Admito: quando conheci Calvin Harris musicalmente, o escocês parecia possuir uma verve debochada na linha "I don't give a fuck", que ia do título do seu debut,
I Created Disco (2007) até a tosquice da produção - torta e propositalmente datada. Harris era uma espécie de Mike Myers do pop eletrônico. Simpatizei com a cafonice explícita em sua música. Dei algumas risadas com o funk capenga "
Merrymaking at My Place" e com os teclados fuleiros e o vocal desengonçado de "
Colors". Me surpreendi com o potencial pop contido em "
Girls" e até com o estranho caso em que o título de uma música era mais interessante do que a própria ("
Acceptable in the 80s"). Era descompromissado, foi divertido e, bom, o disco vendeu relativamente bem. Harris viu que estava no caminho certo. Só que ele precisava atualizar seu som. A piada de
I Created Disco não ia ter fôlego pra um segundo álbum. E assim foi. A partir de
Ready for the Weekend (2009), o menino Calvin optou pela solução mais fácil: montou uma linha de produção de electro house genérica, acumulando montanhas de clichês do gênero (ouça "
I'm Not Alone"). Depois, ladeira abaixo. Além da música igualmente ordinária do disco seguinte
18 Months (2012), Harris começou a andar com gente suspeita (Florence Welch, Nicky Romero) e compor para artistas como Rihanna (o mega hit "
We Found Love"). Aí, 2014 e acaba de sair o novo
Motion. Calvin Harris não pode jogar tudo pro alto agora. É um caminho sem volta: é o suicídio artístico em detrimento de uma carreira comercialmente bem sucedida - que o colocou no
topo da Forbes, como o DJ/produtor mais bem pago do mundo. E mais uma vez,
Motion é uma coleção monótona e burra, que inacreditavelmente repete fórmulas surradas de dance pop, de riffs insuportavelmente chatos de sintetizador, da falta de imaginação ao compor canções exatamente idênticas umas às outras, de afundar no terreno mais improdutivo da eletrônica atual e levar consigo nomes que nos faziam acreditar num sopro saudável de renovação quando apareceram (
Hurts,
Ellie Goulding), mas que agora provam que eram só mera curiosidade passageira, mesmo. É aquela conversa mole de "verão sem fim", "magia da noite", "todos numa só batida"... eca. Daria pra ligar um "foda-se, é só pop descartável", mas esse nem é o problema. Lance é que é pop descartável e ruim, muito ruim. Pensei que
True do Avicii levaria fácil o primeiro lugar como Pior Disco de Dance Music do Ano. Pois ele acaba de ganhar um sério concorrente.
"Under Control": Hurts satisfeito com as migalhas.