e futurista, junta R&B e electro sob um baixo paquidérmico e um rolo compressor de efeitos, não facilita as coisas com as saídas mais fáceis do pop urdido por gente que dá as cartas atualmente como Dr. Luke e Max Martin e, mesmo assim, é totalmente digerível. Tão assombroso quanto a música é o vídeo elaborado para "Filthy", logo abaixo. Renovador e impressionante.


"Filthy": Justin rumo ao topo.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Carl Douglas


Bruce Lee fez a cabeça da molecada americana nos anos 70. Filmes como A Fúria do Dragão, O Voo do Dragão e O Dragão Ataca, se pecavam pela falta de variedade temática, elevaram Lee à condição de ícone cultural e popularizaram definitivamente películas dedicadas às artes marciais, deixando um legado absorvido por artistas tão díspares quanto Wu-Tang Clan e Quentin Tarantino.

Foi nessa onda que embarcou o jamaicano Carlton George Douglas. "Kung Fu Fighting" deveria, originalmente, apenas preencher o lado B do single "I Want to Give You My Everything", mas após ter sido gravada (em menos de uma hora e apenas dois takes), um executivo da gravadora insistiu para que a faixa fosse prensada no lado A. Sábia decisão: lançado em 1974, o single vendeu mais de onze milhões de cópias. Produzida pelo subestimado indiano Biddu (Tina Charles, The Flirtations), "Kung Fu Fighting" tem um riff de flauta oriental clássico, entre vários "huh! hah!", representando foneticamente os movimentos da luta. Carl Douglas cantava bem demais, mas lustrava a cara de pau e mandava ver na performance metido nesse ifu (roupa para a prática do kung fu) do vídeo abaixo. Foi um hit só, mas lá em 1974, everybody was kung fu fighting.

domingo, 16 de julho de 2017

Good Good Mix


Ótima pedida o recém lançado quadragésimo sexto volume da Late Night Tales, série de coletâneas realizadas desde 2001 pelo selo independente britânico Night Time Stories Ltd. e que traz sempre alguém bacana na curadoria (artistas como Groove Armada, Nightmares on Wax, Sly & Robbie, Jamiroquai, Belle & Sebastian, Air e Fatboy Slim, já mixaram suas preferidas do fim de noite para a série). 


Desta vez a seleção ficou aos cuidados dos canadenses do BadBadNotGood e traz uma mistura bem eclética, mas que conversa muito bem entre si, como deve ser um bom set. Tem soul divino ("Don't Let Your Love Fade Away" de Gene Williams [1970], "Home Is Where the Hatred Is" de Esther Philips [1972] e "Oh Honey" do Delegation [1978]); reggae paleolítico ("People Make The World Go Round" de Errol Brown And The Chosen Few [1972]); o jazz-funk cabeçudo de Thundercat ("For Love I Come", de 2011); rock lisérgico ("Baby", dos ilustres desconhecidos - pra mim - Donnie & Joe Emerson [1979]); representantes de Gana, Etiópia e Camarões (Kiki Gyan, Admas e Francis Bebey, respectivamente); eletrônica experimental e retrô (Boards of Canada e Stereolab) e, para minha total surpresa, o groove sensacional de Erasmo Carlos em "Vida Antiga".

Conforme indica o próprio pessoal do BadBadNotGood, "...este mix vai te deixar em boa companhia numa noite tranquila, sozinho ou com amigos. Você pode ouvi-lo no avião, no ônibus, em uma longa caminhada ou em qualquer situação em que você queira uma trilha sonora para reflexão e meditação." Altamente recomendável.


Uma amostra do Late Night Tales do BadBadNotGood: numa nice, numa relax.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Nova Aparição de Fatima


Fatima Yamaha é um projeto de house e electro do holandês Bas Bron que não é lá muito prolífico em relação a sua produção. São onze anos de distância que separam o primeiro (2004) do segundo single (2015), até que ele resolvesse gravar um álbum. Agora em 2017, Bron retorna com Araya EP (Dekmantel), com um som que preserva as características de sua pequena e curiosa discografia, até aqui.

Araya tem a faixa título estendendo-se por seis minutos de tech house sci-fi instrumental, com arpejos sustentando os belos timbres de sintetizadores old school e condução rítmica 4x4 (usando o velho truque das palmas na caixa), que deixa tudo com cara de space disco à la Cerrone/Patrick Cowley (e funciona).

"Piayes Beach Bar and Grill" tem um ritmo mais engrenado - culpa do baixo sintético funkeado, mas monocórdico - e uma cama macia de teclados esvoaçantes em segundo plano. O pecado aqui é o timbre meio estridente do sintetizador que vai solando durante a faixa, que quase põe tudo a perder. Já a desnecessária "Romantic Bureaucracy" tem cara de lado B, mesmo: sons de piano bem reais na base, mas um teclado irritante no tema principal.



A julgar pelas três faixas de Araya EP, até que Bas Bron não está tão errado em lançar seus discos sob o pseudônimo Fatima Yamaha de forma homeopática. Sorvidos aos poucos, os EPs descem redondinho. Já um álbum inteiro (Imaginary Lines, de 2015) deixa um indelével sabor retrô na garganta que não significa exatamente que a experiência foi boa.



quinta-feira, 11 de maio de 2017

Discoteca Gaudéria


Guilherme Silveira (a.k.a. DJ Feijão) deu um tempo com o Paradizzle pra lançar Summer Body, o primeiro álbum do seu projeto Lola Disco, pela ianque Sunrise Collective. O disco é um intrincado engavetamento de samples colados sob bases de french house ("I Want Your Love", a impronunciável "夏の準備は", "All The Time" e "G.T.H.Y.L.") e andamentos mais funky ("King Against The World", "Love Your Grooves"), entre amostras que vão de ABC à Rick Astley e alto poder de dançabilidade em 11 faixas originais e dois remixes. Com uma auto definição de tags que inclui disco, house, future funk, nudisco e vaporwave, é o próprio Guilherme que define qual é a da Lola, nesse papo que tive com ele:

Com tantas tags demarcando o território da tua música, onde exatamente está o Lola Disco?


Lola Disco foi um projeto que começou completamente despretensioso. Na verdade "ela" tinha uma outra função, foi um perfil fake que criei no Soundcloud para repostar as minhas outras coisas, do Paradizzle e também os sets e beats que fazia como DJ Feijão
.

Entretanto, sempre fui muito afim de fazer uns beats no estilo Nu Disco/French Touch, queria deixar um pouco de trabalhar com a música Rap e experimentar coisas mais groove porque, na minha opinião, o Rap deixou de samplear o Funk e a Disco e caiu num tipo de música que não me agrada, algo muito dark, deprê.

E com uma música basicamente apoiada em samples, já rolou de artista/gravadora pedir pra retirar algum?

Respondendo mais diretamente a pergunta anterior, Lola Disco se encontra dentro do Future Funk, um estilo nascido a partir do Vaporwave - "Future Funk is a music genre that emerged from the Vaporwave genre in the summer of 2012. It is characterized with the heavy use of samples, primarily of 70's and 80's funk and disco." Nunca rolou nada de pedir pra retirar música por causa de sample.
Basicamente por usarmos em sua maioria samples de artistas desconhecidos. Caras que, pra eles, é até uma homenagem. E na verdade, só se fica sabendo do uso de algum sample quando a coisa fica realmente grande, e o artista em questão fica sabendo. Mas no meu caso nunca rolou nada.



Na virada dos 80 pros 90, pessoal do rap e da house começou a temer os processos por causa do uso de samples não autorizados. Tu achas que isso influenciou de alguma forma o processo criativo? No Summer Body tem ABC e Rick Astley, por exemplo. Tu não ficas receoso de tomar uma advertência?

Nao fico não, porque a label pela qual lancei o álbum não tem abrangência para tanto e inclusive o método de venda é o Name You Price, ou seja, o álbum está disponível para baixar de graça e paga quem quiser. Outra coisa, estamos falando de um "gênero musical" onde o uso forte de samples é obrigatório, portanto o grupo que consome esse tipo de música já sabe disso e procura por isso.

Como é o teu processo de composição e montagem das faixas?

Basicamente se escolhe primeiramente um sample que pode se tornar um "main" sample a medida em que se escolhe outros samples para serem secundários. Muito frequente no caso de se usar a técnica do "micro sampling", em que se mistura samples de 4, 5, 6 ou mais músicas diferentes em uma mesma track, o que tenho feito em minhas últimas produções. Nas últimas também tenho adicionado outros elementos tocados por mim mesmo, como baixo e teclados. E nesse caminho quero seguir.


E no Summer Body tu cuidaste de tudo? Produção, mixagem masterização, etc...?

Sim, tudo. Tirando as faixas em que houve participações de outros caras, daí eles também participaram desse processo. VHS Logos, grande produtor aqui do RS e um dos precursores do Vaporwave, disse certa vez que o próprio artista que deve cuidar de sua própria mixagem e masterização, pois só ele sabe o resultado onde quer chegar. Entretanto isso requer muito estudo, algo em que estou tentando aprender, mas cada vez o cara melhora mais um pouco, também não há uma regra em termos de música.


E sobre hardware/software?

Eu uso o FL Studio, também conhecido como Fruity Loops, grande amigo de 9 entre 10 beatmakers de Rap, e foi assim que comecei. Ano passado comprei uma MPD, mas não consegui fazer ela funcionar como deveria, então ainda não a estou utilizando. Quando gravo baixo e outros instrumentos, uso alguns dos plugins que vem junto com o FL Studio. MPD é tipo uma MPC mais simples, que tu consegue sincronizar com o FL Studio ou outra DAW que você use.


Tu gravas os samples nela?


Isso, você consegue colocar, digamos, em cada Pad (botão) um recorte de sample que você recortou ou outro timbre de qualquer outra coisa, daí você consegue com as mãos ou "dedos" tocar no ritmo e dinâmica que você quer a sequencia que você pensou, junto com um Drum ou não.



Em "I Want Your Love", a introdução tem um ruído de estática numa frequência altíssima. Foi intencional?

Sim.
Isso faz parte do estilo, colocar gravações antigas, de rádio, TV e até mesmo ruídos da época inicial da Internet, faz parte da coisa retrô da história...
Não é contraditório um gênero chamado Future Funk buscar samples de disco e funk do passado?

Não acho contraditório porque justamente o nome já fala tudo, usar samples de coisas antigas para tentar parecer moderno ou do "futuro", que tem tudo a ver com a estética 80's do que eles pensavam ser o futuro, coisa que o Daft Punk faz desde os 90 com maestria. É que tipo, nos anos 70 e 80 a música tinha uma visão de futuro, eles se voltavam para o futuro. De uma maneira piegas e ingênua,
mas eles tinham essa visão. Depois veio o grunge e caras como Kurt Cobain só queriam se matar e serem deprês, hehehe... Não havia futuro para eles.

 Samples são uma fonte esgotável?

Existe sim uma quantidade quase infinita de samples, porém tem gente que já sampleia coisa que já foi sampleada... Entretanto acredito que, principalmente após o advento da música Rap e da Eletrônica, onde o DJ virou protagonista, o conceito de música foi mudado e hoje vivemos em outra época onde também a questão de ser "músico" pode ser revista.


Há planos para mídia física do Summer Body?



O pessoal quer muito que eu lance o Summer Body em cassete. Mas isso não depende apenas de mim, teria que falar com o pessoal da Sunrise. Mas pelo que já vi, com muito erros na entrega do material pelo pessoal que faz, talvez ainda não valha a pena. Tipo gravação errada, capa errada, etc... Já ouvi falar. E vá saber se vai vender mesmo.
 
Pra encerrar: tu tens algum tipo de planejamento sobre o projeto (vender determinado número de discos, excursionar, live PA, etc...), ou é um dia depois do outro, observando as reações?



Summer Body foi o fechamento de um ciclo, a partir de agora me voltarei para um outro foco.
Trabalharei cada vez melhor as tracks e um EP apenas de música brasileira está a caminho.
Com todo feedback positivo que ganhei no exterior com o Lola Disco, não seria justo que não tentasse ganhar o mercado nacional.

Como Lola Disco?

Ou outro nome, se achar que der na telha eu faço...

Summer Body, inteiro no Bandcamp:


Soundcloud:

domingo, 2 de abril de 2017

Funk Como Nos Gusta


Os dois singles que o Jamiroquai lançou em Janeiro e Fevereiro ("Automaton" e "Cloud 9", respectivamente) deram uma pista animadora de como poderia soar Automaton, o oitavo álbum da banda (o mais recente, Rock Dust Light Star, é de 2010). Produzido por Jay Kay e pelo tecladista do grupo, Matt Johnson, o disco impressiona tanto quanto a faixa-título. Tudo funciona com a mesma precisão e eficiência do Aston Martin de Jay: amostras magníficas de sintetizadores vintage, vocoders, baixos galopantes, timbres orgânicos de bateria e os vocais afinadíssimos e particulares de Kay - límpidos e potentes nas notas mais altas, sussurrados e macios nas mais baixas. Além de "Automaton" (um funk cibernético com refrão de levada disco) e "Cloud 9" (mais relaxada mas ainda totalmente dançável em sua versão original, a faixa ganhou um propulsor de Fred Falke na versão remix), saltam aos ouvidos as linhas de baixo espetaculares de "Superfresh" e "Nights Out in the Jungle", os violinos estrategicamente colocados em "Shake it On", "Summer Girl" e "Hot Property" e o boogie eletrônico "Carla". "Vitamin" lembra as origens acid jazz do Jamiroquai (especialmente expressas no debut Emergency on Planet Earth, de 1993) e surpreendente, mesmo, é "We Can do It" e seu tempero de sabor latino absolutamente delicioso. Automaton é excepcionalmente bem produzido, tem uma qualidade de som irretocável em todos os detalhes (dos vocais ao wah-wah da guitarra), é totalmente viável comercialmente sem ser pasteurizado e não vejo arestas a aparar em suas 12 faixas. Prova por A mais B que fazer um disco que funcione na pista, no rádio ou na sala de estar ainda é perfeitamente possível sem apelar para truques e clichês em voga no meio de uma cena pop caótica como a atual.



"Cloud 9":

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Melhores de 2016 - Discos (#02: Mayer Hawthorne)


Mayer Hawthorne tinha tudo pra se transformar no Calvin Harris versão ianque. Os primeiros passos foram semelhantes: estreia promissora, revisionismo, respeito da crítica, atenção do público e a consequente e inevitável aproximação do mainstream. Harris converteu-se num artista dance ordinário, grava com figurões do establishment da música, ganha milhões e coleciona McLarens. Hawthorne continuou destilando seu soul de boa cepa em pequenos selos (à exceção de seu segundo álbum, How Do You Do, que saiu pela Universal) e quase caiu em tentação quando aproximou-se perigosamente do rapper de ladainha fraca Pitbull, em 2013 ("Do It"). Felizmente, ao que parece, Andrew Mayer Cohen optou pelo que realmente importa nessa história toda: fazer boa música. Ele possivelmente perdeu público com a escolha, mas acertou pela preferência, porque esse hipotético consumidor de pop rasteiro que coleciona hits no celular tem uma volatilidade totalmente dispensável pra um artista que pensa em seguir carreira fazendo algo relevante. Seu álbum mais recente, Man About Town (2016, Vagrant Records) é mais uma coleção irrepreensível de soul pop sem bolor, sem o ranço "neo-alguma-coisa", excepcionalmente bem produzido (o produtor e DJ belga Vito de Luca - do projeto Aeroplane - e o ótimo Benny Sings estão entre os nomes por trás da mesa de som do estúdio) e, mais importante, é delicioso de ouvir. São 10 faixas em pouco mais de meia hora; nada descartável, nada fora do lugar. Longe de ser um disco saudosista, Man About Town aponta para várias direções, entre R'n'Bs sedutores com instrumental cuidadoso e backings maravilhosos ("Cosmic Love", "Book of Broken Hearts"), sacolejos estilosos ("Lingerie & Candlewax", "Love Like That"), blue eyed soul à Hall & Oates ("The Valley"), disco/boogie ("Out of Pocket"), baladas soul viscerais ("Breakfast in Bed", "Get You Back") e até um reggae respeitável ("Fancy Clothes"). Com esse álbum, Mayer Hawthorne merecia bem mais que o modesto nonagésimo lugar que alcançou no paradão da Billboard. Questão é que imagino que ele esteja feliz, mesmo assim. Senão pelos resultados comerciais, pela satisfação pessoal de não se dobrar pra indústria em troca de uns tostões, por garantir assim longevidade artística e por continuar fazendo música que coloca um sorriso no rosto de quem se interessa pelo seu incrível trabalho (e não é pouca gente). São trinta minutos de prazer garantido no disco mais equilibrado da carreira de Hawthorne.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Cyberfunk


Jason Luís Cheetham (aka Jay Kay) está de volta. Saiu hoje o vídeo para "Automaton", primeiro single do Jamiroquai desde "Lifeline" (de 2011). A faixa estreou ontem na BBC Radio 2 e faz parte do novo álbum do grupo (também chamado Automaton), com lançamento programado para 31 de Março. A música me impressionou bastante. É funk sintético com os inconfundíveis vocais de Jay Kay, uma levada disco entre as estrofes e sem refrão. Radiofônico, dançável, pop e ousado. O single (assim como o álbum), foi produzido pelo próprio Jay Kay e pelo tecladista da banda, Matt Johnson.

"Automaton": dançando num futuro pós-apocalíptico.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Melhores do Ano - Músicas (#20: Christina Aguilera Feat. Nile Rodgers)



Não parece haver muito o que comemorar num 2016 que levou tanta gente boa da música (David Bowie, Prince, Maurice White e George Michael, pra citar alguns). Com lacunas impreenchíveis, vida que segue.

Seleção deste ano fica com 20 faixas, apenas. Reflexo do pouco tempo que tive pro blog, provavelmente - porque música eu escutei como nunca. Ou como sempre.

#20: "Telepathy" > Christina Aguilera Feat. Nile Rodgers



Inclusa na trilha da série The Get Down (exibida no Netflix), "Telepathy" é uma sessão potente de pop e funk, com o competente e controlado vocal de Aguilera, metais à moda antiga e a mão direita abençoada de Nile Rodgers. Uma grande canção pop que periga ter passado batida em 2016, infelizmente.   

domingo, 13 de dezembro de 2015

Discos do Ano: LA Priest


Ex-guitarrista e vocalista da finada banda britânica de dance-punk Late Of The Pier, Samuel Eastgate assumiu seu alter ego LA Priest, abraçou suas influências de David Byrne, Prince e Arthur Russell e lançou (no meio do ano) um dos melhores discos de 2015. Com doses muito bem calibradas de experimentalismo e pop, Inji (Domino) encaixa-se em várias categorias, mas não pertence a nenhuma, especificamente. A primeira metade do álbum é arrebatadora. O funk em câmera lenta da abertura "Occasion", com seus solos lânguidos de guitarra, órgãos sacros e vocais lascivos soam mais Prince do que qualquer coisa do último álbum (HITnRUN phase one, lançado em Setembro) do geniozinho de Minneapolis. "Lady's In Trouble With The Law" é como se Terence Trent D'Arby tivesse ressuscitado da morte artística e lançado um dos singles mais bacanas de soul/pop dos últimos tempos. A desolação instrumental de "Gene Washes With New Arm" parece um pequeno e sintomático reflexo sonoro do atual isolamento de Eastgate num pequeno vilarejo do País de Gales: timbres irregulares de instrumentos indefiníveis que há alguns anos seriam incluídos facilmente sob o guarda-chuva da world music, mas que hoje pedem um novo nome (Ambient, Downtempo, você escolhe). Ainda sem pular nenhuma faixa, talvez a grande canção do disco, "Oino" ("Oh I Know", sacou?) continua com a desafiadora tarefa de tentar descrever que música é essa. Na minha cabeça, parece um reggae muito distante de Kingston, tocado por argelinos. "Party Zute / Learning To Love" é disco torta, com uma linha de baixo brilhante, mudanças de andamento e oito minutos de euforia prontos pra serem consumidos nas pistas menos cafonas. Pra completar, Inji ainda tem a sonhadora "Fabby", a house comportada "Night Train" em BPM baixo e teclados escolhidos, literalmente, a dedo e a progressiva que não dá sono "A Good Sign". O pop atual precisa de mais gente como Samuel Eastgate: ousado, talentoso e com um senso melódico apuradíssimo. Não à toa, cravou um dos álbuns do ano.

"Oino": inclassificável, mas de fácil digestão.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Disco Vegana


"My Mind's Made Up", nova do trio holandês Kraak & Smaak, é puro boogie pós-disco, algo 1982. Guitarra funky escovada convive em harmonia com bassline sintético e slaps reais; timbres de teclados com console de madeira emolduram os bons vocais de Berenice (quem?). Quanta gente tem a manha de produzir um negócio assim, tão bom e atemporal, que passa à léguas do pastiche? Bem pouca.

"My Mind's Made Up": disco orgânica.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Antropofagia Funk


Se o disco mais recente do Duran Duran (o razoável All You Need Is Now, de 2010) vampirizava a própria obra do grupo (o fenomenal Rio, de 1982), a nova "Pressure Off" parece sobra de estúdio de Notorious (1986). Funk rock musculoso, turbinado pela guitarra de Nile Rodgers (coincidentemente, o produtor de Notorious) e pelos vocais adicionais de Janelle Monáe, a faixa vai estar no novo álbum do quarteto, Paper Gods, agendado pra Setembro. O grupo subiu "Pressure Off" no Youtube há coisa de uma semana e tem pouco mais de cem mil visualizações. Não creio que isso vá virar single, não vi potencial. Com otimismo: espero um álbum melhor que essa amostra.

  "Pressure Off": e o tino pop, onde está?

terça-feira, 12 de maio de 2015

C'était Chic


Conforme-se: aquele Chic dos 70 não volta mais. Isso de "Back In the Old School" (como sugere a faixa que preenche o lado B do single "I'll Be There", lançado em Março) vale pra busca de referências e inspiração, mas o globo espelhado e as bocas de sino da novela não vão voltar - salvo ocasiões especiais. O Chic soa incrível nesse single, como de costume. Tem naipe de metais reluzentes, harmonias vocais lindas, a guitarra inconfundível de Nile Rodgers, calor e suingue... mas é um Chic preso ao tempo. São 23 anos sem música nova, são duas boas canções (com duas versões instrumentais de bônus), mas dizer que é autoparódia não é exagero. Ouço com respeito, é um trabalho admirável com um batalhão de gente envolvida. Só não consegui me empolgar. O álbum It's About Time sai mês que vem e a pergunta é uma só: vem tudo nesse clima retrô?

"I'll Be There": eles estavam lá.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Let Me Sing


Como costumo errar com frequência o que - potencialmente - tem cara de que vai arrebentar, nem vou escrever nada do tipo. Ouça "Don't Sing" (o truque da autossabotagem do título também pode funcionar) e tire suas próprias conclusões. Me agrada muito o piano e a levadinha funky. Escrita pelo holandês Benny Sings (os vocais duplicados também são dele) e produzida pelo francês David Guillon (Data), a faixa saiu tem uns 20 dias (está no EP de mesmo nome, com mais três inéditas e três remixes extras), com esse refrão ganchudo e jeitão de que pode pegar fácil. Sei não, hein.

"Don't Sing": possivelmente, um sucesso.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Sunshine On My Shoulders


Os australianos do Miami Horror estão prestes a lançar disco novo: All Possible Futures, sucessor do ótimo debut Illumination (2010), deve sair no final de Abril. Agora influenciado pela "esquisitice ensolarada" da Califórnia (segundo o dono do campinho, Ben Plant), o Miami vem soltando faixas do novo álbum em doses homeopáticas. "Wild Motion", "Real Slow" e "Colours in the Sky" apareceram de um ano pra cá. O novo single, "Love Like Mine", essa semana. Dessas quatro, "Real Slow" é bacana. O resto - incluindo o funk oitentista sem graça de "Love Like Mine" - me faz duvidar que o sol da Califórnia esteja realmente fazendo bem pros rapazes.

"Love Like Mine": sol demais na moleira.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Pino D'Angiò


A ideia foi realmente boa: gravar um rap em italiano usando como base o baixo espetacular do clássico "Ain't No Stopping Us Now", de McFadden & Whitehead. Tenho lá certa desconfiança se a intenção era fazer com que isso soasse como um rap mesmo, já que o gênero havia sido lançado oficialmente em disco apenas um ano antes (1979), com "Rapper's Delight" (Sugarhill Gang), ou se Pino D'Angiò apenas quis declamar a letra da maneira mais galhofeira possível e acabou - sem querer - gravando o primeiro rap europeu da história. Fato é que o pioneirismo e o groove certeiro da experiência renderam à Pino D'Angiò mais de dois milhões de cópias vendidas do single "Ma Quale Idea", lançado em 1980. Bassline copiado nota por nota na era pré-sampler, guitarrinha funky, as palmas substituindo a caixa da bateria e um refrão totalmente pop garantiram um lugar na Galeria dos One Hit Wonders à D'Angiò. Che idea!

Pino D'Angiò: performance canastrona e um hit memorável.