quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Drums Without Drums


 Depois de um álbum de estréia elogiado e bem sucedido comercialmente, uma tour que foi da Coréia ao Brasil, o guitarrista Adam Kessler pedir o boné em Setembro do ano passado e a banda quase encerrar atividades em Junho desse ano, os nova-iorquinos do The Drums conseguiram parir o segundo disco.  


E que beleza de disco. Portamento saiu no comecinho de Setembro com essa capa incômoda aí acima, que lembra mais uma certa identidade visual de artistas de witch house do que um grupo indie pop. Mesmo com músicas de estrutura simples e a sensação de que o trio ainda está aprendendo a dominar os instrumentos, não deixa de ser empolgante ouvir uma bateria com aquele bumbo esquisito de "Blue Stripes" ou as rufadas de caixa e chimbau de "I Need A Doctor". Aliás, segundo informação que consta no encarte do CD, o responsável pela bateria é o vocalista Jonathan Pierce, mas curiosamente todos os elementos percussíveis que aparecem nas 14 faixas me cheiram à programação eletrônica. O sintetizador é outro fator (bem) explorado em Portamento. A opção por timbres adequados e contidos leva o refrão da cinzenta "If He Likes It Let Him Do It" para outro plano, cria um baixo postiço em "Hard To Love" ou fornece uma confortável sustentação para o pop de "How It Ended". Portamento traz ecos de New Order especialmente nos baixos palhetados peterhookianos de faixas como "Days", The Smiths nas guitarras melódicas e limpas e mais claramente no estilo Morrissey de cantar de Pierce nos versos iniciais do irônico single "Money" e ainda The Beach Boys como referência óbvia nas harmonias vocais de "What We Had" ou em qualquer backing vocal contido no disco. Cativante e melancólico em doses iguais, Portamento é o retrato de uma banda tão jovem quanto o seu público que entendeu a mágica do negócio ao entregar mais um punhado de canções aprazíveis, sem afetação e sem fusões malucas pra chamar atenção. Sério candidato pro meu Top 10 do ano.

"If He Likes It Let Him Do It": refrão que explode em darkismo.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pinguim à Solta


O nova-iorquino Chris Glover começou cedo. Aos 10 anos cantava num coro gospel, aos 11 já gravava jingles, aos 12 aprendeu a tocar guitarra e entrou de cabeça no punk rock - ainda adolescente montou uma banda e tocou até no lendário CBGB. Com gosto musical bem variado, Glover (fã de country), formou uma boy band que era um "cruzamento de Backstreet Boys com Beastie Boys", segundo o próprio. A partir de uma certa repercussão com o projeto, Chris enviou um CD com suas composições ao rapper Q-Tip do A Tribe Called Quest, que o convidou para uma visita à Interscope. Lá, gravou um álbum que refletia todo o seu ecletismo, mas a própria gravadora não soube exatamente como posicionar o produto no mercado. A partir de 2009, Glover assume o pseudônimo Penguin Prison e começa a trabalhar com remixes - caracterizando-se por apagar todo o instrumental da faixa, deixando somente os vocais e começando do zero. Os trabalhos incluem nomes como Marina & the Diamonds, Goldfrapp e Jamiroquai. 


Com esse know-how todo, Penguin Prison estréia num álbum autointitulado e irretocável. Gravado no estúdio caseiro de Chris e concluído em Londres com o produtor Dan Grech-Marguerat (Paul McCartney e Radiohead no currículo), o disco é uma belíssima coleção de canções pop. Usando sintetizadores analógicos sem gosto de música requentada, Glover abre o disco com a primeira da série de letras sarcásticas, "Don't Fuck With My Money"; acrescentando gemidos "Uh! Yeah!" que evocam Michael Jackson e mostrando que estudou e realmente aprendeu a cantar. "Multi-Millionaire" (que é sobre "...ser rico, mesmo se você não tem dinheiro...", segundo ele) cruza violões, violinos, teclados e guitarras limpas num encontro imaginário entre The Associates e Erasure. "Golden Train" é a faixa que mais se aproxima da disco music no álbum e foi também a primeira a ser composta por Glover para o Penguin Prison. Aqui há o truque infalível e contagiante das palmas na marcação rítmica somadas às quatro cordas grossas do baixo percorrendo uma trilha sinuosa no meio dos sintetizadores e do falsete de Glover. Em meio a tanta sofisticação, "Desert Cold" chega a ser engraçada: os timbres dos teclados são tão manjados que parecem vir daquele Casio Tone Bank da sua sobrinha, mas são pura ironia frente à finésse do refrão. Aliás, os refrãos são um capítulo à parte no álbum e o ponto alto acontece no pop perfeito de "The Worse It Gets". Me impressiona o esmero com que Chris Glover esculpe uma obra-prima de bolso de três minutos onde tudo é pensado para colocar um sorriso de satisfação no nosso rosto durante a execução: o teclado martelado como se Jerry Lee Lewis fosse um artista synthpop, o refrão grudento e o solo ensolarado de guitarra como cereja do bolo no final. Definido por Glover como um álbum "sobre relacionamentos, amor e ódio que você pode dançar", Penguin Prison é um produto pop extremamente bem acabado e feito por um compositor talentoso que praticamente já nasce pronto em sua estréia em disco. Début do ano.

"The Worse It Gets": diamante pop.



domingo, 25 de setembro de 2011

Björpple


Já ouviu Biophilia, o novo projeto de Björk? Sim, porque aqui a coisa estrapola o limite do "disco", como nós conhecíamos até hoje. As faixas de "Biophilia" virão - além do formato físico em CD - na forma de aplicativos para iPad e inclusive foram, em parte, gravadas no tablet da empresa de Steve Jobs. A parceria com a Apple renderá jogos interativos e músicas remixáveis para quem se dispor a pagar por cada uma delas.


Biophilia, o disco... complicado, viu? Ela continua inquestionavelmente cantando tão bem - ou melhor - do que aquela Björk do Sugarcubes que fez de "Birthday" uma obra-prima (em "Crystalline"), há momentos de delicadeza e sensibilidade de fazer diminuir a pulsação do mais vândalo dos Hooligans ("Virus" é um bom exemplo) e há uns ataques de tambores de video-game bem nervosos ("Mutual Core"), mas no geral, temo não ter entendido o álbum. Ou porque tenho um bode tremendo de projetos como esse, que nascem com o carimbo de Grande Arte na capa; ou porque não tenho a sensibilidade necessária para compreender parte da obra solo de Björk; ou porque não tenho - nem pretendo ter - um iPad pra tornar essa experiência completa. Na dúvida, fico com os três motivos.

"Crystalline": Michel Gondry criativo como sempre.



O Rouxinol dos MCs


Andavam meio sumidos os  Stereo MCs. Não pararam de gravar discos (o mais recente, Double Bubble, é de 2008), mas a falta de hits tem o seu preço. Eu não ouvia nada de relevante da banda desde 1992 e o fantástico Connected; um disco orgânico, cheio de balanço, sexy e que sampleava até a coisa-nossa Gal Costa (!) na faixa "Sketch". Fora que "Step It Up" (foi trilha de novela Global, inclusive) e a faixa-título estouraram em nível planetário. "Connected" é irresistível: a base toda extraída do clássico funk "Let Me (Let Me Be Your Lover)" de Jimmy Bo Horne parece ter sido feita na medida para o vocal chapado de Rob Birch.  


O trio inglês soltou mês passado Emperor's Nightingale, e nesse álbum a eletrônica passa sem dó por cima do hip-hop desengonçado do começo da carreira da banda. Há várias referências de música de pista reconhecíveis no disco, mas um filtro digital poderoso no acabamento das faixas acabou deixando o resultado final um pouco frio e à léguas de distância daquele mesmo grupo que usava uma sessão de cordas e um naipezinho de metais de verdade no começo dos 90. Mesmo assim, Emperor's traz boas amostras de drum'n'bass em "Far Out Feeling", indie-dance em "Sunny Day", house em "Tales", e um raggamuffin' cibernético em "Bring It On". Boa candidata a hit é "Manner" (pelo menos é a que tem o instrumental mais redondinho e o refrão mais amigável das 12 faixas), apesar da nostálgica "Boy" - com participação de Jamie Cullum - ter sido escolhida como single. Será que eles conseguem de novo?

"Manner": Suingue-balanço-electro.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ladrão Que Rouba Ladrão


O paulistano Gui Boratto é provavelmente o brasileiro com maior projeção internacional na música eletrônica atual. A lista de nomes que tiveram um dedo desse produtor, arquiteto, músico e compositor nos últimos anos é respeitável: Goldfrapp, Bomb The Bass, Pet Shop Boys, Moby, Faithless, Massive Attack e Carl Cox, pra citar alguns.
 

Boratto acaba de lançar seu terceiro álbum, III, pela alemã Kompakt. Dizer que esse disco foi produzido usando a massa cinzenta faz duplo sentido. Primeiro porque III é um tanto mais cabeçudo (no bom sentido) do que seus dois álbuns anteriores e nem tudo aqui é direcionado aos quadris, vide a climática "Trap" ou os blips convertidos em linhas melódicas de "Galuchat". Segundo porque o cinza continua tingindo boa parte da obra de Gui. No disco, os melhores exemplos são "Soledad" com seu riff tristonho de teclado e "This is Not the End" (com vocais de Luciana Villanova, esposa de Boratto), onde fica fácil perceber o quanto a dobradinha Joy Division/New Order fez a cabeça do produtor.          



Fiquei empolgado quando ouvi o primeiro single do álbum, "The Drill". É realmente a faixa mais forte de III, onde mil variações sobre o mesmo tema (um riff pesado de sintetizador) colidem com duas cascatas de estática no meio da faixa. O que me decepcionou, porém, foi descobrir que essa linha de synths foi totalmente "inspirada" no baixo da faixa "Domino", um lado B de um single do artista francês Oxia, lançado em 2006 (que por sua vez é um cover não creditado da faixa "Eve By Day" de Patrick Chardronnet). Confusão, hein? Nesse festival antropofágico, quem se salva?

Gui Boratto: inspiração ou plágio?



Oxia: cover não creditado.



 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Em Círculos


Axel Willner, o produtor sueco por trás do bigode e do pseudônimo The Field é minimalista até nas capas de seus álbuns: a arte de seu terceiro disco (Looping State Of Mind, sai oficialmente em Outubro pela alemã Kompakt), é igualzinha a de seus antecessores Yesterday And Today (2009) e From Here We Go Sublime (2007).


A despeito de sua escassa variedade temática na escolha das embalagens, Willner sabe apertar os botões certos no conteúdo. Com sete longas faixas, seu modus operandi - que o título já entrega de cara - consiste em construir um tema principal e repeti-lo ao infinito; adicionando elementos aos poucos e crescendo devagar com BPMs contidos até chegar num estado de quase transgressão física, como na faixa de abertura "Is This Power", por exemplo: levam quase cinco minutos para a nuvem de sintetizadores se dissipar e a música ganhar uma amostra de guitarra desolada que percorre dois minutos de calmaria, até um rufo de caixa recolocar tudo no caminho de novo. "It's Up There" segue na mesma direção com beats engrenados e teclados hipnóticos, enquanto "Burned Out" tira o pé do acelerador transformando-se numa faixa ambient emoldurada por sons de guitarra evervescentes e vozes etéreas. O álbum tem bumbos macios, linhas de baixo fluidas e a maioria dos registros aqui evocam uma espécie de paisagismo sonoro a partir de edificações lineares - exceto pelas duas últimas faixas, onde o ritmo é quebrado em favor de duas canções que abusam dos loops, mas abrem mão da batida 4x4. Looping State Of Mind pode até tocar em pistas muito específicas, mas nem sei se a tag dance music é capaz de ser um dos rótulos desse disco. Talvez "Arpeggiated Love" com seus quase 11 minutos de techno espacial seja a que mais se aproxime em intensidade de ter suas notas iluminadas por estroboscópicas, mas no geral a intenção é prender pela mente, não pelos pés. E o The Field consegue.

"Is This Power": life is a loop.



 

sábado, 10 de setembro de 2011

Música do Mês: "Wildfire", por SBTRKT


Além do nome ser uma sopa de letrinhas consoantes (SBTRKT = Subtract) e de não se deixar fotografar sem uma de suas máscaras esquisitas, o londrino Aaron Jerome também produz ótima música - como essa faixa presente em seu debut epônimo. Aqui os vocais são da japoneca (mistura de japonesa com sueca) Yukimi Nagano, vocalista do Little Dragon. E ela se sai melhor do que qualquer coisa que tenha gravado até hoje com sua banda. Talvez tenha faltado pro Little Dragon em seu Ritual Union (lançado esse ano) alguém como SBTRKT pra direcionar melhor esse talento que ela comprovadamente demonstra nessa faixa: seus "Hey, yeaaaah" são tão reais que... arff. Com o perdão do comentário tipo Jece Valadão, mas ela está uma delícia nesse vídeo. E a música, claro, é sensacional. Dubstep onde o baixo vira do avesso e as batidas ficam no meio do caminho entre a contemplação e a vontade de dançar.

"Wildfire": me chama que eu exorciso.



New-Post-Grunge


Lembra do Bush? OK, você mal lembra o que comeu no almoço, não teria porquê recordar desses caras. Eu lembro que estava em algum lugar em frente à uma TV no final de 1996 e fiquei muito curioso pra ouvir o disco dessa banda segundos depois de assistir o vídeo de "Swallowed", uma música que grudou instantâneamente na minha memória e praticamente me obrigou a comprar o segundo álbum dos ingleses, Razorblade Suitcase (sim, naquela época ainda se compravam CDs). Com a força desse single, o Bush - assim como aqueles outros dois Bush - mandou nos Estados Unidos por um breve período: a faixa ficou sete semanas consecutivas em primeiro lugar na Modern Rock Tracks da Billboard e impulsionou o disco para o número 1 da revista. Embora tenha lá seus momentos, Razorblade nem é um grande disco. Com guitarras barulhentas, sujeira, um vocalista (Gavin Rossdale) com um timbre parecidíssimo com o de Eddie Vedder e produção de Steve Albini, o Bush foi rapidamente taxado pejorativamente de post-grunge. O que também não deixa de ser uma tremenda besteira.


Exatamente 10 anos depois do último registro (Golden State) e com baixista e guitarrista novos, o Bush lança em Setembro The Sea Of Memories, seu quinto de material inédito. E pra minha absoluta surpresa, o disco é muito legal. Intencionalmente ou não, a banda abraça o pós-grunge com vontade: guitarras distorcidas? Em "The Mirror Of The Signs" tem. Refrãos pop? Sim, em "Afterlife". Temática romântica? Claro, ouça "Baby Come Home". Potencial radifônico? Aham, encontrável em quase todas as 12 faixas. Gavin Rossdale canta muito bem, há belos riffs de guitarra (especialmente em "All My Life") e o barbudo Chris Traynor mostra-se craque em criar ganchos grudentos com as seis cordas. Além disso, The Sea foi produzido pelo Midas Bob Rock, que deixou tudo redondinho e palatável sem chegar num nível absurdo de pasteurização. Se você gosta de hard rock cantarolável e não está nem aí pra rótulos depreciativos, The Sea Of Memories é um produto de primeira.

"The Sound Of Winter": peso calculado, satisfação garantida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Da Bélgica à Jamaica


 A melhor coisa vinda da Bélgica desde a fundação da Stella Artois chama-se Selah Sue. Com apenas 22 anos e trabalhos com Jamie Lidell, Prince e Cee Lo Green no currículo, Selah (nome verdadeiro: Sanne Putseys) debutou em 2011 com um álbum epônimo que impressiona.  


Em pouco mais de 45 minutos, o disco constrói uma ponte improvável entre Bruxelas, Detroit e Kingston, misturando reggae, soul music e a voz semi-rouca de Selah - que canta com a segurança de uma veterana da Motown. Desde a simulação da agulha pousando no vinil da faixa de abertura "This World" (um dos três singles do álbum), já dá pra sacar o clima: baixo de reggae e uma seção inspiradíssima de metais acolhendo os vocais extasiados da jovem cantora. Como que essa guria branquinha e européia foi se encantar com o ritmo jamaicano a ponto de gravar maravilhas ao violão como "Raggamuffin" (com a naturalidade de alguém que tivesse sido criado num beco de Trenchtown) é que me deixa curioso. Mas questões meramente geográficas são totalmente irrelevantes se ela continuar produzindo canções com vibe canábica como "Peace of Mind" ou "Fyah Fyah" (creio eu que isso seja algo como "Fire, Fire" traduzido do jamaicanês). Ou ainda optar por expulsar a palavra acompanhada de um instrumental soul poderoso como o de "Black Part Love", ou dividir o microfone com respeitáveis cantores como Cee Lo Green (na arrepiante "Please"). É claro que o disco tem coisas de gosto um tanto duvidoso (os vocais extremamente emocionados de "Mommy", por exemplo), mas há de se entender que uma estréia sem arestas para aparar nos próximos trabalhos poderia estragar essa menina. Comparações com Amy Winehouse? Sem essa, vai. Selah Sue tem um fole vocal bom o suficiente pra essa análise preguiçosa.

"Raggamuffin": ela é bem mais do que um belo par de olhos azuis.





   

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Fênix em Preto e Branco


O pássaro do título - que na mitologia grega renasce das próprias cinzas depois de morto - é uma comparação muito adequada para Lenny Kravitz em 2011. Depois de seu multiplatinado 5, de 1998, Lenny amargou três álbuns de material inédito (e irregular) que não devem ter ficado nem na sua própria memória. 



Pois pra quem já nem lembrava dele - eu, inclusive - eis que esse nova-iorquino de 47 anos reaparece em Agosto com um disco pra queimar línguas (ou orelhas) alheias: Black and White America. Inspirado num documentário que Lenny assistiu sobre o racismo na América pós-Obama, o álbum destila letras sobre o tema, como no trecho da faixa-título que diz "... Em 1963, meu pai se casou com uma mulher negra, e quando eles andavam na rua estavam em perigo...". O cristão (filho de pai russo-judeu e mãe negra) Leonard Albert Kravitz também fala sobre fé e esperança, e tem os melhores momentos embalados pelo piano e bateria de "The Faith Of A Child" ("...Vamos trabalhar juntos, nós somos uma grande família...") e no falsete de "Liquid Jesus" ("...Tenho rezado, para o dia que você viria para me libertar/Lava-me mais, eu quero ser salvo, Oh Jesus líquido..."). Lenny dita o ritmo com segurança no disco, hora adicionando peso e habilidade nas guitarras ("Come On Get It", "Everything"), hora deixando fluir sua sensibilidade pop que parecia perdida há anos, como no single "Stand" (uma pérola radiofônica de verão) ou no refrão instantâneo de "I Can't Be Without You". Inteiramente produzido e executado entre 2009 e 2011 nas Bahamas por Kravitz (com exceção de algumas faixas divididas com o guitarrista e compositor Craig Ross e participações de Jay-Z e Drake), Black and White America é um disco de rock erguido com cimento funk (o que é aquele baixo da sensacional "Superlove"?), e deve trazer Lenny de volta à tona com doses certas de peso, engajamento, fé e experimentalismo. Surpreendente. 

"Superlove":  que baixo é esse, Lenny?



   

domingo, 4 de setembro de 2011

Reprodutor Chillwave



Prolífico esse Chazwick Bundick. Seu álbum Underneath The Pine mal esfriou na prateleira (foi lançado em Fevereiro desse ano) e o produtor da Carolina do Norte já desova um EP novo agora em Setembro.
 

Freaking Out tem 5 faixas, incluindo um belíssimo cover para "Saturday Love" - originalmente um single de 1985 interpretado pelo cantor de soul/R&B Alexander O'Neal e a cantora Cherrelle. No mini-album, Toro Y Moi aponta seus sintetizadores em direção ao electro-funk de gente como Mantronix e Cameo, arriscando picotar samples de vocais e experimentando batidas de causar vertigem em "Sweet" e programando baterias no melhor estilo Arthur Baker em "Freaking Out". Em "I Can Get Love", Bundick chama pra pista num estalar de dedos pós-disco; adicionando riff de piano, baixo sintético e várias camadas de teclados numa faixa altamente rebolativa. Estrategicamente posicionada como abertura do EP, "All Alone" talvez sintetize as intenções deste talentoso multi-instrumentista nesse momento: livrar-se do incômodo rótulo chillwave produzindo canções acessíveis, positivas e incrivelmente inventivas, como as presentes em Freaking Out.

"All Alone": Toro Y Moi sozinho põe todo mundo pra dançar. 



   

Uma Besteira a Menos


Se eu tivesse uma gravadora - e se gravadoras ainda representassem um misto de retorno financeiro e satisfação pessoal - eu contrataria essa banda de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. O L.A.B. (abreviatura de Less A Bullshit) nasceu no verão de 2009 sob influência tão diversa quanto é perceptível no seu som: Depeche Mode, New Order, Death From Above 1979, Gang of Four, Chemical Brothers, The Smiths e mais uma penca de coisas. No currículo, uma apresentação na edição do ano passado do festival South By Southwest em Austin, Texas.
 

 Com um EP lançado pela (©urve)music em Abril do ano passado e um álbum pronto, o L.A.B. divulgou em seu MySpace que "...desde o dia 23 de abril, quando notificada, a Curve Music não representa mais os interesses da banda...". Como se vê no vídeo da faixa "Segundo Andar" abaixo, Dan Schneider (vocais, baixo, sintetizadores e programações), Fe Fischer (guitarra) e Moa (bateria) estão muito seguros do que estão fazendo: uma base eletrônica sólida sustenta as experimentações muito bem sucedidas de Fe Fischer com o arsenal de pedais de efeito disponíveis. Os vocais estão meio soterrados nessa apresentação, mas isso não deve ter sido problema na mixagem do álbum (prevista pra ser realizada em Roma). Realmente promissor.

"Segundo Andar": "... de que me adianta um segundo andar
se eu não tenho uma escada?..."





sábado, 3 de setembro de 2011

Denorex


Esses australianos não são incríveis? Conseguiram imprimir um padrão electro/dance pegajoso no seu pop recente que torna sua música identificável à distância. O problema é que existem algumas coisas muito parecidas. Se tocar uma sequência de hits dançantes embalados por violões, sintetizadores e duetos vocais de Empire Of The Sun, Gypsy & The Cat e PNAU, periga um desavisado achar que trata-se da mesma banda.


Bom, o Capital Cities não é australiano. Mas parece. A dupla de barbudos Ryan Merchant e Sebu Simonian é de Los Angeles e "Safe And Sound" é seu single de estréia, lançado em Junho. Popíssima e com um gancho de trompete que gruda instantâneamente, a faixa ganhou boa repercussão na blogosfera e em algumas rádios americanas e encorajou o duo a embarcar em sua primeira tour neste outono ianque. 

"Safe And Sound": parece, mas não é.




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Numa Pista Longe de Você

Três exemplos de faixas para quem aprecia música dançável especialmente bem feita, mas com poucas chances de sentir o gosto do mainstream:



Faixa: "Without You" 
Artista: Nicholas
Origem: Itália

Tão obscuro quanto o vinil com quatro faixas onde apareceu, Nicholas perpetrou um dos top grooves do ano. Não sei se os vocais são dele ou sampleados na cara dura como o Black Box fazia, mas no meio desse cruzamento de house, disco e soul, o resultado é brilhante:








Faixa: "Nightmoves"
Artista: Space Ranger
Origem: Alemanha

House com um coração pulsante disco (leia-se a linha de baixo extraterrena), "Nightmoves" tem ótimos vocais a cargo de um certo Captn K. O EP saiu no final do ano passado e o álbum esse ano (What About The Magnetic Fields?, que vale a pena ouvir):





Faixa: "Pharaohs"
Artista: SBTRKT
Origem: Inglaterra

Já tem nego chamando de pós-dubstep, mas o que temos aqui é house music subterrânea com os vocais soulssegados (com o perdão do trocadilho fraco) de Roses Gabor (quem?). O álbum de estréia (epônimo) desse produtor inglês chamado Aaron Jerome já saiu e traz grande variedade de idéias, texturas e ritmos explorados com habilidade por trás dessa máscara esquisita: