terça-feira, 29 de setembro de 2015

Sun Is Shining


Lembra do Sunscreem? Ingleses de Essex, o grupo teve em "Love U More" um hit bem expressivo no biênio 1992/1993. A faixa entrou no Top 40 do paradão americano, ganhou alta rotação nas FMs e pistas e foi sucesso também aqui no Brasil. Na colada veio o bom debut O₃, com um mix bem dosado de trance, house e breakbeat. Era uma visão pop do techno e funcionava muito bem tanto nas raves quanto nos fones de ouvido. O₃ envelheceu dignamente, tanto que o novo álbum do quarteto (com sua formação original), Sweet Life, lembra bastante a estreia da banda. A comparação não é depreciativa. Prova que o Sunscreem não perdeu a habilidade de compor belas canções dançáveis utilizando inteligência e criatividade nos arranjos ("What Will The Sun Say" é um ótimo exemplo), que a voz de Lucia Holm continua adorável (ouça a arrepiante faixa título) e que é possível abrir mão das soluções fáceis disponíveis na dance atual e apostar num tipo de som em que o grupo realmente acredita: o que privilegia melodias, beats que fogem do lugar-comum, basslines poderosos e construções eletrônicas especialmente bem feitas. A faixa de abertura, "Here's The Summer", poderia fazer as vezes de uma "Love U More" atual. Mas tenho quase certeza que isso não vai acontecer. A razão é simples: ainda há, sim, gente que se preocupa com noções como talento e inventividade na hora de ouvir ou dançar. Questão é que essa fatia do bolo é tão pequena hoje em dia que é incapaz de fazer com que o Sunscreem sequer tenha Sweet Life clicado de forma relevante num serviço de streaming qualquer. Imagina voltar a ter um desempenho comercial digno de nota. Se você puder, não desperdice.

"Shut Up":


sábado, 26 de setembro de 2015

Back To The Jungle


Está sendo exibido desde 14 de Setembro, pela TV de entretenimento britânica Watch, a ótima série Singing in the Rainforest, que leva artistas ingleses pra uma trip de uma semana por algumas das comunidades mais isoladas do mundo. Dia 21 de Setembro, foi a vez do Happy Mondays. Levados para o Panamá (onde conheceram a tribo Embera Drua), a experiência culminou na apresentação de uma faixa inédita da banda, "Ooo La La To Panama", pra uma plateia que nunca ouviu falar dos Mondays, mas interagiu da forma mais espontânea possível, recheando o rock grooveado do grupo com percussão e vocais de apoio. O resultado é sensacional. A música já está disponível para download no iTunes e parte do lucro com as vendas será revertido para a tribo. Palmas.

"Ooo La La To Panama": mancunianos na floresta.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Paula Abdul



Olha, eu era louco por essa mulher. Cantava direitinho, era excepcionalmente bonita, dançava pra cacete e balançando essa franja repicada aí, Paula Abdul atiçava a galera da mão direita na virada dos 80 pros 90. Forever Your Girl - seu arrasador debut de 1988 - vendeu algo em torno de 12 milhões de cópias mundo afora e combinando pop, dance e R&B, gerou sete singles, quatro deles no topo do Hot 100 da Billboard. Nada mau. Minha preferida da moça é "Straight Up", um sacolejo new jack swing pontuado por um trompete sintetizado e um refrão absolutamente certeiro.

"Straight Up": dançava pouco.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Caras Novas: Torul


Torul é uma banda eslovena de electropop liderada pelo compositor, produtor e fundador do projeto, Torul Torulsson (o da esquerda, na foto acima). Na ativa desde 2010, o grupo vem lançando singles e álbuns por micro selos alemães (Low Spirit Recordings, Infacted Recordings), ganhou alguma rotação na MTV alemã com o vídeo stop-motion para a faixa "Try" (2011) e já está no quarto álbum (The Measure, lançado em Março deste ano). Não difere muito do synthpop germânico atual, mas explora bem as influências de tons cinza escuro de Torulsson (The Cure, Siouxie and the Banshees, Dead Can Dance) sem resvalar na caricatura, além de ter uma mão boa pra compor boas canções pop de plástico. Conheci a banda através de uma das faixas de The Measure, a ótima "Difficult To Kill" (também lançada como single). Os vocais de Jan Jenko são meio canastrões, mas a música é bem feitinha, algo entre The Twins e Clan Of Xymox - o que sempre tem boas chances de acertar em cheio os ouvidos de novos e velhos fãs de bandas dark/góticas que não dispensam o uso do sintetizador. Vale o confere.

"Try":



"Difficult To Kill":

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Whole Lot Of Soul


A despeito da predominância chacundum/sintética deste blog, a nova música de Duffy merece o registro. "Whole Lot of Love" é o primeiro single da cantora galesa em cinco anos e a faixa está também no thriller Legend, já em cartaz na Inglaterra e que estreia nos cinemas americanos no começo de Outubro (Duffy também atua no filme). Raízes fincadas no soul, "Whole Lot of Love" tem o lindo timbre de Duffy entre uma linha de baixo demolidora, guitarras sinuosas e metais certeiros no refrão. É uma bela canção de amor que também pode ser um eficiente estimulante pra pista de dança. A ótima baladona "Dear Heart", que está no lado B, não fica muito atrás: Duffy desfila sua voz com a pequena porcentagem de rouquidão necessária pra provocar arrepios sob a flor da pele junto com o vai e vem sedutor do arranjo de cordas e as levadas jazzísticas das guitarras semi-acústicas. A única reclamação sobre "Dear Heart" é o constrangedor fade out em 02:30. Negócio é esperar pra ver o possível desfecho da canção num provável novo álbum. Por enquanto, a sede por Duffy está saciada.

"Whole Lot of Love":



"Dear Heart":

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Chromesthesia


É assim: do nada, de alguém que você nunca ouviu falar, cai no seu colo uma das músicas mais legais já ouvidas nesse 2015. Horixon é a dupla de produtores Andrew Armstrong e Joe Sambrooke, oficialmente eles tem só dois singles lançados até agora (Lifeline, pela Kitsuné, em 2013 e Hold It Like I Own It, pela Eskimo Recordings, de 2015) e acabaram de soltar faixa nova, a incrível "Colours" (com Else Born ao microfone). Lindos strings, baixo picotado e vocais emotivos. Gostei na hora.

"Colours":

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

No Midas Touch


Não sei. Alguma coisa não deu certo nesse remix do cultuado produtor norueguês Hans-Peter Lindstrøm pra faixa "I Know There's Something Going On", lançada originalmente em 1982 (com produção de Phil Collins) por 1/4 do ABBA, a vocalista Anni-Frid Lyngstad (aqui no Brasil, saiu na trilha da novela Louco Amor, um ano depois). OK, Lindstrøm imprime seu carimbo no trabalho (arpejos mil e uma certa suntuosidade space-disco), mas os vocais de Frida não me soaram casadinhos com essa base que ele montou. E esse solo de guitarra fazia todo sentido na pegada roqueira-de-mentirinha do original, mas me pareceu despropositado e totalmente deslocado na versão de Lindstrøm. Ouvir é uma experiência bacana. Dançar é tão excitante quanto assistir uma horinha de TV Câmara.

O original:



O remix:

domingo, 20 de setembro de 2015

Comeback Celebration


Nas bravas lojas de discos que ainda restaram, o Beborn Beton provavelmente ocupa um lugar na prateleira ao lado de De/Vision, Wolfsheim e Camouflage. Você sabe, são aquelas bandas bem intencionadas que, segundo os detratores, sonham em ser confundidas com o Depeche Mode, exploram o lado menos cerebral do synthpop e dificilmente vão conseguir um lugar melhor do que o segundo escalão do gênero. O que chega a ser injusto, porque a persistência destes alemães é admirável: eles seguem lançando discos (estão nessa desde 1989) e, mesmo sem hits, excursionam e mantém uma carreira relativamente estável. O recém lançado A Worthy Compensation (décimo álbum da banda - com belíssimo projeto gráfico, diga-se) veio depois de um hiato de dezesseis anos sem material novo. Talvez não seja uma obra-prima como alardeia o release da gravadora Dependent Records, mas me surpreendeu. E muito.

A faixa de abertura, "Daisy Cutter", é um bom exemplo. É pop eletrônico de antigamente numa linguagem que explora as facilidades técnicas atuais, com a escolha muito feliz dos timbres dos teclados e uma composição que não desperdiça a oportunidade de colocar um bom refrão, no lugar certo.



O Beborn Beton afasta-se do future pop voltado pra pistas alternativas e mais ligado à EBM - como o urdido por gente como Covenant e VNV Nation - e mantém o foco num technopop puro e limpo, sem quaisquer bizarrices de tons gótico/industriais. O que rende faixas realmente inspiradas, como "Last Day On Earth".



As surpresas não param por aí. Há quanto tempo eu não ouvia uma música emocionante, que contraria argumentos infundados dos difamadores do gênero - que alegam que o synthpop carece de sentimento e musicalidade - como "She Cried"? Desde o último do Mesh (Automation Baby, 2013), talvez? A faixa é um dos pontos altos do disco. Tem a dose certa de melancolia - expressa tanto nos vocais de Stefan Netschio quanto na variedade dos sons extraídos dos sintetizadores - e mesmo assim, não esbarra na pieguice.


Em "Terribly Wrong", harmonias vocais bem trabalhadas encaixam-se perfeitamente ao aparato eletrônico, em mais um refrão digno de grudar na memória.



Menção honrosa para a levada pop emoldurada por uma cascata sintética no refrão de "I Believe", para a produção esmerada da faixa título (que é também a única música do álbum que não dispensa formalmente o uso da guitarra) e ainda para a incrível construção épica/futurista de "Who Watches The Watchmen", com suas dramáticas aparições de piano, cordas sombrias e programações de baixo e bateria realmente impressionantes.

Produzido com a ajuda de Olaf Wollschläger (Mesh, Yello), A Worthy Compensation deve ser, mesmo, o disco que o trio anunciou, em caixa alta, no site da gravadora: "...THE BEST ALBUM WE WILL PROBABLY EVER MAKE." Eu, que nunca prestei muita atenção no som do grupo, fiquei surpreso com a qualidade e o nível das composições apresentadas - e a edição de luxo ainda tem sete faixas extras; incluindo remixes, versões alternativas e uma ótima versão de "Folsom Prison Blues", de Johnny Cash. A falta de modéstia ou o bom senso marketeiro da banda justifica-se: a volta do Beborn Beton foi composta e planejada por mais de sete anos, o que resultou nesse que é, disparado, o melhor álbum synthpop que ouvi em 2015, até agora.

"Folsom Prison Blues": Johnny Cash, da penitenciária às pistas de dança.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Tiësto


Primeiro ponto: eu odeio o Tiësto. Não, pera. Eu odeio a música do Tiësto. Nem conheço o holandês direito, mas - a julgar por algumas entrevistas e pela pose estudada enquanto discoteca - ele tem a maior pinta de maleta sem alça, mesmo. Enfim. Seu trance rasteiro nunca me interessou. Fora aquele remix que tirou o Delerium do anonimato ("Silence", 2000, com vocais da ótima Sarah McLachlan), não tem nada de seu trampo autoral que me chame a atenção. Ah, sim, tem "Who Wants To Be Alone", também. Inclusa no álbum Kaleidoscope, de 2009, a faixa foge da tecladeira épica e dos beats acima de 130 BPMs, característicos do DJ e produtor - como, aliás, boa parte das faixas do disco, que atira em vários alvos e erra quase todos. Com um batalhão de vocalistas convidados (Calvin Harris e Kele Okeleke, entre eles), Kaleidoscope foi uma tentativa de Tiësto provar que nem só de trance vive o homem atrás das pickups. Entrando com os dois pés num pop dance pra lá de descartável, o plano não deu muito certo. "Who Wants To Be Alone" é quase o oásis do disco. Em termos mercadológicos, o single foi um fiasco. Mas ouvindo bem, merecia melhor sorte. Tem a voz anasalada de Nelly Furtado e uma levada boa o suficiente pra manter os pés em movimento. Induz o tamborilar de dedos naturalmente e Nelly deixa o fogo bem aceso durante os pouco mais de quatro minutos e meio de duração. Gosto muito.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

AlunaGeorge + ZHU


O produtor Steven Zhu une forças com a talentosa dupla britânica AlunaGeorge e o resultado é um estouro. "Automatic" sai por esses dias como single e deve estar também no segundo EP de Zhu, o colaborativo Genesis Series (que traz ainda Skrillex, A-Trak e Bone Thugs-N-Harmony). "Automatic" tem o refinamento UK garage do AlunaGeorge, mas quase não consigo perceber a mão EDM de Zhu aqui. A faixa dá uma quebrada no minuto final, o que uma edição pra pista pode limar sem culpa.

domingo, 13 de setembro de 2015

Lições De Um Remix


Imagine a cena: você é um DJ que já tem boas horas de experiência na cabine, mas ainda está dando os primeiros passos no estúdio. Então a gravadora te convida pra fazer um remix de uma faixa estourada nacionalmente. O material que ela te disponibiliza consiste em Gillette, régua e fita adesiva.

Por mais estranho que isso possa parecer hoje em dia, era esse o cenário nos anos 80. A música em questão é "Ela Não Gosta de Mim", da boy band brasileira Dominó - uma versão em português do hit "Standing In The Twilight", da dupla holandesa Maywood. Softwares de edição em computadores ainda não eram nem sonhados e a dificuldade em editar um remix de forma praticamente artesanal era enorme. O DJ e produtor Sylvio Müller, que foi incumbido da tarefa (junto com os DJs Cabello e Grego) de levar o Dominó das rádios e TVs para as pistas de dança, explica - entre um e outro "Mansss!", seu inconfundível bordão - como foi o processo.

De quem partiu o convite pro remix?

O primeiro Dance Mix (série de coletâneas de remixes de faixas do pop nacional dos anos 80, iniciada em 1985) foi um projeto da CBS (atual Sony Music), no qual o DJ Grego foi o encarregado de convidar os DJs para participar do empreendimento. Na época da Pool FM, nós já fazíamos remixes pra tocar na programação diária da rádio, mas para profissionalizar mesmo a situação dos remixes no Brasil, a CBS colocou o Grego para dirigir esse projeto e eu fui convidado pra fazer o remix do Dominó, junto com o DJ Cabello, porque era realmente um remix muito complicado. Já havia acontecido o primeiro remix que foi um sucesso nacional, "Loiras Geladas" (RPM) e o segundo também teria que ir pro mesmo caminho. Então o Grego convidou a mim e o Cabello porque nós editávamos vários gêneros de música - do rock ao pop, soul, black e dance em geral. Topamos editar o Dominó, mas com a condição de que no próximo trabalho tivéssemos o poder de escolher o remix a editar. Nesse Dance Mix nós fizemos o Dominó e uma faixa do Ritchie, "Tele Notícias", também. A faixa que escolhemos pra trabalhar na próxima edição da série foi "Olhar 43", do RPM. A curiosidade sobre o Dominó é que foi uma produção vinda da Espanha, feita por Oscar Gomez, que era um grande produtor musical e nós fizemos as novas mixagens pra música com uma master de muita qualidade (a letra em português foi feita pelo cantor, compositor, maestro e pesquisador Edgar B. Poças, pai da cantora Céu e de Diogo Poças). Na edição, deixamos a música bem pop, pra pista mesmo. Assim, conseguimos dar continuidade a esse tipo de trabalho por aqui e esse remix foi muito importante pra história do remix no Brasil.



E os sintetizadores e baterias eletrônicas adicionais, foram vocês que fizeram, também?


O master
era muito bem feito. Oscar Gomez era um ótimo produtor e nessa época ele já usava sintetizadores, sequenciadores e beats eletrônicos. Na época usávamos a bateria eletrônica LinnDrum. Nosso trabalho com o remix era de deixar a música com um formato mais adequado pra tocar na pista. Então realçávamos as baterias, o groove, deixando os elementos da parte rítmica em evidência. A partir da edição, temos a montagem, que faz com que a música adquira consistência. Esse método de edição que usávamos era do mesmo nível de um Shep Pettibone, Arthur Baker e John Jellybean Benitez, grandes produtores e remixers que nos ensinaram como deixar a música com características próprias de pista. Na edição e montagem da nova versão tínhamos que ter uma sensibilidade muito grande para saber o que cada música precisa e o Dominó foi uma música muito complicada de fazer. O resultado está aí e depois de 30 anos, dá orgulho de ouvir.


E o método disponível na época eram as masters em tape de rolo, Gillette, régua e fita adesiva, mesmo, ou já pintava alguma coisa via computador?

Não tinha computador, não, mans. Nessa época a gente pegava a fita master de duas polegadas, onde havia os canais separados. Fazíamos uma nova mixagem da música e então tirávamos todos os elementos: bateria, baixo, teclados, guitarra, voz, etc... Depois, resolvíamos tudo na edição. Não tinha computador na época. Esse era o segundo estágio. A primeira parte da nova mixagem era abrir o master e só depois ia pra edição, onde fazíamos o chamado half mix, que era pra não ficar quebrando a cabeça no estúdio e ficar gastando muita grana (porque o estúdio era caro). Então fazíamos num gravador Akai o half mix, que era uma prévia do que iríamos editar no estúdio, pra daí então entrar nas máquinas de estúdio. Vale ressaltar que a CBS nos deu suporte pra fazer o trabalho nos melhores estúdios da América Latina, que eram os estúdios da Transamérica. A gravadora nos oferecia engenheiros de som e equipamentos de alta qualidade, depois, era tudo com a gente: cortar literalmente a fita com a Gillette e colar com todos os elementos (vocais acapella, instrumentos) sendo disparados diretamente do tape de rolo. Não tinha nada de software.


O remix chegou a sair numa versão 12" pro mercado ou foi incluída exclusivamente nessa compilação?

Todas as versões que foram incluídas na série Dance Mix, saíram também como promos, mas não foram colocadas à venda. Existe o 12" em vinil e a versão que saiu na compilação era o remix oficial mesmo, idêntica ao promo.

Tu tinhas a informação da lista de equipamentos usados na gravação original da música? Qual sintetizador, drum machine?

Sim. Quando abrimos a master onde estão os canais separados da faixa, a produção do estúdio coloca a lista de equipamentos utilizados, para que possa ser aberto em outros estúdios. Na época era o começo do Yamaha DX-7, dos sintetizadores polifônicos. Eram recursos analógicos que já tinham como ser colocados no sistema de sincronismo que chamamos de SMPTE, que sincronizam as máquinas onde você pode ajustar o tempo de uma bateria eletrônica com um gravador de rolo. Obviamente que nós, como DJs, já sabíamos a diferença entre os sons de um MiniMoog, Hammond, Fender Rhodes... os timbres, tanto de teclados como de outros instrumentos e principalmente de baterias eletrônicas, já estávamos bem informados. Sincronizar, colocar tudo funcionando foi uma etapa de engenharia de áudio, que nós passamos a aprender. Fomos as cobaias desse processo.

 Esse foi, de fato, um dos primeiros remixes feitos no Brasil. Qual foi a repercussão entre DJs, produtores, jornalistas? A faixa chegou a fazer o crossover das pistas pro rádio, chegou a popularizar essa versão nas FMs?
Olha, mans... esse remix foi realmente uma zica (risos). Essa música era muito complicada. Nenhum DJ queria pôr a mão e muito menos tocar. Esse remix fez com que ela entrasse nas pistas e fosse depois, naturalmente, pro rádio. Deixar ela com uma cara de pista de dança é que foi um trabalho de dedicação que tivemos, porque não havíamos feito algo assim anteriormente. Não tínhamos referência, esse foi o primeiro, mesmo. Pegar um grupo super pop e deixar ele adequado pras danceterias foi um laboratório e tanto, onde nós fomos as cobaias e o Dominó, nosso produto (risos).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: F.R. David


Na França dos anos 70, o tunisiano Elli Robert Fitoussi havia tentado emplacar com bandas de rock de garagem, progressivo e até como vocalista em alguns álbuns do Vangelis. Acabou dando certo quando ele saiu em carreira solo, embarcando na onda synthpop do começo dos 80 e assumindo o pseudônimo F.R. David. Com um visual característico (os onipresentes óculos escuros) e a Stratocaster branca em punho, cravou um dos maiores sucessos do biênio 1982/1983: o single "Words" vendeu mais de oito milhões de cópias. Na Europa, bateu no primeiro lugar nas paradas de 13 países (foi número dois na Inglaterra) e, só na França, foram mais de um milhão de cópias comercializadas. Aqui no Brasil, a novela Guerra dos Sexos tratou de popularizar a faixa. Não é minha favorita do artista (mais próxima à italo disco, "Take Me Back" - do álbum de estreia de David, Words - tem minha preferência), mas é uma música bacana. Mesmo com os vocais altíssimos e meio enjoados de Fitoussi, é uma baladinha que funcionou bem nas danceterias da época. E volta e meia aparece no playlist das Antenas 1 da vida.

"Words":



"Take Me Back":

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Memê In The Mix


MEMIX Recordings é o novo selo de dance no mercado "dedicado exclusivamente à música de qualidade influenciada por House e Disco" (conforme definição no Soundcloud). Cria do imparável DJ Memê, a gravadora debutou com o single "Son Of A Gun", creditada como Mansur (sobrenome de Memê). A faixa é uma house robusta com bassline forte (feito num sintetizador Yamaha TX81Z, circa 1987), vários chamados pra pista e sample do Technotronic (um dos synths memoráveis de "Pump Up The Jam"). Planos para lançamentos futuros incluem o próprio DJ Memê (com seu som mais orientado para disco-house clássica) e o misterioso Mordechai, com ênfase na eletrônica.

"Son Of A Gun" está à venda exclusivamente no Traxsource, onde ocupa o segundo lugar no Top 100 do site, com pouco mais de uma semana de lançamento. Promissor.

"Son Of A Gun":

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ilha Techno


Isolée (o produtor e DJ alemão Rajko Müller) lança single novo pela Pampa Records (do DJ Koze). Sai oficialmente dia 11 de Setembro. Não sei qual a relação com a "ilha da magia" catarinense, mas o lado A chama-se "Floripa" (o B, "Favouride"). "Floripa" encaixa-se confortavelmente na onda da Pampa: é tech house com alta variedade percussiva, texturas ligeiramente sombrias e várias camadas de sintetizadores sobrepondo-se. Já "Favouride" tem mais a ver com o estilo minimal e engrenado de Müller. Ambas excelentes.

"Floripa":



"Favouride":

domingo, 6 de setembro de 2015

Química Previsível


A culpa é, de certa forma, do próprio Chemical Brothers. Quando Ed Simons e Tom Rowlands conceberam a obra-prima Dig Your Own Hole (1997), eles certamente não poderiam prever que nada que viesse depois iria superar esse álbum. Substituir parte das baterias cruas do big beat enérgico que estourou o som da dupla mundo afora pelo technão 4X4 que tomou metade do trabalho seguinte Surrender (1999), foi não só uma correção de rota ou busca de novos limites pra sua música, mas também uma clara (e louvável) tentativa de fugir de estereótipos, autorreferências e comparações. A atitude deixou vários órfãos entre os fãs, arrebatou tantos outros (especialmente por causa do hit "Hey Boy Hey Girl") e foi muito bem recebida tanto pelo público quanto pela imprensa especializada. A marca indelével no som do grupo, porém, ficou bem definida e o que não dá pra ignorar é que a partir daí, cada vez que se fala em disco novo do duo, a gente já consegue prever - com bom índice de acertos - o que vem a seguir. O mix de rap, funk, house, psicodelismo e rock não pega ninguém de surpresa. E é aí que está o pecado (perdoável) dos Brothers, independente dos altos e baixos na sua discografia. Em compensação, penso não decepcionar nem quem os acompanha há algum tempo, nem quem está descobrindo a química dos irmãos postiços somente agora. O que vale, claro, é deixar-se levar pelas suas criações que muitas vezes desafiam classificações possíveis, num entra-e-sai de gêneros que fundem-se entre si até gerarem coisas como o big beat - que teve no debut Exile Planet Dust (1995), seu marco zero. Em seu oitavo álbum, Born In The Echoes, lançado mês passado, não é diferente.

 Como sempre, o disco traz cantores convidados e aqui a bola da vez é Annie Clark (St. Vincent). É fato que Rowlands e Simons tem essa certa predileção por artistas cool, mas não vi nada que fizesse diferença em sua participação tímida na gravação de "Under Neon Lights" - ao contrário de gente que já esteve nos créditos de seus álbuns, como Hope Sandoval e seus vocais particularíssimos, por exemplo - fora a impressão de que o fator "queridinha do momento" da musa indie ganha em relevância no que tange ao respeitável fole vocal de uma Beth Orton, outra colaboradora frequente da dupla.

Ali Love também se sai mal. O cantor britânico, que já tem uma faixa (a razoável "Do It Again", de 2009) com os Brothers no currículo, aparece messiânico e irreconhecível no techno "EML Ritual", o que tanto pode ser uma prova de versatilidade do vocalista quanto uma simples adequação à temática proposta (eles sabem o que estão fazendo, mas abrir mão do falsete agradável de Ali é subaproveitar seu potencial).

Já Q-Tip (do A Tribe Called Quest) casou muito bem sua excepcional qualidade de parecer rapear com um prendedor de roupas no nariz com a levada empolgante de "Go!", talvez a melhor música do disco (ele também se saiu magistralmente em outra colaboração com o duo, "Galvanize", de 2005), a despeito do vídeo tenebroso:

Uma das faixas mais legais é a que menos soa Chemical Brothers. A melancolia reluzente e a simplicidade eletrônica de "Wide Open" (com vocais de Beck) lembram um hipotético Hot Chip com um vocalista decente.


O que me dá um certo receio é perceber que eles precisam, eles fazem questão, de destruir boas ideias com alguma minúcia que pareça pretensamente artística. Tome o funk hipnótico de "Let Us Build a City" (incluída como uma das bonus tracks da Deluxe Edition), como exemplo. Precisava mesmo aqueles sintetizadores tocados com os cotovelos? Não sei se é uma estupidez jogar fora uma linha de baixo preciosa como essa com umas bobagens atonais com jeitão de improviso ou se é isso que faz seu som tão particular.


A esquisitice da simplesmente intragável "Taste Of Honey", é uma ode à chatice, mesmo. Trôpega e incômoda, dá pra clicar no botão skip sem a menor culpa. O mesmo vale para "I'll See You There", mais uma faixa inspirada em "Tomorrow Never Knows" (Beatles), assim como "Setting Sun" e "Let Forever Be". "Born in the Echoes" é um bom pedaço de rocktrônica do álbum e a psicodelia de "Radiate", cumpre a função habitual de desacelerar por instantes o andamento quase frenético dos seus discos.  

A remissão de Rowlands e Simons é um clichê surrado, mas válido: a falsa expectativa por material inédito produzido pela dupla é encoberta pela certeza de que os Brothers nunca embarcaram - mesmo - em nenhuma febre de pista qualquer pra se manter "atualizados" e não seria depois de sete discos que isso iria acontecer. Por outro lado, é covardia comparar Born In The Echoes com trabalhos anteriores. Mas é, também, inevitável. Enquanto produto dance/eletrônico, o álbum mantém-se corpos à frente da manada vigente. Tratando-se de um disco da dupla, o resultado desta vez é apenas mediano.

"Sometimes I Feel So Deserted": bleeps techno à exaustão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Backstreet Boys


Composta e produzida pela dupla com toque de Midas, Denniz Pop e Max Martin. Single de estreia dos Backstreet Boys, "We've Got It Goin' On" teve desempenho modesto no mercado americano quando foi lançado (1995), mas voou alto nos paradões europeus e mostrou que os produtores suecos estavam certos em apostar no quinteto de Orlando. Ao menos comercialmente (130 milhões de discos vendidos até hoje), o grupo foi muito bem sucedido. "We've Got It Goin' On" é daquelas pérolas saídas da cabeça pop de tiozinhos talentosos pilotando a mesa de som, do refrão ganchudo ao riff principal - que eu não sei definir até hoje se é uma sessão de metais duplicada ou são só sintetizadores emulando 12 saxofones ao mesmo tempo.

"We've Got It Goin' On": "everybody groove to the music..."

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Aerohouse


Numa palavra? Eficiência. O novo EP do Aeroplane (o DJ e produtor belga Vito de Luca), Page One Is Love (saiu pela Eskimo Recordings), traz duas inéditas (bem parecidas entre si) e dois respectivos remixes. “Page One Is Love” tem a moral de ter o título sussurrado por Jamie Principle, o autor do monolito "Your Love". É um lindo pedaço de piano house com bassline simples e envolvente, caminha de synths que mantém a temperatura acima dos 30ºC e vocalizes sonhadores. Já a irmã gêmea "Dancing With Each Other" mantém o clima baleárico, com bleeps sintéticos substituindo as marteladas de piano. Ambas muito boas. Os remixes de CASSARA (para "Page..") e Ten Ven ("Dancing...") são pequenas variações para os temas, com alterações das linhas de baixo: CASSARA deixou as quatro cordas mais robustas, enquanto Ten Ven optou por uma mixagem quase acid. Beleza de disquinho.

“Page One Is Love”:


"Dancing With Each Other":