"It's just not good enough for a Kompakt release..."
Quando li esse comentário de um leitor do
Resident Advisor sobre o debut do produtor dinamarquês Rune Reilly
Kölsch (
1977, saiu no meio do ano), fiquei pensando que tipo de música poderia se encaixar no perfil artístico da
prestigiada gravadora alemã, segundo o conceito ortodoxo do inconformado rapaz.
O certo é que a habilidade de Kölsch em transformar sua produção minuciosa em temas de fácil assimilação, é admirável. Algumas coisas já nasceram prontinhas. A trinca inicial de faixas, por exemplo, é de tirar o fôlego. Cada detalhe da abertura "Goldfisch" vale a análise: é a locomotiva de sintetizadores que vai puxando consigo loops esquisitos entre uma melodia fofinha, é a sacada do contratempo da caixa, é o efeito tranceiro de jato em decolagem. E "Opa", então? Timbres deformados e nem tão amistosos viram um riff que sofre mutação constante durante toda sua extensão. "Bappedekkel" talvez seja a melhor do álbum. A sucessão de sons que parecem estar fora de tempo vai gravitando em torno da percussão, até que as batidas cessam e os sintetizadores aceleram num espiral de causar vertigem. O truque é repetido em "Loreley", com resultado igualmente acachapante. Kölsch vai atirando em vários alvos e seus disparos passam raspando em alguns momentos: na um tanto monótona house-com-piano-saltitante em "Der Alte", na mais pop do que synth "All That Matters" (a única faixa com vocais, do também dinamarquês Troels Abrahamsen), na óbvia "Basshund", e nas faixas "Oma" e "Zig", em que ele fica à um passo da EDM (Eletrônica Descartável Medíocre). Mas Kölsch se recupera rápido e manda mais três tijoladas pra fechar 1977 com saldo positivo: os lindos arpejos à Kraftwerk de "Wasserschutz", o redemoinho de sintetizadores de "Loreley" e o techno engrenado de "Felix".
1977 é um disco com uma produção detalhista, pra ficar atento em sua hora e pouco de duração. É bem verdade que metade de suas faixas já haviam saído como single desde 2010 (pela própria Kompakt), e agrupar um trabalho tão consistente como esse em forma de disco é quase covardia. Mas é a oportunidade dos fãs - não só de tech-house ou progressive, mas de eletrônica em geral - ouvirem numa tacada só, um dos álbuns de dance music mais sólidos do ano.
"Bappedekkel": efeitos e timbres de cair o queixo.