domingo, 5 de julho de 2015

Diversões Eletrônicas



Giorgio Moroder é o Moisés da dance music: com Pete Bellotte, ele dividiu a música de pista em antes e depois de "I Feel Love" (Donna Summer, 1977). Acontece que o inovador e criativo homem por trás de monumentos como "From Here to Eternity" e "E=MC2", é o mesmo que girou os botões da mesa de som em hits de gosto duvidoso de Irene Cara ("What a Feelin'") e Joe Esposito ("Lady, Lady, Lady"), ambas da trilha de Flashdance; Berlin ("Take My Breath Away", que segundo o próprio, é a produção que mais o deixou orgulhoso) e Sigue Sigue Sputnik ("Love Missile F1-11"). Isso posto, não creio que alguém tenha se espantado com o material que este simpático bigodudo apresentou em Déjà Vu, seu décimo sétimo álbum e o primeiro desde Philip Oakey & Giorgio Moroder (1985).

A primeira pista apareceu no final do ano passado, mas era falsa (pra quem esperava um disco inteiro assim). A boa "74 Is The New 24" tem os usuais arpejos de sintetizador, vocoders, pianos e guitarras da sua space disco atemporal, que, de certa forma, o aproxima de pupilos como Lindstrøm e Todd Terje. Moroder estaria, por tabela, soando moderno e totalmente ambientado às eletronices dos produtores atuais.


No começo deste ano, foi a vez de "Right Here, Right Now", com Kylie Minogue nos vocais. Nada muito animador. Me empolguei mais com o andamento durante as estrofes do que propriamente com o refrão. Começava a ficar claro que caminho o disco iria seguir: dance padrão FM, só que um tanto mais contida e sóbria do que a EDM praticada por gente como Avicii (que é incapaz de produzir uma música sem a emporcalhar com bass drops irritantes ou rufos previsíveis de bateria). 


A faixa título, com a cantora e compositora australiana Sia Furler, tem uma grandeza disco explícita nos lindos strings dos sintetizadores e no refrão grudento, perfeito pra passar vergonha na pista:



Procurando bem entre as 12 faixas, ainda dá pra catar bons momentos, como a razoável "Wildstar" (com a britânica Foxes) e "Back and Forth", cujo diferencial está nos vocais particularíssimos de Kelis Rogers.



Bom, o resto de Déjà Vu é dispensável. Desde a breguíssima abertura "4 U With Love" e a escolha dos timbres de sintetizador na linha Casio Tone Bank, passando pela total descartabilidade da dance fuleira "Diamonds" (com Charli XCX) e por faixas que poderiam estar tranquilamente no último do David Guetta ("I Do This for You", "Don't Let Go"), até chegar no crime mor aqui: o péssimo cover de "Tom's Diner" (original de Suzanne Vega, que foi brilhantemente remixada pelo DNA em 1990), com Britney Spears nos vocais.

O que fica de bacana nessa história é que Giorgio Moroder, do alto de seus setenta e poucos anos, parecer estar se divertindo muito com tudo isso - desde sua recente introdução ao mundo da discotecagem até a produção de música nova. E - ninguém é perfeito - vez ou outra ele ainda acerta.

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