All You Need Is Now, novo álbum dos veteranos do Duran Duran já está disponível para download no iTunes. Fisicamente, o disco sai só em fevereiro. Volta às raízes ou auto-plágio? Descubra na resenha publicada aqui no rraurl.
A faixa-título também é o primeiro single extraído do disco:
2010 já era. Foi um ano - mais uma vez - com um caminhão de discos legais, comebacks fracassados e discos ruins aos montes também. Certamente não ouvi metade da metade dos álbuns que devem estar incluídos numa certa "unanimidade", ou em algo que pode se chamar de senso comum, entre várias listas que já começam a pipocar na rede. A primeira lista é de músicas que me fizeram ter vontade de apertar o repeat em 2010. Nos próximos posts, os discos e os vídeos. Eis:
10 Músicas:
1) “Beautiful Life” – Hurts > O vídeo apareceu em 2009, mas oficialmente, a faixa saiu esse ano. Synthpop no melhor sentido Pet Shop Boys do termo.
2) “Odessa” – Caribou > Daniel Snaith, o Hermeto Pascoal da música eletrônica.
3) “The Suburbs” – Arcade Fire > Melodia perfeita, gancho perfeito, pop perfeito.
4) “Stand Alone” – Artificial Intelligence > Dupla inglesa mostra que o Drum'n'Bass ainda tem muita lenha pra queimar.
5) “Shameless” – Groove Armada feat. Bryan Ferry > Bryan Ferry perdeu um pouco da elegância do timbre, mas continua classudo como sempre.
6) “Why Does The Wind?” – Tracey Thorn > De um disco que pouca gente ouviu em 2010, uma das mais climáticas. E pop.
8) “Beam Me Up” – Midnight Magic > Coletivo nova-iorquino numa faixa lançada esse ano, mas que soa como 1976.
9) “r ess” – Autechre > Timbres assustadores, batida desorientadora e relevância numa era em que poucos ainda arrancam alguma originalidade da tranqueira cibernética.
10) “Somebody New” – The Amplifetes > De olhos bem abertos nos próximos passos destes suecos: "Somebody New" mostrou que eles podem ir longe, bem longe.
Nascido nos Estados Unidos e criado nas Bermudas, Collie Buddz tem a manha. Rapeia com a voz e a ginga de um toaster jamaicano embalado por uma base rítmica vigorosa de baixos gordos e beats produzidos com uma só intenção: entortar sua coluna. Resenha completa no rraurl, acesse.
Esqueça o Príncipe das Trevas alçado à fama planetária logo em sua estréia (Maxinquaye, de 1995). Um dos álbuns essenciais dos 90, Maxinquaye ajudou a definir os rumos do trip-hop, logo após Adrian Nicholas Matthews Thaws - o Tricky - resolver abandonar o Massive Attack pra investir na carreira solo. Em Mixed Race, lançado em Setembro, o sobrinho de Finley Quaye atira pra todos os lados e acerta vários alvos: funk (a abertura "Kingston Logic", com vocais inspirados em "Technologic" do Daft Punk, por sua vez inspirada em "Video Games" de Ronnie Jones), jazz sombrio ("Early Bird"), música árabe ("Hakim"), blues ("Come To Me"), house (a surpreendente e ótima "Time To Dance"), e dubstep ("Bristol To London"). Ainda tem espaço pra um sample de "Peter Gunn" de Henry Mancini no primeiro single extraído do álbum ("Murder Weapon"). Tricky só visita o pantanoso terreno do trip-hop na pesada "Ghetto Stars" e em "Really Real" (com vocais de Bobby Gillespie do Primal Scream), e no final das contas, a diversidade proposta nas dez faixas e apenas meia hora de Mixed Race acaba salvando o disco do marasmo - mesmo que Tricky esteja longe daquele ser esquisitão e absolutamente original do primeiro álbum.
"Kingston Logic": pedindo uma mixagem com "Technologic" do Daft Punk.
O Gypsy & The Cat é uma dupla de Melbourne, Austrália. Com pouco mais de um ano de vida, o duo formado por Xavier Bacash e Lionel Towers produziu o álbum de estréia chamado Gilgamesh em seu próprio estúdio e o levou para Londres para ser mixado à quatro mãos por David Fridmann (baixista do Mercury Rev e produtor de MGMT, Flaming Lips e Clap Your Hands Say Yeah) e Rich Costey (trabalhos com Muse, Franz Ferdinand e Glasvegas no currículo). O resultado é um pop deliciosamente onírico, de melodias tão lindas quanto pegajosas. Do soft rock setentista à eletrônica estratosférica do Air e com referências diretas aos momentos mais ensolarados de MGMT e Fleetwood Mac, o Gypsy & The Cat não despreza as pistas de dança ("The Piper's Song" tem remix do Aeroplane) e fez de Gilgamesh um disco gostoso de ouvir de ponta a ponta. Coisa rara hoje em dia.
"Jona Vark", um dos ótimos momentos do debut do Gypsy & The Cat:
Mesmo não sendo de 2010, "Ya No Sé Que Hacer Conmigo" dos uruguaios do Cuarteto de Nos é o vídeo mais sensacional que assisti esse ano. A faixa está no álbum Raro de 2007, e mostra pra nós aqui do país do Restart como é que se faz rock comercialmente viável sem abdicar de boas letras, sem fazer papel de bobo, sem estrangeirismos e com um vídeo espantoso como esse. Foda.
Barney Sumner, Hot Chip e Hot City dividiram a mesa de som pra uma campanha da Converse (All Star e afins). O resultado é "Didn't Know What Love Was", e é possível baixar aqui no site da Converse. A música é algo muito, muito próximo ao que o Electronic fazia em 1992, ou seja, é ótima.
Sei lá, nunca fui muito ligado em Kings Of Leon. Por exemplo: gosto da pegada estradeira de "Sex On Fire" e detesto o vocal choroso de Caleb Followill em "Use Somebody" (ambas de Only By The Night, disco anterior da banda lançado em 2008). Muitos milhões de dólares mais ricos, o quarteto volta com Come Around Sundown e quem já não era fã provavelmente não vai passar a gostar dessa banda-família (formada por três irmãos e um primo) por causa desse disco. Não é ruim. Tem boas palhetadas, uns tecladinhos mais salientes e muitas linhas de baixo bem fluídas. Mas a voz do Caleb me dá no saco. Acho insuportável. Claro que as gurias da primeira fila não acham isso, então não há nenhuma chance de trocar de vocalista.
Que mané dubstep o quê. O som do futuro continua sendo o drum'n'bass. Mesmo com toda a velocidade imprimida pela subdivisão liquid funk, a música da dupla inglesa Artificial Intelligence consegue ser muito mais suingada do que a desses artistas dubstep de nomes engraçados (Benga, Caspa, Roska). Glenn Herveijer e Zula Warner descem a lenha com os BPMs lá em cima nas doze faixas do recém-lançado Stand Alone. Picos de energia acontecem nos vocais soul-sexy de Jenna G em "Unforgettable", nas variações do baixo de "Blind Eye", no ritmo tipo "manada-de-rinocerontes-em-disparada" de "Let It Be" e especialmente nos sintetizadores inesquecíveis de "Stand Alone". Apertem os cintos.
"Stand Alone", a faixa-título: combustível para as pistas.
O canadense Daniel Snaith é daqueles produtores que não entregam a coisa mastigadinha pra ninguém. Não espere ouvir um disco de dance music rasteira aqui neste Swim, lançado no começo do ano (e que deve estar merecidamente em várias listas de melhores de 2010). Assinando como Caribou, Snaith dá um show de criatividade no uso de instrumentos convencionais (especialmente os percussivos, como na espantosa "Bowls") e na manipulação absolutamente inteligente dos recursos eletrônicos (o mantra "Sun" explorando todas as possibilidades dos vocais). Com um pé na psicodelia e o outro no pop eletrônico, eis aqui uma amostra de que ainda tem gente que prima pelas soluções menos óbvias nas produções, com resultados surpreendentes e acessíveis. Descubra já.
Se discos de cantores folk melancólicos são a sua praia, It's What I'm Thinking Pt. One - Photographing Snowflakes é o que há. É o sétimo álbum do Badly Drawn Boy, lançado dia 04 de Outubro. Salpicando batidas eletrônicas entre arranjos de cordas e vocais contidos, Damon Gough vai contando histórias com o violão em punho e títulos sugestivos como "Too Many Miracles", "A Pure Accident" e "I Saw You Walk Away". Se eu fosse a mãe dele, começaria a ficar preocupada.
"Too Many Miracles". Um psicólogo para Damon Gough, por favor.
Ah sim, a magia ainda está lá. Não sei se os dois casais de irmãos ingleses que formam o Magic Numbers vão conseguir arrebanhar novos fãs com o seu terceiro disco lançado em Junho, mas The Runaway certamente vai manter os admiradores destes simpáticos gordinhos sonhando acordados com as doces melodias sessentistas e harmonias vocais perfeitas encontradas nas doze faixas do disco. Não se assuste com o arranjo de cordas um tanto meloso da faixa de abertura (e primeiro single) "The Pulse", porque o disco só começa a tomar forma mesmo a partir da terceira música ("Why Did You Call?"), onde as guitarras de distorções sutis dividem espaço com pianos e percussão. Uma fofura.
A culpa é do ABBA. Desde que esses dois casais chegaram ao topo da parada inglesa pela primeira vez em Abril de 1974 com o single “Waterloo”, as coisas nunca mais foram as mesmas pro pop escandinavo. E não precisa pensar muito pra montar uma lista de artistas de sucesso que vieram de lá depois disso.
Produtores/compositores dispostos a engrossar essas fileiras, Henrik Jonback, Henrik Korpi, Tommy Spaanheden e Peter Ågren montaram o The Amplifetes a pouco mais de um ano. Eles vem de trabalhos individuais com nomes que incluem Kelis, Madonna, Grandmaster Flash e Peter Bjorn and John. As experiências com nomes tão diversos refletem-se no projeto em conjunto, baseado em psicodelia sessentista, Elvis Costello, Ramones, David Bowie e house de Chicago - segundo a biografia da banda em seu site oficial.
A banda deu sorte de ter seu primeiro single incluído numa campanha da grife do estilista italiano Roberto Cavalli, estrelada por Milla Jovovich. Por tabela, o electro garageiro “It’s My Life” acabou chamando a atenção para o som do grupo:
Vídeo da campanha de Roberto Cavalli:
Vídeo oficial de “It’s My Life”:
“Whizz Kid“, o segundo single também lançado em 2009 manteve a atenção da blogosfera no Amplifetes, até que em Maio desse ano eles se saíram com uma das grandes músicas de 2010: "Somebody New". A faixa é um Franz Ferdinand impulsionado por um motor synthpop sem vestígio de qualquer ranço retrô e que visualiza cada canto da pista de dança pra manter todos os pés na mais alta concentração de movimento por metro quadrado possível. Irretocável.
Vídeo oficial de “Somebody New”:
De quebra, de novo uma faixa da banda é escolhida como tema de uma campanha publicitária. Dessa vez, “Somebody New” aparece num anúncio da Garnier:
Finalmente, o debut saiu agora em Setembro. O álbum epônimo traz pela enésima vez uma música baseada em "I Feel Love" de Donna Summer (o improvável rockabilly eletrônico de "Fokker"), house em slow motion (os tecladinhos desacelerados em "When The Music Died" só podem ser de "Understand This Groove" do Sound Factory), e – sem trocadilhos - pop dançante de encher os olhos ("Blinded By The Moonlight"). Causa um certo desconforto passar pelas 12 faixas do disco ouvindo o vocal achatado de efeito do barbudo Peter Ågren, mas ás vezes isso é gol a favor e contribui pra aumentar a sensação de desolação – como na balada glacial “A Million Men”, ou pode tornar o clima ainda mais desencanado, como em “Somebody New”. Optar simplesmente por limar os vocais a favor de uma melodia assoviada (a bela instrumental “It Can’t Rain All The Time”) também alivia um pouco.
Álbum lançado, marketing funcionando, tour planejada ainda pra 2010, e o Amplifetes merece ser enquadrado no clichê "eles tem um futuro promissor pela frente".
Magnetic Man - o tal projeto dos DJs Skream, Benga e Artwork - tenta uma aproximação do dubstep com o pop no seu álbum de estréia a ser lançado em 11 de Outubro. A crítica inglesa se rasgou de elogios pro primeiro single do disco, "I Need Air", mesmo com os vocais de Angela Hunte adulterados pelo irritante auto-tune. A faixa lançada em Julho bateu num honroso 10º lugar no paradão inglês, o que mostra que o dubstep é bem popular na ilha mesmo. O figurão John Legend está entre os vocalistas convidados (na interessante "Getting Nowhere"). E se a coisa belisca um certo padrão FM em "Perfect Stranger", é em "Boiling Water" e seu refrão facinho que isso fica muito mais próximo de acontecer - mesmo que essa música cheire mais à drum'n'bass do que dubstep.
O dubstep é uma das mais recentes mutações eletrônicas e já tem várias subdivisões. Uma delas, o soulful dubstep, é a mais soturna, melancólica, profunda e climática. Talvez o jovem Burial seja o maior representante do gênero, mas o inglês Dan Richmond - que lança seus discos como Clubroot - vem ganhando força através de elogiadas produções. II - MMX, seu segundo álbum (lançado em Maio) é um mergulho de cabeça nas profundezas escuras do soulful dubstep. Ao longo de suas onze faixas distribui batidas hipnóticas, timbres pesados de sintetizador, vozes angelicais e faz das linhas de subgrave um desafio às caixas de som. Excepcionalmente bonito e desafiador, II - MMX não tem nenhuma relação com a pista de dança nem flerta com o pop como alguns artistas de dubstep já começam a fazer. O clima de suspense e a alta dose de emoção contidas no disco obrigam uma audição atenta. Recomendo muito.
Alguém pode me dizer que tipo de cogumelo os ingleses do The Coral estão usando nas suas infusões das cinco da tarde? Tudo bem que a banda existe desde 1996 e Butterfly House (lançado em Julho) já é o sexto disco dos caras, mas o que explica o fato deles soarem como o America em 1976? O que temos aqui é um country rock com pinceladas de psicodelia de harmonias vocais impecáveis e violões empoeirados sendo cuidadosamente dedilhados por todas as faixas. O disco é lindo, e se comerciais de cigarro ainda fossem permitidos na TV, o The Coral seria candidato a fornecer a trilha pro Marlboro. Com cowboy e tudo.
"1000 Years", o primeiro single de 'Butterfly House'. Não, eu também não entendi o vídeo.
O americano Brian Hazard é um bom pianista e tecladista. No seu recente álbum The Sound, encarnando a banda-de-um-homem-só Color Theory, Hazard mostra alguns caminhos inovadores para os sintetizadores percorrerem - se estivéssemos em 1984. Tudo aqui soa como o que de pior o Depeche Mode produziu nesse período, ou seja, a ba(ba)lada "Somebody". E não é que Brian Hazard canta igualzinho ao Martin Gore? Nem sei o que é mais constrangedor: a clonagem descarada do principal compositor do Depeche ou a versão risível para "Living a Boy's Adventure Tale" do A-ha. Mantenha distância.
How To Destroy Angels é um projeto de Trent Reznor paralelo ao Nine Inch Nails e dividido com a (bela) companheira de cama e mesa Mariqueen Maandig, mais o produtor inglês Atticus Ross. O trio lançou no meio do ano um irregular e epônimo EP de seis faixas. Os melhores resultados são quando a banda sobrevoa o pantanoso terreno do trip-hop, com a cadência marcial e os vocais sussurrados de Mariqueen em "The Space In Between", e no ritmo lento e engrenado da sombria "A Drowning". O resto peca nos excessos de distorção e timbres mucho locos do chamado pós-industrial.
Tensão pura no vídeo da ótima "The Space In Between":
Amon Tobin, aquele cara que deixou todo mundo com a mão no queixo com seus dois primeiros discos de jazz eletrônico torto (Bricolage de 1997 e Permutation de 1998); especialista em desconstrução rítmica e em criar batidas tão abrasivas quanto originais, e considerado uma das figuras mais inventivas da música eletrônica atual, está com disco novo. Monthly Joints Series perde em frescor porque aqueles ruídos de furadeira ordenados ritmicamente ("Trickstep") já não impressionam tanto quanto lá no meio dos 90. Mas com um pouco de paciência, dá pra curtir as experimentações de Tobin (carioca de nascimento, radicado em Londres e atualmente no Canadá) com instrumentos de percussão inidentificáveis ("Delpher") ou com o que seria o funk em Saturno, na visão distorcida do artista ("Dualistic"). É bem verdade que ás vezes as coisas saem do controle ("Shut Down") e dá a impressão que o termo "laptop music" foi cunhado pra explicar bobagens como essa.
Atrás dessas caras austeras também bate um coração. Sintético, mas bate. O Hurts acaba de lançar seu debut, Happiness: onze canções com uma carga emocional forte e dosada, e movida a sintetizadores. Parece exageradamente melancólico. Mas não é. É a felicidade, do jeito deles. Cometeu um dos discos do ano. Leia resenha completa aqui no rraurl.
Pare de esfregar os olhos que é isso mesmo. Nem o mais otimista dos fãs de synthpop poderia esperar que desse mato ainda saísse coelho, mas aos 56 anos o alemão Marian Gold (nome verdadeiro: Hartwig Schierbaumm) carrega sozinho o nome da banda responsável por hits como "Big In Japan" e "Forever Young". Pois o Alphaville volta depois de sete anos sem material inédito com uma música que eu achei sensacional: "I Die For You Today". O single sai oficialmente dia 08 de Outubro, mas cópias de um promo com remixes de Blank & Jones e DJ Tocadisco já circulam pela rede - sem a versão original da música, no entanto. O vocal de Marian continua inacreditavelmente intacto, a voz é limpa e potente. De batida forte, ótima linha de synths e letra fácil, "I Die For You Today" é disparada a canção mais cafona, mais legal e a que mais ouvi em Setembro.
Boa oportunidade de conhecer o trabalho do Art Of Noise com o recém-lançado Influence: Hits, Singles, Moments, Treasures..., mais um "Best Of" na carreira da banda. Com nomes famosos na linha de frente (Anne Dudley, Trevor Horn eJ. J. Jeczalik entre eles) e sempre desprezando o uso da imagem em favor da música, o projeto foi formado em 1983 na Inglaterra e foi um dos pioneiros na utilização do sampler na música pop. O som pode até soar terrivelmente ultrapassado hoje em dia, mas lembre-se que no começo dos 80 não existiam as facilidades do control C + control V disponíveis no seu computador atualmente. Na época eles se viravam com o então novíssimo Fairlight CMI, o primeiro sampler digital da história. Obrigatório.
Um Underworld pop como talvez nunca tenha se ouvido é o que se percebe em Barking, novo e excelente álbum da dupla Karl Hyde e Rick Smith. Resenha completa no rraurl.
"Always Loved A Film", candidata a dance track do ano:
Munido de uma paciência Jóniana, resolvi encarar as quase duas horas do novo álbum do top-top DJ holandês Armin van Buuren. Vai que o cara grava o disco do ano e eu - por preconceito ou burrice - não ouço? Bom, não foi fácil. Mirage traz 21 variações do mesmo tema: trance festeiro de temática invariavelmente romântica. São 16 faixas mais 5 de bônus pra quem comprar no iTunes. Todas são iguaizinhas: sintetizadores crescendo devagar, vocais sofridos, bumbo reto, pouca variação melódica, ecos aqui e ali, pausas... e mais synths progressivos. É um disco no piloto automático. O van Buuren conseguiu fazer até com que a muito interessante Sophie Ellis-Bextor (vocais em "Not Giving Up On Love") passasse completamente despercebida no meio de tantas faixas idênticas. E ainda teve a manha de convidar o mala do Adam Young (Owl City) pra bocejar em "Youtopia". Juro que simpatizei com "Going Wrong" do disco anterior dele, o não menos cafona Imagine, de 2008. Mas esse Mirage não dá. Aliás, ninguém tasca: é o pior disco de dance music do ano.
"Full Focus", primeiro single extraído do novo álbum:
Vale a pena ouvir Love Harder, novo álbum do promissor Ali Love (nome verdadeiro: Alistair McLovan). Londrino de 28 anos, Ali lançou seus dois primeiros singles de forma independente em 2006, até ser convidado pelo Chemical Brothers no ano seguinte para cantar em "Do It Again" (do álbum We Are The Night) e ganhar a projeção que precisava. Love Harder saiu mês passado e mostra o cantor como mais um entusiasta da época em que o techno era pop, ou seja, a década de 80. Ali tem um timbre que lembra Prince em alguns momentos; não é lá muito versátil, mas cumpre com eficiência o papel de crooner electro-sentimental. Sintetizadores em primeiro plano e batidas comportadas, o disco alterna ítalo-disco de BPM baixo ("Dark Star"), Hi-NRG ("Love In Darkness") electro funkeado ("Done The Dirty", com backing vocais de Lou Hayter do New Young Pony Club) e pop com ótimo acabamento (os singles "Love Harder", "Diminishing Returns" e "Smoke & Mirrors"). No final das contas, Love Harder é bastante homogêneo e fácil de ouvir - exatamente como os bons discos pop devem ser.
Se alguém me convidasse para ouvir o novo single do Whispers e me dissesse que este single é "Don't Turn The Lights On", eu acreditaria. Só que esse ótimo pedaço de funk eletrônico faz parte de Business Casual, novo álbum do Chromeo que sai oficialmente em 14 de Setembro. O Chromeo é a dupla P-Thugg (Patrick Gemayel) e Dave 1 (David Macklovitch): nerds, branquelos, canadenses e bem intencionados. E em "Don't Turn The Lights On", mostram que também são alunos aplicados do electro-funk de boa cepa.
Quero ver quem é que vai sobrar quando essa onda revivalista dos 80 acabar. Se é que vai acabar. Porque por enquanto é muito fácil enfeitar o som com sintetizadores vagabundos, fazer pose de indie largadão e chamar isso de "moderno". Querer ser moderno não é ser moderno - que o digam os neozelandeses do Kids Of 88. Meros aproveitadores. Aposto que eles gastaram mais tempo pensando no nome da banda do que compondo as músicas desse fraquíssimo Sugarpills, lançado mês passado. A única faixa desse disco que ameaça funcionar é o rockzinho de prato sibilante "My House", mas os vocais insuportáveis põe tudo a perder. Mesmo assim, esse single lançado em Abril do ano passado foi suficiente para render à dupla Jordan Arts (teclados) e Sam McCarthy (vocais) um contrato com a Sony Music. O diretor de A&R da Sony deve ser um cara muito otimista. Ou surdo.
Se existe algum lugar no pop para algo chamado folkdisco, é lá que está o Mustang. Lançado pelo selo alemão Gomma Records em Fevereiro desse ano, Chameleon Circus EP traz quatro faixas onde baixos adiposos convivem em harmonia com violões de cordas de aço ("Chameleon Circus"), teclados neandertais engatam a marcha ítalo-disco em longas viagens instrumentais ("The Cockatoos" e "On Mercury") e guitarras à la Nile Rodgers se enroscam com house jurássica ("Try To Dance"). O Mustang é a dupla belga Renaud Deru e Andy Faisca, ambos DJs e na casa dos vinte e poucos anos.
Conheci o som dessa dupla sueca lá no INMWT do Denis Pedroso. A capa acima é o EP de estréia dos caras, Modual Promo EP, por enquanto disponível para venda somente no formato digital no Soundcloud. Depois que algumas audições minhas foram registradas pelo LastFM, Mike - metade do Modual - me enviou um e-mail dizendo que havia percebido que eu havia gostado do som, e resolveu escrever para explicar um pouco sobre a música desse duo de Estocolmo. Segundo ele, o Modual "mistura dubstep com drum'n'bass somado à vocais pop e arranjos de cordas, para criar sua própria versão de música de pista". A descrição de Mike cabe nas três faixas do EP: "Waltz" tem batida forte cadenciando o ritmo drum'n'bass e um sax jazzy bem relaxado atravessando toda música. "Deeper Than This" é a parcela dubstep do EP, com subgraves forrando o arranjo. "Shadows Play" foi a que me viciou de cara. Originalmente seria chamada de drum'n'bass, mas os pianos, as cordas e os vocais macios pedem outro nome. "Chill'n'Bass"? "Drum'n'Ambient"? Ouça as faixas no MySpace da banda e defina você onde a música do Modual se encaixa melhor.
Os membros remanescentes mantiveram o lançamento do bom álbum The Golden Years para Outubro, e as datas de shows agendadas para Setembro e Outubro ainda constam no MySpace da banda.
O single de estréia "Dance The Way I Feel" saiu em Setembro do ano passado (com remix de Armand Van Helden) e é um ótimo exemplo dessa saudável anarquia que estava fazendo falta num gênero lotado de figurinhas blasé e afetadas:
Single de estréia desse povo do Brooklyn. Parte dos integrantes do Midnight Magic já tocou com o Hercules and Love Affair, parte perambulou pela DFA Records e no palco são nove indivíduos (!). "Beam Me Up" saiu num 12" em Junho desse ano pelo selo alemão Permanent Vacation com essa simpática capa do fantasminha camarada. Piano ensandecido, baixo no esquema "dugu-dugu-dugu-dugu" e vocais extasiados na disco mais 1976 de 2010. Sensacional.
Negócio é o seguinte: a partir de agora este que vos tecla irá deixar este espaço com cara de blog mesmo. A saber: textos mais enxutos, menos preocupação gramatical, menos importância à diagramação, atualizações com menor intervalo de tempo possível - peridiocidade diária seria o ideal, mas acho difícil eu me policiar pra cumprir essa tarefa. Textos mais elaborados que mereçam maior atenção estarão no rraurl.
A ascensão do Klaxons foi meteórica. Os ingleses apareceram por volta de 2005 e gravaram uma série de compactos em vinil 7" por diferentes selos até chegar a um contrato com a Polydor e ver seu álbum de estréia, o elogiado Myths Of The Near Future de 2007, vender quase 300 mil cópias na Inglaterra. Muito paparicado pelo NME que popularizou o termo New Rave e praticamente o associou ao Klaxons, a banda tem ótimos singles como o frenético debut "Gravity's Rainbow", a macumbeira "Magick" e a doce "Golden Skans". O novo álbum, Surfing The Void, sai dia 23 de Agosto e mostra que eles não mudaram nadinha - o que pode ser bom e ruim. Pra quem curte aqueles vocais dobrados o tempo todo (eu, por exemplo) e a pegada bem enérgica da banda, é legal que eles tenham mantido isso como identidade. Já quem não suporta os instrumentos achatados numa massaroca sonora caótica e distorcida, vai ter motivos de sobra pra detestar várias canções, e encontrar na faixa-título o maior expoente de tal defeito. Honestamente, não acredito muito nos rótulos new rave e dance-punk atribuídos ao Klaxons, a não ser pelo fato dos singles da banda sempre conterem remixes e isso os ligar à uma pista de dança. Ouvindo Surfing The Void assim, cru, não dá pra imaginar essa ponte indie/dance. Há boas músicas aqui, caso do climão épico de "Echoes", momentos de ataque mais moderado ("Valley Of The Calm Trees" e "Twin Flames"), energia canalizada ("Flashover") e psicodelia regada à teclados vintage ("Future Memories"). No final das contas, acho que o problema mesmo é que ouvir Surfing The Void inteiro, cansa. Fora que essa capa do gatinho astronauta é lamentável.
Dessas dance tracks que a gente descobre quase sem querer e grudam por dias a fio. O Human Life é um trio de Los Angeles, Califórnia e "In It Together" - em sua versão original - é um electro pop houseado com um (ótimo) refrão de inspiração ítalo. A faixa de estréia da banda já tem mais de dez versões retrabalhadas por gente grande como o prolífico Kris Menace e seu remix electro-comportado. A visão de Jaymo & Andy Georges ("Moda Mix") é meio neurótica e cansativa, "Acid Girls Remix" distorce os vocais e faz rodar somente o trecho "in it together" em diferentes velocidades sem muita criatividade, mas que ao menos não apelou pro auto-tune e pros efeitos Atari como a versão do Louis La Roche. "Lazy Flow Going To Dutch Remix" ameaça transformar a música em hit de baile funk. A baleárica "Pelifics Remix" deixou tudo cheirando a Ibiza, "Moonchild Remix" conseguiu encaixar um bom baixo disco (e só), enquanto "Underhall Remix" deve fazer a festa dos admiradores dos esteróides anabolizantes nas raves tranceiras mundo afora. A surpresa aqui é o remix creditado aos australianos do Polygon Palace. A versão é tão, tão boa, que supera o original. A dupla de Melbourne potencializou as batidas, jogou synths mais enérgicos e deixou tudo num clima tão contagiante que até dá pra esquecer dos vocais que são algo muito, muito próximo do que era o falsete do Bono Vox fase "The Fly".
Versão original:
Plástica bem-sucedida pelos Pitanguis da Austrália, Polygon Palace:
Procurando alguma trilha pro seu ritual de acasalamento nesses dias invernais? Há uma boa chance disso aqui funcionar. Depois de dois EPs, You Are Found é o primeiro disco da cantora e compositora Erin Lang. Apadrinhada por Roger O'Donnell (ex-tecladista do Cure), a canadense explora o filão do pop acústico com toques leves e precisos de eletrônica, algo que pode ser definido como electrofolk. A voz de Erin é tão delicada e etérea que seus sussurros vão ficando quase inaudíveis e por pouco não somem por completo em faixas como "Lightning". Ás vezes ela canta como se fosse seu último suspiro em faixas lânguidas como "Empty" (amparada por um cello no refrão) ou "Daisy" e sua guitarra monocórdica. Produzido pelo alemão Mario Thaler (que já trabalhou com o Lali Puna) e lançado em Maio deste ano, You Are Found tem alguns momentos criativamente forrados com ruídos, cliques e estalos digitais ritmicamente organizados - o que o aproxima da estética glitch - especialmente em "A Thousand Years" e "Until Then", e ainda algumas amostras de pop doce e ensolarado como "Now" e a perfeita "You're Better Off", já bem colocada no meu ranking de mais ouvidas do ano. Ouça de boca fechada.
Estes rabiscos simplistas aí à esquerda são a capa de "Where I'm Going", novo single dos australianos do Cut Copy. A música precede o álbum que está sendo gravado e deve ser lançado em Janeiro do ano que vem. A parte boa é que ela está disponível pra download gratuito no site do trio. A parte ruim é que parece que o Cut Copy está em franco processo de adultização do seu pop mezzo eletrônico mezzo indie. Em "Where I'm Going", a banda resolveu investir numa levada que o MGMT abandonou já no segundo disco, ou seja, uma espécie de neo-psicodelia não tão cabeçuda quanto um Syd Barrett e tão acessível quanto um The Who. Espero que o Cut Copy não perca o frescor de faixas como "Hearts On Fire" e "Far Away", ou corre o risco de entrar pro seleto grupo de malas sem alça que todo mundo se rasga de elogios mas ninguém aguenta ouvir mais de uma vez.
The Suburbs, novo álbum dos canadenses do Arcade Fire é o disco do ano. Ninguém vai vir com algo tão bom assim em 2010. Situado entre "dois pólos extremos de rock e eletrônica" pelo multi-instrumentista Will Butler e ainda definido por seu irmão (também principal vocalista e compositor da banda) Win Butler como "um mix de Neil Young e Depeche Mode", o disco é o terceiro capítulo na impressionante discografia do grupo e sai oficialmente dia 02 de Agosto. The Suburbs tem seções de cordas magistrais - característica mantida com extremo bom gosto desde sua estréia em 2004 com Funeral. Os arranjos aproveitam sem exageros a diversidade de instrumentos e timbres usados; aqui tudo é funcional e ambicioso. Use a faixa-título como amostra. Piano, violão e bateria numa base viciante, cellos e violinos em contraponto ao refrão com os vocais em falsete de Win, a melodia triste mas contida. Tudo isso pode ser ouvido com igual impacto na faixa "Deep Blue". Agora pense que num mundo onde existe um subgênero musical chamado emotional hardcore, o Arcade Fire mostra em canções como essas como não soar emocionalmente estúpido e vazio como os representantes do rótulo emo. "Ready To Start" e "Modern Man" trazem camadas sobrepostas de guitarra, discretos efeitos eletrônicos e principalmente a lembrança de que uma banda que é chamada de alternativa pode compor canções de apelo pop sem precisar abrir mão da palavra "criatividade". Num mundo onde existe um subgênero musical chamado post-rock, o Arcade Fire mostra como não soar insuportavelmente inaudível como a maioria dos representantes desse rótulo inexplicável. O pedaço Neil Young do disco salta fácil aos ouvidos com a pegada alt-country de "Wasted Hours", assim como a fatia Depeche Mode é apreciada numa levada disco-espacial em "Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)", com vocais da esposa de Win Butler, Régine Chassagne. Perca-se em faixas sublimes de arranjos bem pensados como "We Used To Wait" e aprecie com toda atenção o pianinho killer golpeado à Jerry Lee Lewis, as cordas e o contratempo da bateria. Desfrute igualmente de músicas mais enérgicas com guitarras de timbre limpo e côros emocionantes ("Suburban War"), surpreenda-se com mini-sinfonias de bolso ("Rococo"). O Arcade Fire entrega mais um álbum inacreditável, de fantasia pungente e poética, extremamente acessível e de uma originalidade assombrosa para os dias de hoje.
Nota: 9
Para quem gosta de: Radiohead, Manic Street Preachers, Coldplay
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"The Suburbs", faixa-título do álbum que possui oito variações para a capa abaixo:
Não se sinta culpado por não ter achado Further nada de mais. O novo álbum do Chemical Brothers, lançado mês passado, é mais do mesmo. Soa irremediavelmente como auto-paródia, uma repetição das fórmulas vencedoras de seus seis discos anteriores. Pode ouvir, está tudo lá: o tecnão 4x4 recheado de vocoders, samples bizarros (embora me pareça meio óbvio que uma faixa chamada "Horse Power" contenha relinchos de cavalo) e as rajadas de teclados nervosos que deram as cartas em Surrender aparecem em "Escape Velocity" e "Horse Power". O rock reprocessado do fantástico Dig Your Own Hole está bem nítido nas baterias explosivas e guitarras sujas de "Dissolve" e "K+D+B". Timbres alienígenas e vocais indie/preguiçosos também sempre estiveram presentes no trabalho de Ed Simons e Tom Rowlands, e em Further a faixa "Another World" cumpre esse papel - com vocais da cantora e compositora americana Stephanie Dosen. Aliás, eis uma novidade no trabalho do Chemical Brothers: este é o primeiro disco da dupla que não traz vocalistas convidados, à exceção de Stephanie que colabora em algumas faixas. Os vocais (onde há vocais) estão todos a cargo de Tom Rowlands. A melhor faixa do disco e primeiro single oficial, "Swoon", tem um riff de sintetizador que lembra muito a linha melódica de "Lush 3-1" do Orbital, o que não deixa de ser uma ótima referência. O álbum encerra com "Wonders Of The Deep", aquela mesma viagem lisérgica/progressiva que encerra os discos do Chemical Brothers. Further não é, de maneira nenhuma, um disco ruim. Ele mantém o alto padrão de qualidade das produções da dupla inglesa, mesmo que não apresente nenhum caminho diferente do que estamos acostumados quando ouvimos um álbum dos Brothers. Além do mais, surpreendente mesmo seria esses caras aparecerem com um disco de jazz ou rumba, o que definitivamente não deve acontecer.
Em primeiro lugar: esqueça o rótulo IDM que carimba o trabalho do Autechre. A sigla inglesa para Intelligent Dance Music é uma bobagem, porque coloca no mesmo saco artistas como Aphex Twin, LFO, Ulrich Schnauss, Amon Tobin e u-Ziq, e todos tem muito pouco a ver entre si. O que os torna parecidos é um certo gosto pelo experimentalismo eletrônico, mas isso não significa exatamente Dance Music Inteligente, porque a maior parte do material desse pessoal nem é dançável. A dupla britânica Autechre existe desde 1987 e sua extensa discografia ganhou esse ano mais dois discos: o álbum Oversteps lançado em fevereiro (download) e Março (CD/LP) e o EP Move Of Ten disponibilizado para download em Junho e no formato físico em Julho. Rob Brown e Sean Booth são uma usina de idéias, fato comprovado pela diversidade dos experimentos (e principalmente dos acertos) em Oversteps. Eles não facilitam nada a vida do ouvinte, e mesmo assim é difícil não ficar hipnotizado com a batida desorientadora e os timbres subterrâneos de "r ess", ou com o rolo compressor de distorções em "ilanders". Soando como uma banda de jazz eletrônico que constrói, desenvolve, destrói e reconstrói os temas, as faixas de Oversteps apresentam incursões de música ambiental como na chuva de cristais sintetizados de "see on see", ou na impressionante "known(1)": aqui os timbres sugerem uma espécie de koto robótico que ajudam a criar a atmosfera oriental da música, da mesma forma que "O=0" lembra algo como um xilofone cibernético explorado por mãos cheias de chips e placas de circuito. Já o EP Move Of Ten é imediatamente menos acessível que Oversteps e investe pesado em desconstrução rítmica ("Etchogon-S"), techno encorpado ("M62") e faixas sombrias e opressivas; ora carregadas de ruídos inaudíveis como em "Cep puiqMX", ora trazendo um clima de desolação contemplativa ("nth Dafuseder.b"). Só não estranhe os títulos das canções convertidos em códigos indecifráveis pelo Autechre: a qualidade das composições é tão boa que a música realmente dispensa símbolos de identificação imediata, como letras.