sábado, 31 de outubro de 2015

Drumba News


Não se assuste. Ringo e Paul não gravaram um disco de jungle. A figura é meramente ilustrativa. Negócio é que o drum'n'bass nunca estourou em escala planetária e ainda mantém-se muito popular no Reino Unido, mas com focos espalhados em doses homeopáticas no mundo todo. O que, de certa forma, é saudável para o gênero, já que superexposição mata, sem dó. Abaixo, alguns bons lançamentos que me chamaram atenção recentemente.

"Revolve-Her" > Alix Perez



Na ativa desde 2005, o belga Alix Perez já lançou uma batelada de singles e dois álbuns. Sua faixa mais recente, "Revolve-Her", não foge do liquid funk a que seu nome está constantemente associado. Teclados atmosféricos e enxertos vocais filtrados são adicionados de forma moderada, numa track boa pro sofá e pra pista.

 Dreamz Dub EP >  Calibre


Calibre (o irlandês Dominick Martin) mantém o alto nível de suas produções com mais um EP excelente. Dos vocalizes oníricos da abertura "Another" e do encerramento "Believe It" ao clima opressivo que os sintetizadores da faixa título sugerem, Calibre não se apega à mesmice das batidas, explorando o potencial das baterias na mesma medida em que forra tudo com graves que desafiam o capacidade dos alto-falantes.

Savage Circle EP >  Klute



Não é de se estranhar que o DJ e produtor britânico Tom Withers também seja compositor, baterista e vocalista da banda de punk/hardcore The Stupids (onde ele assume o alter ego Tommy Stupid). Seu recente EP Savage Circle saiu pelo histórico selo Metalheadz (fundado no meio dos anos 90 por Goldie e pela dupla Kemistry & Storm) e alterna momentos de fúria ("Westernized", "Mirror") com passagens totalmente ambient ("Arboretum"). A linda "Just What You're Feeling", funde os ataques brilhantes de percussão com a calmaria das cordas sintéticas.

Velocity EP > Nexus & Tight



Outro artista vindo da Bélgica, Tim Cox não se prende somente ao drum'n'bass: já tem no currículo lançamentos que incluem deep house, progressive, techno e até lounge. Seu alias Nexus & Tight (que é somente o nome do projeto, não uma dupla) assume a faceta drum'n'bass com muita competência. Velocity EP saiu em Setembro - a despeito de constar como Radar EP no Soundcloud, vai entender. O que temos são três faixas com nítidas influências de Netsky e Alix Perez, claramente direcionadas para o liquid funk. "Velocity" tem um riff/gancho de sintetizador repetido ad infinitum, enquanto "Prism" e "Spectrum" vem com baixíssimas frequências sustentando as variações da melodia.

 Flashbulb EP > Technimatic



Formado pela dupla inglesa Pete Rogers and Andy Powell, o Technimatic trabalha com as batidas velozes do drum'n'bass envolto em paisagens sonoras cinematográficas e detalhistas. Seu EP mais recente é Flashbulb (saiu em Julho) e traz a participação da misteriosa Lucy Kitchen na ótima "Secret Smile". A faixa título namora o dubstep, mas em "Dirty Hands" e "Remember You", a lenha queima com vontade.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Shampoo


Mas quem é que lembra do Shampoo? Foi uma dupla londrina formada no começo dos 90 por duas colegas de escola, flertaram com a marolinha feminista Riot Grrrl, mas com um ataque sonoro equivalente a um mix entre Boyzone, Salt-N-Pepa e Generation X. Um punkzinho de butique mezzo eletrônico, inofensivo e com uma forte imagem kitsch atrelada. O maior hit da banda, "Trouble" (1994), não pegou nem Top 10 no Reino Unido e tampouco beliscou a parada americana - apesar da campanha bolada pela EMI, que distribuiu 15 mil fitas cassete do single no país, o que serviria como uma espécie de cupom para o álbum completo (We Are Shampoo, lançado em seguida). A faixa ganhou uma sobrevida promocional no ano seguinte, quando entrou na trilha do filme Mighty Morphin Power Rangers: The Movie e garantiu uma certa popularidade para o duo também no Japão. Aqui no Brasil, lembro bem da Transamérica FM tacar no playlist e insistir por semanas com essa música. "Trouble" tem um refrão bem chiclete, um riff mediano de guitarra e um rap simplesmente intragável. O Shampoo lançou mais três álbuns (todos flopados) e acabou em 2000. 

Shampoo: "Uh-oh, we're in trouble..."

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Auto Cover


"Rat Is Dead (Rage)" foi o primeiro single do segundo álbum do Cansei de Ser Sexy, Donkey, lançado em 2008. Adriano Cintra (ex-produtor, baterista, guitarrista, baixista e vocalista da banda) resolveu retrabalhar a faixa e do limão docinho original ("quase grunge", como ele mesmo afirmou à época), fez uma limonada bubblegum eletrônica. Não que a matriz do CSS seja ruim, mas achei que melhorou muito. Participa a dupla curitibana Subburbia nos vocais.

O original:



A nova versão:

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Boogie Nights


Conversando com Marcello Mansur dia desses sobre o lançamento e a ótima repercussão do seu single Son Of a Gun (sob seu novo alter ego house, Mansur) e já sabendo que a próxima faixa de trabalho de seu selo Memix Recordings viria numa encarnação disco (dessa vez, creditado como DJ Meme), sentenciei: "Certeza que aqueles lindos strings disco, habituais em outras produções suas, vão vir nesse single". Aí o resultado. Está tudo em "Disco Knights": uma sessão de cordas com jeitão de MFSB, uma guitarrinha à George Benson, bassline forte e percussão esparsa. Um lindo pedaço de disco-house, versão 2015. Maravilha.

"Disco Knights": disco sublime.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Shania Twain


"I'm Gonna Getcha Good!" já valeria só pela capa. Pra galera da mão direita, claro. Mostra uma sporty Shania de munhequeira e boné de golfista. Uh. Bom, ela podia. Com esse abdômen chapado e no topo do mundo em 2002 (o álbum que contém a canção, Up!, chegaria à casa dos vinte milhões de cópias vendidas), ela poderia estar vestida com todo mau gosto do mundo que não faria diferença. E olha que ela caprichava no visual nos shows e vídeos, do tipo que mergulha no guarda-roupas e sai do jeito que puder. Tecnicamente, "I'm Gonna Getcha Good!" é country, mas também é tão, tão pop, que invadiu outras paradas da organizadinha Billboard. E do resto do mundo, claro. Recomendo a faixa para aquele inevitável momento da sua festinha em que se constate que o limite de 6 decigramas de álcool por litro de sangue já foi ultrapassado, as gravatas estão na cabeça e os scarpins num canto da sala. Não vão faltar cenas lamentáveis, incluindo air guitar e mãozinhas rodopiando no alto simulando uma montaria de rodeio. É sério. Experiência própria.

"I'm Gonna Getcha Good!": futurismo jeca.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Caras Novas: Barotti


A gravadora alemã Gomma Records vende seu novo peixe como um mix de Funkstörung, James Blake e peças sinfônicas. Um blend entre eletrônica e música clássica. E, talvez com um certo exagero, diz ainda que o músico e artista multimídia Barotti "criou seu próprio gênero de música". É techno esquisitinho e nubladão, mas nada que o martelo da Pampa Records já não venha batendo há um tempo. Seu single de estreia She Once Knew é, de fato, bem interessante. Tem a faixa título mais afeita à pista de dança (turbinada por um bom remix de Massimiliano Pagliara) e um lado B quase ambient, com beats quebrados e belas intervenções de cordas. Não é nenhuma revolução, mas é uma brisa fresca para os cansados ouvidos dos clubbers do planetinha. Periga emplacar.

Barotti: das galerias de arte para o estúdio.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

Moço de Fino Trato


Altamente recomendável o segundo volume da série Quantum Physical EP, do multi homem Sam Sparro. Cantor, produtor, compositor e talentoso remixador, também, Sparro é elegância pura na abertura "In Your Heaven", que instrumentalmente revive os áureos tempos do M People. "Hands Up" e "On My Mind" evidenciam os vocais soul do australiano, em levadas dançantes de house charmosa e orgânica. A baladona "We Won't Need Anything but Love" encerra o EP e resume o trabalho: classudo e muito bem produzido. Sparro há muito vem mostrando que é um cara acima da média no pop atual. Merece bem mais reconhecimento.

"In Your Heaven": finesse.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Papa Winnie


Daqueles caras que a ala xiita do reggae ama odiar. Talvez não por acaso, Winston Carlisle Peters (natural da pequena ilha caribenha de São Vicente e Granadinas) fazia um reggae pop bem rasteiro, mesmo. Escorou-se em meia dúzia de covers e chupadas na cara dura pra ganhar alguma popularidade em alguns cantos do globo no começo dos 90 - Brasil incluso. Seu primeiro hit, "Rootsie & Boopsie" usou como música incidental a tradicional canção americana "You Are My Sunshine". Depois vieram "Sorry" (nada mais do que uma versão para "Baby Can I Hold You", de Tracy Chapman) e "I Can't Stop Loving You" (famosa na voz de Ray Charles). Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos o truque que o UB40 usou pra ganhar fama mundial. De Papa Winnie, gosto de pouca coisa. Entre elas, a boa "Roots And Culture" (do álbum You Are My Sunshine, de 1989), que o refrão quase pôs tudo a perder. Não sei o que ele faz atualmente (seu último disco é de 2005), mas de seus shows mais recentes que fiquei sabendo, Winnie foi vendido como "...um dos grandes nomes do reggae mundial". Menos, gente.

 
"Roots And Culture": picaretagem rasta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Boring Creations


Pouquíssima inspiração no mais recente EP do meio chefão da Hot Creations, Jamie Jones (que, curiosamente, saiu pelo selo Cajual Records, de Chicago). This Way EP foi lançado somente em versão digital e divide-se em três faixas de tech house bem ordinário. A faixa título tem um riff de sintetizador que não faria feio num disco do 2 Unlimited. "Baloo" é dance genérica, house de linha de montagem tipo Jay Lumen. A soporífera "Ikki" é pra causar debandada geral na pista, mesmo. O próximo, Jones.
This Way EP: tudo errado.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Zumbizeira


Depois de dois álbuns pela 4AD (os ótimos Dedication, de 2011 e With Love, de 2013), o produtor britânico Zomby assina com a XL Recordings (que tinha no Prodigy uma de suas moedas fortes, até 2004) e, de cara, já programa dois EPs que vão ser lançados no formato doze polegadas no finalzinho de Outubro: Let's Jam 1 e 2.

Let's Jam 2
é o Zomby habitual, um geniozinho eletrônico dubstepeando em graves absurdos e fazendo chover estalactites de sintetizadores no seu fone de ouvido.

Let's Jam 1 é a prova do talento e da versatilidade de um dos caras mais interessantes da música sintética atual: experimentos com
beats irregulares ("Slime") e acid house (as outras três faixas), resultam numa das melhores músicas já gravadas por Zomby: "Surf I". Com um baixo sedutor, teclados circulares e um sample vocal cavernoso, é também uma das dance tracks mais fortes que ouvi em 2015.

"Acid Surf": uma das oito inéditas de Zomby em 2015.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Real Midas Touch


Dias atrás saiu um remix de Lindstrøm para "I Know There's Something Going On", da ex-ABBA Frida. Como dizem, gostei, mas não amei o resultado. Achei um tanto cabeçudo pra acessibilidade que o som da sueca tem por natureza. Pois agora o produtor e notável remixador francês Fred Falke também retrabalhou a faixa. E ficou demais. Falke subiu o BPM, perfumou tudo com sintetizadores vintage, colocou as guitarras funkeadas em primeiro plano e bolou uma linha de baixo rechonchuda. Quem sabe, sabe. O que eu não sei, ainda, é o motivo dos remixes. Tem outro sensacional e bem mais radical (mezzo Electro) feito por um tal TORN, que saiu semana passada. Vem EP reunindo as plásticas em "I Know There's Something Going On" por aí?

TORN Remix:



Fred Falke Remix:

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Children's Day


Ele não é exatamente uma criança, mas já pode comprar a última versão do iPhone sem encher o saco dos pais. O rapper adolescente de Atlanta Ricky Lamar Hawk tem 17 anos, lançou seu primeiro single usando o pseudônimo Silentó em Maio deste ano e - daquelas coisas que não se explica no pop - arrombou a banca. "Watch Me (Whip/Nae Nae)" é um rap de temática infantil e, vai saber porquê, foi pro alto do paradão da Billboard (vendeu quase dois milhões de cópias nos EUA) e vai bem no resto do mundo, também. O vídeo, já passa de trezentos milhões de visualizações no Youtube (!). A letra é uma daquelas bobagens "MMMBop", com sintetizadores de videogame e uma base tipo LL Cool J circa 1987. É divertido, vai.

"Watch Me": Kris Kross versão 2015.

sábado, 10 de outubro de 2015

New New Order


Em 1992, o New Order queria (e precisava) se reinventar, mais uma vez. Da nova ordem proposta após o fim trágico do Joy Division, até então, o grupo já tinha cinco álbuns gravados e havia se consolidado como a banda independente mais importante dos anos 80. Somente no debut Movement (1981), um produtor direcionou o trabalho (o genial Martin Hannett, também responsável pelo pós-punk apocalíptico registrado nos dois álbuns lançados pelo Joy Division). A postura autônoma também em relação ao som e a progressiva aproximação do quarteto com a dance music (que tem no divisor de águas "Blue Monday", de 1983, sua mais clara evidência), definiu o New Order como um grupo que adotava uma postura parecida com a que Andrew Fletcher usou para explicar o modus operandi do seu Depeche Mode, em 1989: "Fazemos música para o quarto, para a sala de estar. Se for tocada nas discotecas, ótimo. Mas nunca chegamos a entender isso." Embora o New Order nunca tenha direcionado seus discos exclusivamente para os quadris dos fãs, cada novo single lançado ganhava fácil as pistas do mundo e a participação esporádica de gente ligada ao electro e hip-hop como John Robie e Arthur Baker foram parte importante do processo. Em Republic (1993), os integrantes - depois de quatro anos afastados e com vários projetos paralelos em andamento - sentem que precisam de alguém para organizar tantas ideias e opiniões diferentes e voltam a trabalhar com um produtor na mesa de som. Tentam com Pascal Gabriel (que havia ganhado prestígio com os primeiros singles de S'Express e Bomb the Bass, na explosão da acid house britânica, alguns anos antes), mas o resultado (segundo o que a tecladista Gillian Gilbert relatou na época), aproxima o New Order do techno hardcore, o que desagrada a banda e a parceria é abortada. O experiente Stephen Hague (OMD, Erasure, Pet Shop Boys) é chamado e seu inconfundível verniz eletrônico borrifado no indie dance do grupo faz de Republic um ótimo álbum dançante, sem perder o costumeiro espírito sombrio que permeia a obra da banda.

Em 2015, a história parece se repetir. Depois de atravessar um longo período com álbuns apenas medianos e poucos singles dignos de nota - mesmo trabalhando com vários produtores diferentes - o cenário agora traz como principal obstáculo a ausência do baixista original (Peter Hook) e o New Order necessita renovação. A adição do substituto Tom Chapman e sua convincente performance no disco novo, esvaziaram minha desconfiança desde o anúncio do lançamento de Music Complete (lançado pela nova gravadora, Mute Records), que dizia respeito ao desfalque de Hook. Só o bassline da linda abertura "Restless" já foi suficiente pra me deixar otimista. No resto do álbum, me rendo ao talento. Mesmo com o fantasma do Capitão Hookie rondando as palhetadas nas quatro cordas de "Nothing But A Fool", o impressionante groove propulsor de "People On The High Line" (uma das duas faixas em que La Roux aparece nos vocais) é todo baseado no baixo de Chapman e seu minuto final, absolutamente sublime (o mesmo acontece na levada italo-disco de "Tutti Frutti"). O baixista mantém a pegada de post-punk dançante na inspiradíssima "Academic" e ainda acompanha com precisão os hi-hats na velocidade da luz de Stephen Morris, em "Singularity".


Outro ponto importante, finalmente, em
Music Complete, é a banda assumir novamente o controle no estúdio. Das 11 faixas, somente duas tem produção do Chemical Brother Tom Rowlands e uma conta com uma polida adicional de Stuart Price. Uma das respostas para o que faz o disco soar tão diverso pode estar nas diversas participações contidas nele. Desde a ficha técnica com gente como Richard X, Steve Dub (engenheiro de som e parte fundamental do sucesso por trás do Chemical Brothers) e Daniel Miller (boss da Mute) incluída, até as colaborações efetivas de La Roux, Iggy Pop e um contido (ainda bem) Brandon Flowers, em "Superheated". A faixa (com Stuart Price regendo o trabalho), coincidentemente, é uma das poucas que não me empolgou em Music Complete. Já Iggy Pop, é um caso a parte. Sua participação em "Stray Dog" celebra um longo ciclo de admiração mútua iniciado em 1977, quando os membros do Joy Division participaram de um show do vocalista do Stooges em Manchester, até a retribuição de Iggy numa aparição do New Order no 24th Tibet House Benefit, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, ano passado. Vale dizer também que o álbum The Idiot, de Iggy (1976), foi o último que Ian Curtis ouviu antes de cometer suicídio e na década de 1980, o New Order costumava tocar o clássico "The Passenger", durante as passagens de som. Um dos pontos altos do disco, a música traz Pop narrando um poema escrito por Barney Sumner, sobre uma base reaproveitada a partir de uma faixa instrumental do Other Two (projeto paralelo do baterista Stephen Morris e da tecladista Gillian Gilbert).  



Há de ser comemorada, também, a volta de Gillian Gilbert, depois de um período de dez anos afastada das gravações com o New Order (de 2001 à 2011). Suas intervenções aparecem em
Music Complete ora criando a atmosfera propícia para as luzes frenéticas de uma pista de dança (como no segundo single do disco, "Plastic"), ora entrelaçadas à brilhante participação do conjunto de câmara britânico Manchester Camerata, notadamente na colisão dos efeitos dos sintetizadores com o belo arranjo de cordas em "The Game". "Plastic", aliás, usa como referência os arpejos clássicos de "I Feel Love", de Donna Summer (produzida por Giorgio Moroder e Pete Bellotte) e reverencia mais uma vez a eurodisco, numa história iniciada com "Blue Monday" e suas inconfundíveis socadas de bumbo da programação de bateria, inspirada em "Our Love", também da trinca Summer/Moroder/Bellotte.


O saldo final é altamente positivo. O New Order conseguiu se recriar, mesmo não oferecendo nada de realmente novo. O que vale aqui é a qualidade das composições, o teor pop em potencial e o instrumental inspirado que sustenta as canções. Se parte dos LPs lançados pela banda nos 80 indicavam claramente uma faceta mais roqueira e outra mais dançante (literalmente divididas entre Lado A e Lado B), a saudável mistura que a banda oferece neste disco (post-punk, italo, house, disco, synthpop) garante diversidade sem que isso afete uma das principais características de sua música: o definitivo e pioneiro cruzamento entre rock e dance music. O (agora) quinteto gravou um disco excepcional e todas as menções à Music Complete que o indicam como "o melhor álbum do grupo em décadas", não são exagero.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Kelly Key


Não se engane. Por trás dessa voz infantojuvenil e da temática aparentemente pueril, Kelly de Almeida Afonso Freitas realizou em 2001 um single pioneiro. Seu debut "Escondido" fundiu pop e R&B de um jeito que o Brasil ainda não tinha ouvido. Produzida, arranjada e executada pelo experiente DJ Cuca, a faixa tem vários elementos que a emparelham com gente grande da gringa da época (Christina Aguilera, Britney Spears), muito bem distribuídos em seus três minutos e meio: do Auto-Tune usado com moderação à guitarrinha funkeada no segundo plano, dos scratches (do próprio Cuca) à ótima programação de bateria, da citação do grupo TLC no loop de violões ao rap deliciosamente desengonçado de Kelly. E não foi só isso. A letra foi na contramão do caminho romântico-fantasioso trilhado pela angelical e soporífera Sandy, falando abertamente sobre sexo e independência pra uma manada de adolescentes que espelhavam exatamente o que o vocal doce e de notas suaves de Kelly relatava. Recém contratada da Warner, "Escondido" ganhou alguns narizes torcidos assim que foi lançada (um excessivo e hipócrita sentimento de pudor pela maneira clara com que o tema foi tratado) e só foi estourar de fato depois que o segundo single de Key, "Baba", tornou-se um dos maiores hits de 2001. Meio sem querer, Kelly Key acabou abrindo caminho pra uma geração que inclui Ludmilla, Anitta e Perlla - mesmo que elas (ou seus respectivos produtores) tenham optado pelo funk carioca como linguagem. Hitaço.

"Escondido": "A inveja mata os impuros de coração..."

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Fake Scottish


Toda vez que eu penso em como a tech house anda decadente, aparece um negócio desses. "Taps Aff For Glasgow" seria uma resposta ao megahit de 2006, "Put Your Hands Up 4 Detroit", do holandês Fedde le Grand? Não sei, mas a música tem a linha de baixo mais simplória que alguém poderia gravar na dance 2015. Minimalista, enxuta e com pouca variação melódica, a faixa pega mesmo pela tonteira que seus movimentos circulares causam. Só lá pelos quatro minutos uns teclados sombrios interrompem o entra e sai de bleeps techno. A parceria entre os DJ alemães Gerd Janson e David Moufang (Move D) rendeu uma das dance tracks mais legais do ano.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Gino Latino


Hoje em dia é difícil entender como é que o Gino Latino foi tão popular nas pistas no final dos 80. Projeto de estúdio pegando carona na forte onda Italo House que varreu o planeta na virada 80/90, o som do Gino Latino era um amontoado de samples (James Brown, Herbie Hancock, Rose Royce e até trechos de um discurso de Malcolm X eram algumas das amostras) enfileirados por cima de bases econômicas e repetitivas, sempre acabando num riff-gancho bem ordinário de sintetizador. Acabou estourando dois singles nos clubs e raves ("Yo" e "Welcome"), mas nunca teve bom rendimento nos paradões, ao contrário dos conterrâneos 49ers, Capella e em quase tudo que o trio de produtores Limoni/Davoli/Semplici (Black Box, Starlight) meteu a mão. Talvez a escassez e pouca variedade de ideias tenha feito com que o Gino Latino não durasse nem meia dúzia de singles. Mas tem gente que, hoje, chama "Yo" de clássico. Há controvérsias.

"Yo":



"Welcome":