domingo, 21 de junho de 2015

Mágica No Absurdo


O grande mérito do produtor Kölsch está em equilibrar sua tech house numa balança que não pende nem pra EDM rasteira nem pra eletrônica cabeçuda. Seu ótimo debut 1977 (2013) já mostrou de cara como uma produção detalhista combinada com riffs certeiros e pequenas doses de ousadia transformou-se num dos álbuns de dance music mais sólidos daquele ano. Para o desespero dos puristas, o novo 1983 acaba de sair pela Kompakt e pega o bastão justamente onde 1977 largou: techno melódico, com progressões de acordes grandiosas e ganchos poderosos.



1983 é inspirado nas viagens de infância de Kölsch: todos os verões sua família costumava atravessar a Europa de carro rumo ao sul da França, ouvindo os discos preferidos de seu pai no tape deck. Kölsch começou a fazer sua própria trilha sonora (recheada com os então emergentes electro e hip-hop), assim que adquiriu um walkman. A representação sonora das mudanças de clima e cenários percebidas durante os longos períodos de observação enquanto estava sentado no banco traseiro do carro estão muito bem expressas por Kölsch nas 13 faixas de 1983, desde a introspecção com a faixa título de abertura até os vocais melancólicos de Nikolaj Vorsild no encerramento "Papageno".



No meio do caminho, o esplendor das construções melódicas de Kölsch, em sucessões de acordes empilhados de forma ordenada, sempre rumando para cima e expressas em ganchos que tanto podem ser uma linha de baixo ("Pacer") quanto um vocalize onírico ("Two Birds")



Outro acerto de 1983 é a colaboração com o multi-instrumentista e arranjador alemão Gregor Schwellenbach. A parceria rendeu três faixas, com os lindos enxertos orquestrais de Schwellenbach em perfeita sintonia com a eletrônica precisa de Kölsch.



1983 é uma continuação natural de 1977, sem que isso represente mesmice ou adequação. A mágica de Kölsch consiste em transformar temas aparentemente banais em faixas emotivas, numa montanha-russa de sensações que vão da euforia de uma pista de dança encharcada de suor à solidão-conforto de uma autoestrada percorrida com o deslumbramento típico de paisagens de tirar o fôlego. A tapeçaria sonora tecida por Kölsch cumpre a tarefa de descrever essa viagem com perfeição, algo digno de um artesão de mão cheia como o produtor dinamarquês.

"The Road": Kölsch impressiona com mais um discaço.

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