O dinamarquês Kasper Bjørke dividiu Fool - seu novo álbum - em dois lados, como num disco de vinil. O lado A é o Hungry Side, canções pop-eletrônicas montadas no esquema tradicional do estrofe-refrão. O lado B é o Foolish Side; onde o DJ, produtor e empresário resolveu experimentar timbres, efeitos e ritmos que não caberiam num formato pop. Temas instrumentais com ênfase nas guitarras (como nos mais de nove minutos de palhetadas lânguidas de "D.O.A.H."), climão space-disco ("Bohemian Soul"), vibrafones sintéticos ("US Escape") e até indie dance com baixo de verdade ("Mansisters").
O Hungry Side leva ligeira vantagem, não só porque é mais fácil de ouvir. Nestas quatro primeiras faixas Kasper Bjørke estabelece uma parceria com o excelente cantor (também dinamarquês) Jacob Bellens que faz toda diferença. Seu timbre grave e ligeiramente áspero casa com perfeição com as bases inspiradíssimas que Bjørke criou nessa fusão eletro/análoga que é a primeira metade de Fool. O single "Lose Yourself To Jenny" é o melhor exemplo disso: synthpop bubblegum com sintetizadores felizes e melodia assoviada. "Sunrise" tem aquela progressão de acordes de baixo eletrônico - o onomatopéico "dugu-dugu-dugu-dugu" - suficiente pra dobrar o poder do refrão, enquanto "Deep Is The Breath" (dueto vocal de Bellens e Emma Acs) é puro ABBA e Erasure pré-1992 numa canção que poderia ser finalista do Eurovision. O álbum encerra com os pianinhos house e o refrão amigável de "Hand In The Beehive" (outra da dupla Bellens/Bjørke), uma das três faixas-bônus do disco. Eletro pop ou experimental, Kasper Bjørke cometeu um discão.
Fool: tem pra todos os gostos.