segunda-feira, 24 de abril de 2017

Nostalgia Futurista


Voyager, quinto álbum do Vitalic (o produtor francês Pascal Arbez-Nicolas), saiu no começo do ano e parece já ter envelhecido uns dez anos. Na verdade, metade desse tempo se passou desde o último dele, o fraco Rave Age, mas a sensação de déjà-vu é constante durante os 42 minutos do novo disco.

Não que isso seja ruim, afinal não tem nada no techno atual que não soe como reciclagem. O problema - mais uma vez num disco do Vitalic - é que Voyager oscila demais. O techno espacial (evidenciado pela arte de capa, título, temática das canções e timbres usados) perpetrado por Arbez tem ótimos momentos de inspiração eletrônica e nostálgica, como em "Waiting For The Stars", com arpejos pesados de baixo sintético (que impulsionam uma grande canção pop dançante) ou "Levitation", que é mais Chemical Brothers que o próprio Chemical Brothers recente, embora a colisão de sintetizadores tenha me lembrado de cara "It's More Fun To Compute", do Kraftwerk (1981). A tristonha "Hans Is Driving" (com um vocoder lânguido e vocais "reais" de Miss Kittin) caberia em qualquer álbum do AIR e com um bom fone de ouvido é possível ainda perceber sutilezas como um lindo coral celestial no segundo plano. "Use It Or Lose It" também não faz feio, mais enérgica e dançável que a média do disco. Ainda da metade apreciável de Voyager, "Don't Leave Me Now" é um belo encerramento; uma delicada e emotiva faixa (coproduzida por Roger Hodgson, ex-Supertramp), que parece ter sido gravada na solidão-conforto de uma estação espacial. Os maus momentos passam por "Lightspeed" e seu riff de sintetizador grosseiramente baseado em "Funkytown" do Lipps, Inc. (1979), pela viagem prog sem sal de "Nozomi", a pretensão barroca de "Eternity" e a trôpega "Sweet Cigarette".

No fim das contas, ignorando algumas faixas (ou tentando ter mais paciência do que eu tive), Voyager é uma boa audição. Seu lado mais experimental soa árido e pedante, não acho que seja a praia de Vitalic. Já quando ele usa o que parece ser uma bela coleção de sintetizadores vintage para compor canções de inegável apelo pop (como "Waiting For The Stars" e "Don't Leave Me Now"), o resultado é altamente positivo. No mínimo, dá pra dizer que Voyager é bem melhor que seu antecessor e, ao menos, não caiu na vala comum EDM.


 


"Waiting For The Stars": nostalgia futurista.

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