domingo, 20 de julho de 2014

Igapó de Almas


Prepare-se para um mergulho profundo contra a correnteza da parca cena eletrônica brasileira atual. O Igapó de Almas vem do Rio Grande do Norte e conforme o nome do projeto indica (igapó é uma área de floresta que se mantém alagada, mesmo após as chuvas ou as cheias dos rios), reúne múltiplos elementos em suas águas e funde com rara precisão eletrônica e regionalismos em A, seu disco de estreia. Uma "mestiçagem musical", como a banda mesmo define.

Samples intrigantes flutuam na faixa de introdução "Afechadura"; lindas harmonias vocais (de Clareana Graebner) embelezam a riqueza instrumental de "A Bruxa no Trecho", emoldurada por sintetizadores, cellos, efeitos e guitarras limpas.


No enigmático texto recitado na breve "Ao Vomitório", a base funde-se às vozes num entra-e-sai de estática e ruídos sintéticos, até acabar de forma misteriosa. Em "A Maçã", a cantora Laya Lopes define: "meu samba é psicótico, meu baião é enfeitiçado", entre zabumbas e triângulos digitais. "Abruxa" traz guitarras serenas apoiadas por violão e teclados que voam mansamente de um canal pro outro do fone de ouvido. Talvez seja o momento mais desolador e bonito do disco.  

A, o disco, pode ser ouvido inteiro na página do Bandcamp da banda. Confesso que é de difícil categorização, mas isso realmente não importa. O grupo conseguiu realizar um trabalho em que experimenta com ritmos eletrônicos e regionais, psicodelia e música étnica, com letras especialmente bem feitas. E consegue resultados impressionantes, na maior parte do álbum. Conversei por email com integrantes do Igapó de Almas, que explicam melhor o processo:


Desse mix étnico-psicodélico-eletrônico de "A", quais as principais referências musicais da banda?

Sobre essa mistura que você citou e sobre nossas referências, a intenção primeira é construir novas variações musicais, a partir de conexões entre os ritmos étnicos oriundos da cultura brasileira: indígenas, caboclos & afro-brasileiros, juntamente com a psicodelia, o progressivo setentista, e alguns sub-genêros da música eletrônica como o trip-hop, downtempo, etc... Todos os envolvidos no Igapó de Almas são curiosos por sons, timbres, células rítimicas, então estamos sempre buscando.

Quais as fontes dos samples usados no álbum? São extraídos de sons ambientais in loco ou são trechos pré-gravados?

Hmm... sim, alguns samples ouvidos no álbum são sons que captamos in loco, na Floresta Amazônica.

Cinco das doze faixas do álbum tem participações de vocalistas convidados. Qual a solução para os shows?

No show nós contamos com a presença do cantor Tiago Landeira, que interpreta todas as canções. Enquanto que no disco, o processo de gravação das faixas cantadas se deu a partir de encontros em viagens, amizade e parceria.

Vocês sentem proximidade com alguém, musicalmente, na cena independente brasileira?

Nós sentimos uma afinidade com algumas criações da cena independente brasileira, no sentido de desejar realizar conexões. Mas por enquanto estamos à margem dessa mesma cena, uma vez que o material lançado ainda é muito recente. Seria um prazer construir interações musicais com alguém como Tom Zé ou Uakti, por exemplo.

Há planos para lançar "A" numa mídia física, ou o ambiente virtual é suficiente pra divulgar a banda?

O ambiente virtual não é suficiente, devido à efemeridade das relações virtuais. Na internet tudo é muito veloz, isso é positivo, mas também negativo, diríamos paradoxal. No entanto, tudo que tem acontecido até então é fruto do mundo virtual. Existem planos para lançar o álbum "A" num material físico (de preferência vinil). Mas para isso é preciso captar recursos ou estabelecer novas parcerias. Estamos nessa busca...





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