Originalmente composta por Bruce Springsteen no final de1977, "Because The Night" não agradou o Boss. A música foi cedida a Patti Smith,
que fez alguns retoques na letra, gravou e lançou como single no ano
seguinte. Virou hit e tornou-se uma das canções mais conhecidas da
cantora americana. Em 1993, a faixa volta pras paradas com a versão do 10,000 Maniacs
para o seu MTV Unplugged. Vários artistas já tiraram uma casquinha de
"Because The Night", incluindo aí Sonic Youth, Garbage, KT Tunstall, Kim
Wilde... e o Co.Ro. E antes que você acuse o projeto italiano de
eurodance de tentar pegar carona no sucesso do 10.000 Maniacs naquele
começo dos 90, saiba que o single do Co.Ro foi lançado um ano antes do
cover feito pela banda de Natalie Merchant.
A sacada do trio Emanuele Cozzi, Jay Rolandi e Maurizio Rossi foi boa. Aproveitou o momento de alta popularidade da house europeia, pinçou uma música do catálogo de Patti Smith que já nasceu clássica e transformou isso num hitaço de pista. As ideias pra essa versão funcionam muito bem, desde os samples cirurgicamente inseridos de "Master And Servant" do Depeche Mode, o climão dramático e os vocais potentes e testosteronizados de Emanuela Gubinelli (Taleesa). Foi um dos melhores momentos da eurodance, que entraria em declínio antes do final daquela década.
"Because The Night": cover acima da média Euro House.
Dois anos depois de seu single mais recente (Unterwelt), a banda de um homem só Suicide Commando - cria do belga Johan van Roy - volta a ativa. O recém lançado EP The Pain That You Like vem com duas inéditas (a faixa título, mais "Crack Up") e cinco remixes. O veterano van Roy (na cena EBM desde a segunda metade dos 80) abraça forte o electro-industrial, com a bateria marcial característica, linhas de baixo pesadas, vocais nervosos e aqueles enxertos derivados do trance provavelmente extraídos de algum Roland JP-8000. "The Pain That You Like (Pleasure & Pain Remix)" é muito semelhante ao original, mas me surpreendi mesmo é com a versão suingada dos noruegueses do Pride And Fall, boa pra dançar com o nariz colado na parede. The Pain That You Like deve agradar em cheio os fãs do gênero e mesmo pra quem não acompanha muito de perto esse povo esquisitão da EBM, como eu, fez cosquinha na sola do pé.
"The Pain That You Like": seria hit fácil no Crepúsculo de Cubatão.
"Remix é super interessante porque é a ideia que outra pessoa tem sobre um trabalho que não importa quem fez. O jeito que fica é que é importante. Cada um tem um jeito de contar a mesma história."
Assim nosso camaleão mor do pop nacional Lulu Santos sabiamente definiu na vinheta de onze segundos "Speech", seu disco Eu E Memê, Memê E Eu, produzido em 1995 pelo DJ Memê e recheado com remixes, regravações e faixas inéditas.
Álbuns de remixes são prática comum há bastante tempo e não estamos falando somente de artistas ligados à eletrônica. De The Cure (Mixed Up, 1990) a Philip Glass (REWORK_Philip Glass Remixed, 2012), muita gente caiu em tentação e jogou sua carreira nas mãos de aventureiros, com resultados ora desastrosos (caso do Cure) ora sublimes (no disco de Glass). Mas e quando, ao invés de apenas juntar sucessos ou faixas com alguma coerência entre si pra mandar pra sala de cirurgia, a ideia é refazer um álbum de inéditas, inteiro, o que justifica? Insatisfação com o resultado final do original? Uma segunda chance para canções subestimadas? Uma simples adequação ao mercado? Curiosidade em saber como a obra soaria na visão de outra(s) pessoa(s)? Obviamente, não tenho a resposta, mas pode ser um pouco disso tudo. Não conheço muitos casos em que um disco de remixes superou a matriz. Talvez a versão post-dubstep de Jamie xx para I'm New Here (2010) de Gil Scott-Heron (We’re New Here, lançado no ano seguinte) seja um dos poucos exemplos. O dubismo de Mad Professor retrabalhando em No Protection (1995) o já ótimo Protection (1994), do Massive Attack, também é inesquecível. E as versões completamente reconstruídas de Telegram (1996), da Björk, são melhores que as do clássico Post (1995)?
Bom, os noruegueses do Flunk acharam que tinha a ver entregar seu álbum mais recente Lost Causes (2013) pra um povo que eu nunca ouvi falar, aperfeiçoar. E que ótimo o fato de tanta gente desconhecida conseguir produzir um disco de remixes sólido, diverso e muito melhor que o original. Isso prova por A mais B que nome não ganha jogo. E ainda teve a ótima sacada do nome do projeto - Deconstruction Time Again - uma alusão ao álbum do Depeche Mode Construction Time Again, de 1983. Começou bem.
No processo de recauchutagem, vemos a indietrônica do Flunk forrada com graves rechonchudos e vocais recortados e reinventados para uma nova forma de cantar, mesmo que o downtempo característico da banda não seja alterado ("Queen Of The Underground").
"Awkward", ganha duas versões: a sombria Dogg Edit - com uma linha de baixo subterrânea - e a eletrônica inclassificável de Luca Bluefire.
O rock com contornos de Cocteau Twins de "Sanctuary" também aparece em duas novas interpretações: é transformado numa house elegante (Nosak Remix) e em leftfield (Wappaa Remix).
"Personal Stereo" e "On My Balcony" não pertencem a Lost Causes, são de trabalhos anteriores do Flunk. Em Deconstruction, foram remixadas por Jean Claude Ades e Sandro S, respectivamente. Curiosamente, são dois remixes que só tornam dançáveis as originais e destoam do alto teor de criatividade embutido no resto do trabalho.
Ainda digno de nota: o belíssimo arranjo de cordas e a percussão encaixada em "Down" (Knights of Ygit Refill) e o drum'n'bass alucinado de "Love And Halogen" (Subversive Boy Rework).
Deconstruction Time Again provavelmente não vai tirar o Flunk do semi anonimato, mas certamente é uma ótima introdução ao som desse grupo que, pode ter certeza, merece sua atenção.
"...Baby One More Time" - single de estreia de Britney Spears - saiu no finalzinho de 1998 e, além de ter vendido mais de dez milhões de cópias, ter uma pá de certificações, prêmios e reconhecimento, possui outra marca em especial, que me impressiona muito: chegou ao primeiro lugar em todos os países em que entrou na parada oficial. É um marco do pop juvenil, foi coverizado por gente tão díspar quanto a musa alternativa Tori Amos e os indies do Travis e, finalmente, é uma grande canção pop composta e produzida pelo Midas sueco Max Martin (que só tem menos hits no número um da Billboard que Paul McCartney e John Lennon). Sem essa de guilty pleasure: essa eu curto sem culpa.
Espero que a penúltima do Hurts (a decepcionante "Some Kind Of Heaven") seja só a pior do novo álbum. Semana passada a dupla inglesa subiu no Youtube a nova "Rolling Stone" e as coisas melhoraram sensivelmente. Timbres irregulares de sintetizador, bela sessão de cordas, climão dramático e a estética do desespero explorada com maestria num refrão arrebatador. Ingredientes que (quase) sempre rendem boas canções technopop.
E aquela piada que diz que se você entregar 100 TB-303 para 100 chimpanzés, vão sair ao menos 70 boas faixas de acid house? O exagero do percentual é proposital, claro. Uma sacanagenzinha vinda de gente que acha que o emulador de baixo da Roland faz tudo sozinho. Originalmente produzido para acompanhar guitarristas em suas práticas solitárias, o sintetizador/sequenciador foi um fracasso de vendas. Adotado por produtores e DJs da então emergente cena house de Chicago, tornou-se a máquina que mudou a cara da música de pista no meio dos 80. John Frusciante começou a mexer a sério com este e outros instrumentos eletrônicos há cerca de oito anos. Os primeiras registros das experimentações só viriam quase um ano depois, até chegar no EP Sect In Sgt, de seu projeto eletrônico Trickfinger, em 2012 - uma colagem desordenada de samples e beats com resultado superficial e cansativo.
O álbum de estreia do Trickfinger, autointitulado, saiu no começo de Abril e comprova que o ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers é um aluno aplicado. Completamente diferente do EP anterior, as oito faixas mostram uma franca evolução em relação a aridez experimental de três anos atrás. São faixas instrumentais com estrutura definida e uma certa obsessão por ferramentas vintage - o que deixa tudo com cara de house e electro oitentista. O problema é que não sei dizer se é bom um disco que causa uma sensação de déjà vu constante, mas que foge completamente da memória pouco tempo depois. São ensaios interessantes com riffs, batidas e texturas, mas, verdade seja dita, não fazem mais do que imitar as produções de subgêneros de eletrônica de quase trinta anos atrás e, em alguns momentos, soam como mero pastiche, mesmo. Por esse aspecto, melhor fuçar no catálogo da Trax Records, que as surpresas vão ser mais agradáveis, garanto.
A falta de diversidade e a repetição de temas quase me convence de que a piada do começo do texto não é tão absurda assim - especialmente em faixas que beiram o amadorismo, como "Sain" - embora eu entenda que não dá pra exigir muita variedade com o uso de tão pouco equipamento. E é aí que entra o talento e a criatividade do cara envolvido no processo pra construir um Empire State Building com número reduzido de tijolos. As tentativas são dignas de admiração, mas na maioria das vezes evidenciam que Frusciante ainda tem um caminho longo a percorrer até chegar a algo convincente.
Não que eu ache que as melhores coisa do disco sejam mero acaso: a linha de baixo monocórdica com arpejos acontecendo em segundo plano de "After Below" é fruto de uma mente que pensa em como a combinação desses elementos e a escolha certa dos timbres pode soar bem aos ouvidos.
Trickfinger só causa algum espanto em desavisados como eu por ter sido produzido por um cara que até bem pouco tempo, só esmerilhava objetos de seis cordas. A frustração diz respeito ao fato de John Frusciante não ter conseguido repetir com os botões o incrível talento que tinha pra compor melodias simples e certeiras na guitarra do Chili Peppers.
Crystal Castles segue com Ethan Kath e a nova vocalista Edith, soltou duas (boas) músicas recentemente e vem álbum novo aí. Ex-titular do microfone, a gataça Alice Glass subiu no Soundcloud essa semana sua nova empreitada solo, a faixa "Stillbirth". Disponível a partir de hoje em sites como iTunes e Spotify, a renda obtida com a venda do single vai para organizações sem fins lucrativos que ajudam sobreviventes de violência doméstica, violência sexual e incesto (conforme informa o site da cantora). "Stillbirth" é pesadíssima, com estrutura nada convencional e alterna momentos de calmaria com toneladas de distorção e efeitos. Bem interessante.
Tom Waist e Zip Stolk gravam como Homework desde 2010. Já foram cerca de dez singles e eu só fui conhecer o trampo da dupla holandesa em Palindrome 1, que acabou de sair pelo micro selo nova-iorquino LPH WHITE. Não sei como são as outras faixas (tempo pra caçar tá escasso), mas em Palindrome 1, o negócio pega pesado em sintetizadores oitentistas e Chicago house de boa cepa. Das quatro músicas, só "The Way Back" destoa: riff de teclado meio fatigante e uma base sem graça. As outras três são muito boas. Tem a placidez da deep "Yakushima Dreams", os sintetizadores congelantes de "Nonlinear Collapse" (com acento acid proporcionado pela breve aparição de um TB-303) e, a melhor do EP, a faixa título "Palindrome 1". Baixo revestido com grossas camadas de látex, timbres de teclado muito bem calibrados e bleeps techno cuidadosamente espalhados. E tem o vídeo que é uma nostalgia só.
Dia desses tava de papo com o grande Thiago Giardini e ele me mostrou uma faixa que eu não conhecia (Datura, "Voo-Doo Believe"), house com a base toda chupada do remix de Todd Terry para "Missing", do Everything But The Girl (1994). Logo começamos a lembrar de outra dance track que usou o truque, e mais outra... até dar nesse post. Pra se ter ideia do quanto o maravilhoso remix de Terry pra bela canção de Ben Watt e Tracey Thorn levou muita gente a adotar o padrão house classudo do DJ e produtor americano na segunda metade dos anos 90, aqui vão alguns exemplos dignos de nota (para o bem e para o mal):
Primeiro, a matriz - que foi o divisor de águas na carreira da dupla inglesa:
Everything But The Girl - "Missing" (Todd Terry Club Mix) (Blanco Y Negro, 1994)
Grande refrão pop da dupla italiana. Pequenas variações de teclado lá no fundo, mas as baterias foram Control C + Control V. A faixa tem outras versões, mas a que sampleia Todd Terry é essa "Baron Samedi" aí.
Streetnoise - "Horse With No Name" (Club Mix 1) (MCI, 1996)
Gosto demais. Um cover do clássico soft rock do America transformado em hit de pista pelos alemães do Streetnoise. As harmonias vocais do refrão são sensacionais.
Real System - "There Is No More Love (Real Groove Extended Mix)" (Bianco & Nero, 1996)
Mais italianos. Euro house safada de venenosa com vocais qualquer nota de uma tal Antonella Mare. Notou a piada no nome do selo?
Outra do selo do picaretaço Frank Farian (Boney M, Milli Vanilli). Curiosamente, o primeiro single do No Mercy é justamente um cover de "Missing", do EBTG. Depois do desempenho modesto nas charts, o grupo não se deu por vencido. Repetiu a base de Todd Terry em outro cover ("Where Do You Go", desta vez do projeto eurodance La Bouche) e foi um estouro, Top 5 nos paradões de mercados fortes como Alemanha, Austrália, França, Reino Unido e Estados Unidos. Uau.
Ex-modelo e dublê de cantora, a inglesa Tina Cousins gravou vários singles pelo selo do DJ Paul Taylor e do produtor Pete Waterman (do trio Stock, Aitken & Waterman). Vergonhoso.
Sentido horário, de cima para baixo: Parallels, IAMX, Hurts e Little Boots.
Uma das grandes vedetes dos anos 80, o synthpop, continua firme no imaginário dos inabaláveis amantes de sintetizadores da atualidade e... não, espera. Tem gente aí que está se livrando aos poucos do rótulo. Abaixo, quatro faixas recentes de artistas que ainda não chegaram lá (onde?).
Parallels
A persistência e a tenacidade do Parallels é comovente. Já
gravou dois álbuns, já lançou cinco singles, ainda não fez uma música realmente digna de nota (OK,
gosto um tanto assim - junta o polegar ao indicador - de "Dry Blood"),
não tem nenhum hit, está na ativa desde 2007 e, mesmo assim, não desiste. Acabaram de lançar (por conta própria) o EP Civilization, com quatro faixas inéditas, um cover fiel do New Order ("Age Of Consent") e um remix. Infelizmente, não é com esse disquinho que a história dessa banda canadense
vai mudar.
Hurts
O duo britânico formado por Theo Hutchcraft (vocais) e Adam Anderson (guitarras, sintetizadores) tem, até agora, dois álbuns: o primeirão (autointitulado, de 2010) foi promissor, especialmente pelos ótimos singles "Wonderful Life" e "Better Than Love", mais uma e outra faixa. O segundo, Exile, de 2013, mostrou a transformação do Hurts numa espécie de sub-Coldplay, desesperado pra viralizar um hino de estádio. A nova faixa, "Some Kind of Heaven", com toda pompa e pretensão do mundo, comprova que o Hurts não passou de mera curiosidade passageira, mesmo.
Little Boots
Victoria Hesketh vem tentando. Pro conteúdo não mais do que mediano, até que ela ganhou muito espaço com o debut Hands, de 2009, um disco que fez um burburinho razoável. Desvencilhando-se aos poucos da hashtag synthpop, não passou no teste do segundo álbum (Nocturnes, 2013, que foi esquecido mais rápido do que o primeiro) e agora reaparece com Working Girl, com o mesmo dance pop que a Kylie Minogue vem fazendo há vinte anos. Algumas faixas bacanas de house ("Heroine", "Working Girl", "No Pressure") dividem espaço com bobagens do calibre de "Taste It". Tem até samplezinho de "Genius Of Love" (Tom Tom Club) em "Better In The Morning", vai vendo.
IAMX
Projeto solo de Chris Corner (vocalista do finado Sneaker Pimps), o IAMX mantém firme a proposta rock alternativo/synthpop que vem praticando desde 2004. Com letras abrangendo preferencialmente sexo, decadência, religião, política, alienação e morte, o IAMX tem álbum novo prestes a ser lançado (Metanoia, o sexto da carreira) e já soltou uma amostra mês passado, o bom single "Happiness" - que mostra o quanto Corner canta bem, a despeito do instrumental simples.
Os gaúchos do DeFalla mudaram mais vezes de formação ou de sonoridade desde seu aparecimento, em 1985? Difícil dizer. A banda já arriscou com hard rock, funk, hip-hop, heavy metal, big beat, hardcore melódico, miami bass... e devo estar esquecendo muita coisa. Tendo sempre o inquieto Edu K na linha de frente (exceto quando o vocalista saiu em carreira solo em 1995 e foi substituído por Tonho Crocco, no álbum Top Hits), o DeFalla perseguiu um hit em escala realmente abrangente por quinze anos, até que - surfando nos respingos do então ascendente funk carioca - "Popozuda Rock 'n' Roll" caiu nas graças da molecada. É uma faixa divertida, dançante e com um riff de guitarra que parece ter sido tocado por Angus Young. Os fãs xiitas torceram o nariz, mas era tarde demais: a música estava em todas as rádios e TVs do Brasil em 2000.
Depois da flopada do single "Boy Lixo", trap de Edu K lançado no final do ano passado, o DeFalla já planeja disco novo ainda pra 2015. Impossível saber pra onde a banda vai se jogar.
"Popozuda Rock 'n' Roll": riff seco na batida do Miami pancadão.
Giorgio Moroder é o Moisés da dance music: com Pete Bellotte, ele dividiu a música de pista em antes e depois de "I Feel Love"
(Donna Summer, 1977). Acontece que o inovador e criativo homem por trás de monumentos como "From Here to Eternity" e "E=MC2", é o mesmo que girou os botões da mesa de som em hits de gosto duvidoso de Irene Cara ("What a Feelin'") e Joe Esposito ("Lady, Lady, Lady"), ambas da trilha de Flashdance; Berlin ("Take My Breath Away", que segundo o próprio, é a produção que mais o deixou orgulhoso) e Sigue Sigue Sputnik ("Love Missile F1-11"). Isso posto, não creio que alguém tenha se espantado com o material que este simpático bigodudo apresentou em Déjà Vu, seu décimo sétimo álbum e o primeiro desde Philip Oakey & Giorgio Moroder (1985).
A primeira pista apareceu no final do ano passado, mas era falsa (pra quem esperava um disco inteiro assim). A boa "74 Is The New 24" tem os usuais arpejos de
sintetizador, vocoders, pianos e guitarras da sua space disco atemporal, que, de certa forma,
o aproxima de pupilos como Lindstrøm e Todd Terje. Moroder estaria, por tabela, soando moderno e totalmente ambientado às eletronices dos produtores atuais.
No começo deste ano, foi a vez de "Right Here, Right Now", com Kylie Minogue nos vocais. Nada muito animador. Me empolguei mais com o andamento durante as estrofes do que
propriamente com o refrão. Começava a ficar claro que caminho o disco iria seguir: dance padrão FM, só que um tanto mais contida e sóbria do que a EDM praticada por gente como Avicii (que é incapaz de produzir uma música sem a emporcalhar com bass drops irritantes ou rufos previsíveis de bateria).
A faixa título, com a cantora e compositora australiana Sia Furler, tem uma grandeza disco explícita nos lindos strings dos sintetizadores e no refrão grudento, perfeito pra passar vergonha na pista:
Procurando bem entre as 12 faixas, ainda dá pra catar bons momentos, como a razoável "Wildstar" (com a britânica Foxes) e "Back and Forth", cujo diferencial está nos vocais particularíssimos de Kelis Rogers.
Bom, o resto de Déjà Vu é dispensável. Desde a breguíssima abertura "4 U With Love" e a escolha dos timbres de sintetizador na linha Casio Tone Bank, passando pela total descartabilidade da dance fuleira "Diamonds" (com Charli XCX) e por faixas que poderiam estar tranquilamente no último do David Guetta ("I Do This for You", "Don't Let Go"), até chegar no crime mor aqui: o péssimo cover de "Tom's Diner" (original de Suzanne Vega, que foi brilhantemente remixada pelo DNA em 1990), com Britney Spears nos vocais.
O que fica de bacana nessa história é que Giorgio Moroder, do alto de seus setenta e poucos anos, parecer estar se divertindo muito com tudo isso - desde sua recente introdução ao mundo da discotecagem até a produção de música nova. E - ninguém é perfeito - vez ou outra ele ainda acerta.
Um sampler na mão e ótimas ideias na cabeça. Foi assim que os produtores Daniele Davoli, Mirko Limoni e Valerio Semplici estouraram no mundo inteiro com o Black Box, na virada dos 80 pros 90. Se a italo house foi o gênero mais dançado nas pistas nesse período, este trio tem boa parcela de responsabilidade. Pra dar vazão a tanta criatividade, montaram o grupo Groove Groove Melody e lançaram vários singles sob diferentes nomes. Além do próprio Black Box, fizeram sucesso com o Starlight ("Numero Uno", 1988), The Mixmaster ("Grand Piano", 1989) e Rosso Barocco ("Do-Do-Don't Stop", 1989).
A jogada com o Rosso Barocco era o som característico de suas produções: sintetizadores emulando lindas sessões de cordas, pianos saltitantes e samples certeiros. A amostra principal de "Do-Do-Don't Stop" (a voz repetindo esse trecho) vem do clássico funk sintético de 1982 "Reach Up", de Toney Lee (também sampleado pelo Phats & Small em "Turn Around"). Já o surrado "Can You Feel It", foi extraído do álbum Jacksons Live!, de 1981. Nem preciso dizer o quanto esse blend deu certo.
Ethan Kath subiu hoje no Soundcloud mais uma faixa que deve estar no próximo álbum do Crystal Castles (a primeira foi "Frail", em Abril). Com o provocador título "Deicide", a canção é o Crystal Castles clássico (se é que dá pra dizer isso de uma banda tão nova): sintetizadores lúgubres planando ameaçadoramente, um riff trance certeiro, bumbo pesado e os vocais etéreos da misteriosa Edith. Por enquanto, duas músicas ótimas. E, mais importante, nenhum resquício de saudosismo em relação a Alice Glass.
"Deicide": as coisas vão se encaminhando muito bem.
Se o disco mais recente do Duran Duran (o razoável All You Need Is Now, de 2010) vampirizava a própria obra do grupo (o fenomenal Rio, de 1982), a nova "Pressure Off" parece sobra de estúdio de Notorious (1986). Funk rock musculoso, turbinado pela guitarra de Nile Rodgers (coincidentemente, o produtor de Notorious) e pelos vocais adicionais de Janelle Monáe, a faixa vai estar no novo álbum do quarteto, Paper Gods, agendado pra Setembro. O grupo subiu "Pressure Off" no Youtube há coisa de uma semana e tem pouco mais de cem mil visualizações. Não creio que isso vá virar single, não vi potencial. Com otimismo: espero um álbum melhor que essa amostra.