sábado, 11 de maio de 2013

Soothing Dancers


Fãs fundamentalistas podem fazer beicinho que não adianta. Há uma verdade incontestável na carreira do Depeche Mode: boa parte da sua popularidade é baseada sim no material dançável da banda. Mesmo que Alan Wilder tenha declarado à época do lançamento do polêmico single "Blasphemous Rumours" (1984) que o grupo "não fazia mais música simplesmente para dançar", o Depeche empilhou hits de pista nos seus mais de trinta anos de atividades. Tanto que dois anos depois, a Sire - gravadora responsável pelo catálogo do grupo nos Estados Unidos na ocasião - optou por promover "But Not Tonight" (mais pop e dançante) como primeiro single de Black Celebration, ao invés de "Stripped", o que mostrou-se uma decisão duplamente errada: além de desagradar a banda, o single foi um fracasso. Corta pra 2013: ficou perguntando onde está aquele Depeche fornecedor de combustível para as danceterias em Delta Machine (álbum mais recente, lançado em Março)? Bom, a resposta vem em forma de remixes oficiais e fresquinhos, que começam a brotar.


"Oficiais" por que você sabe que o Depeche atrai uma cambada de aventureiros que se metem à remixadores com seus softwares envenenados e idéias manjadas, a cada lançamento. Centenas de remixes fuleiros aparecem todo dia na rede, então nada mais justo do que deixar o próprio grupo escolher quem vai meter a mão na sua obra e botar isso no mercado com uma embalagem mais atraente (e ainda ganhar algum trocado com o negócio). O CD maxi-single de "Soothe My Soul" vem com seis versões da canção. E já começa mal. Então o Depeche é extremamente cuidadoso com o repertório atual, busca uma (difícil) fusão - que seja convincente - de blues com eletrônica e entrega uma faixa pro greco-sueco Steve Angello, um dos maiores picaretas da dance music atual? Angello, além da música puramente comercial e ordinária que faz com o seu Swedish House Mafia (junto com Axwell e Sebastian Ingrosso), ainda comete - suprema vergonha! - uns DJ sets onde finge mixar, com aquela cara de pau de quem está muito feliz com as moedas tilintando na bilheteria, acredite. Bem, ele divide a mesa de som com o respeitável Jacques Lu Cont (Stuart Price), e fica bem claro onde cada um trabalhou: Stuart segura o ímpeto farofeiro de Angello até chegar perto dos dois últimos minutos do remix, mas depois não tem jeito, a canção transforma-se numa electro house exagerada e medíocre. Tom Furse (baixo e sintetizadores do The Horrors) aproveita somente o refrão da letra e incorpora alguns teclados à melodia, sem alterar o andamento original. O guitarrista Billy Gibbons (ZZ Top) sacou o espírito e injetou riffs blueseiros, num trabalho em conjunto com o produtor Joe Hardy, que limpou os timbres de bateria. A melhor idéia do jovem francês Joris Delacroix foi transformar Martin Gore num cantor de blues dos anos 30, em sua versão tech house apenas eficiente. Bryan Black (Black Asteroid) subverte "Soothe My Soul" e apaga tudo até restar apenas os vocais; o resto é preenchido por um baixo furioso, ruído e distorção. O alemão Gregor Tresher arrisca e se dá bem com sua boa reinvenção de bateria, uma linha de baixo criativa e sintetizadores bem ao gosto do Depeche. As interpretações de Tresher e da dupla Gibbons / Hardy acabam sendo as únicas dignas de nota nesse segundo single de Delta Machine. Acho que o Depeche precisa escolher melhor os artistas a quem vai confiar suas composições.

"Soothe My Soul (Gregor Tresher Soothed Remix)": um dos poucos acertos.

2 comentários:

  1. Fato é que na hora de escolher os remixes, a banda e a gravadora pensam MESMO no que vai bombar nas pistas. do mais bagaceiro ao mais conceitual. Por isso que vem tantos remixes. Um para cada gosto.

    "Soothe my soul" não foi escolhido como segundo single e lançado em maio a toa. É pra ser "summer club hit" na europa.
    Tentaram isso com I Feel Loved e emplacou até certo ponto. Mesmo que não tenha agradado aos fãs.

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  2. Concordo contigo. Steve Angello é um chinelão, mas admito que ele sabe vender a música pra quem nem sabe quem a banda é.

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