quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Quarta do Sofá: Sade


O R&B salpicado de jazz de Sade não é lá muito prolífico. Manteve uma certa regularidade nos 80 - quando a banda apareceu - mas nos 90, foi apenas um álbum (Love Deluxe, 1992), e nos 2000, dois (com intervalo de dez anos entre eles).

Love Deluxe está um pouco abaixo da fantástica trinca inicial de discos do grupo inglês, mas tem pelo menos duas ótimas faixas, "Kiss Of Life" e "No Ordinary Love", ambas lançadas como single. Mas ainda assim, é um grande álbum.

"No Ordinary Love" tem a voz semi rouca de Sade Adu provocando pensamentos libidinosos com essa nigeriana, fato reforçado pela sereia sedutora representada por ela no vídeo. O instrumental casa direitinho com a voz de Sade: linha de baixo grooveada, guitarras pesadas atravessando os teclados atmosféricos, caixa da bateria em primeiro plano. E a canção ainda ganhou o Grammy de Melhor Performance R&B por Duo ou Grupo com Vocais, em 1994. Justiça feita.

"No Ordinary Love":

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Mais Um Pulo do Gato


Um cara que nasceu em Chicago e foi criado em Detroit só podia ter house e techno na cabeça. Esse é Felix Stallings Jr. - a.k.a. Felix Da Housecat - e é exatamente isso que o DJ e produtor mostra em Founders of Filth Volume Four, seu mais recente EP, lançado pelo seu próprio selo, Founders of Filth. A série, iniciada ano passado e que já contou com a colaboração de gente do calibre de Jamie Principle, traz Felix usando alguns de seus diversos aliases (Aphrohead, Thee Madkatt Courtship) para três faixas bem distintas entre si neste quarto volume: dos enxertos de synthpop em "Neon Flyy" (com participação do produtor Clarian North e Blakk Hazel), o clima sexy e percussivo de "Quicksand" e "Death Toll Cinema", uma música com vocoder e uma levada de baixo que poderia estar em qualquer disco do AIR. Maravilha.

O EP está disponível pra audição no Spotify e está à venda no Beatport.



segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

I'm Wicked and I'm Lazy


Trabalhar com o francês Philippe Zdar (metade do Cassius) na produção, tem refletido claramente no som apresentado nos três singles que o Franz Ferdinand já antecipou em relação ao novo álbum do grupo, que sai agora, no comecinho de Fevereiro. "Always Ascending" (também nome do disco), "Feel The Love Go" e agora "Lazy Boy" (no ar desde a semana passada, dia 25), tem em comum linhas de baixo robustas, guitarras funkeadas, uso farto da eletrônica e alto teor de dançabilidade. Os três aperitivos desceram redondinho, vamos ver o prato principal.

"Lazy Boy": "Ohh, I'm wicked and I'm lazy...  

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Sexta Feira Bagaceira: Kajagoogoo


"Too Shy" foi o único hit digno de nota do Kajagoogoo. Nem sei se foi sucesso no Brasil (em 1983 eu tinha oito anos e música pop não pegava nem Top 20 na minha lista de preferências), mas provavelmente as FMs devem ter vendido o grupo britânico como o novo Duran Duran. Não por acaso. O single foi produzido por Nick Rhodes (tecladista duranie) e Colin Thurston (produtor dos dois primeiros álbuns do grupo preferido da falecida Lady Diana), bateu em primeiro no paradão inglês e não fez feio do outro lado do oceano (#5 na Billboard). O álbum de estreia White Feathers veio em seguida e nem me arrisco a recomendar: é ruim demais. "Too Shy", no entanto, tem seu charme. A linha de baixo é um trabalho competente do baixista Nick Beggs e o refrão, reconheço, é difícil esquecer. A banda tentou mostrar o resultado do seu processo de maturação no disco seguinte, Islands (1984), com enxertos de soul e jazz, mas já não tinha muita gente interessada - ainda mais sem a presença, hããã, "carismática" do vocalista Limahl, que emplacou um hit solo nesse mesmo ano (a baba "NeverEnding Story", produzida por Giorgio Moroder e música tema do filme de mesmo nome).

"Too Shy": pra passar vergonha na pista de dança.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Uma Cilada Para Eminem

O

O queridinho e aguadinho Ed Sheeran contentou-se com o featuring na capa do último single de Eminem, "River" - em caixa alta mas discretinho sob a foto do rapper malvadão.


Sheeran participa da surrada fórmula de Eminem (Dido e Martika já embarcaram nessa, via sampler) pra chegar alto nas charts: rap-nervoso-na-velocidade-da-luz e o contraponto perfeito e redentor do refrão épico que gruda na memória. De novo, funcionou. Somente o áudio da canção já tem mais de 70 milhões de visualizações no Youtube e o single entrou no Top 10 em quatorze países. Mas olha, Sheeran e Eminem são tipo óleo e água, Piu-Piu e Frajola, sapato apertado e joanete, camisa branca e molho de tomate (no caso de Sheeran, molho de cenoura). Devem ter se tolerado no estúdio por uma questão de maturidade, profissionalismo ou, pior, pressão da gravadora. Tsc tsc.


"River": $uce$$o.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Shit Boy


Justo o duo americano Chainsmokers - que fez uma canção como "#Selfie" e habita/tira proveito desse mundo de faz de conta, ostentação e vazio das redes sociais - agora tenta falar sério em "Sick Boy", seu novo single. "Quantas curtidas vale a minha vida? / E não acredite no narcisismo / Quando todos fazem projetos / E esperam que você os ouça" são algumas das pérolas que o risível vocalista Andrew Taggart solta durante a música, numa tentativa de iniciar um processo de adultização que é totalmente desnecessário pro pop dançante rasteiro que seu projeto pratica. Pior que isso periga impressionar uma manada de adolescentes encantados com seus ídolozinhos querendo sair do estado de alienação e letargia mental que seus hits até agora faziam supor. Eu não caio nessa.

"Sick Boy": pra enganar bobinho.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Alive and Kicking


Novinha do duo norueguês Atella, "Alive" precede o EP Beacon One, que sai em Fevereiro pela sempre atenta gravadora belga Eskimo Recordings. Beats limpos e sintetizadores cirurgicamente colocados entre os vocais, o Atella mostra talento e apelo pop e lembra alguns dos melhores projetos sintéticos vindos da Escandinávia (Röyksopp, os primórdios do The Knife e a disco cósmica de Lindstrøm, Prins Thomas e Todd Terje). Deve ser alguma coisa na água (gelada) do Mar do Norte.


"Alive": hit em potencial.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Timber News

 

Amanhã (23) sai oficialmente "Supplies", o segundo single do novo álbum de Justin Timberlake (Man of the Woods, Fevereiro). O primeiro, "Filthy", foi lançado em 05 de Janeiro. Desta vez com produção de Timberlake e do Neptunes (Pharrell Williams e Chad Hugo), o vídeo foi pro Youtube dia 18 - Williams faz uma ponta, inclusive. O vídeo é uma sequência exagerada e onírica de cenas fantasiosas que culminam num indefectível final futurista-apocalíptico. Já a música em si, é excelente. Mantém o padrão estratosférico que Justin já atingiu no estúdio. Há cordas orientalizantes serpenteando entre beats secos de R&B e um baixo de frequência subterrânea, que forra a base da canção de forma a dispensar formalmente o uso de sintetizadores. Atenção para os loops vocais que incorporam-se ao ritmo. É um disco que promete.

"Supplies": um vídeo que quase põe uma ótima canção a perder.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Golden Age



A australiana Kylie Minogue faz incríveis cinquenta anos em Maio e um mês antes sai seu novo álbum, Golden. O primeiro single, "Dancing", foi lançado ontem. Bom pop; dançante, radiofônico, remixável. Curiosamente, quando ouvi os "aaaaaahh aaaaahh" do refrão, lembrei de cara de um trecho parecido contido em "Porta Aberta", da nossa Luka (hitaço aqui no Brasil, lançada em 2003). Nem tô cogitando plágio - longe disso -, achei parecido e só. Na verdade, fora a vocação pop de ambas, elas pouco tem em comum (agora, a Kylie com 49, o que tá gata... benza Deus).

"Dancing":


"Porta Aberta":

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Sexta Feira Bagaceira: Gottsha


Se a sexta é bagaceira, esqueçamos os pudores. Sandra Maria Braga Gottlieb - Gottsha - carioca, cantora e atriz. Seu debut é o álbum No One To Answer, de 1995: dance canarinho padrão Jovem Pan fartamente inspirada na eurohouse vigente. O disco - todo em inglês - rendeu alguns singles de relativo sucesso nas FMs brasileiras. Além da faixa-título, "Break Out" e "Do You Wanna Love Me?" experimentaram uma certa popularidade por aqui. "Do You Wanna Love Me?" é minha preferida: com uma chupada na cara dura da batida de "The Sign" (um inesquecível reggaezinho sintético dos suecos do Ace Of Base, produzido pelo saudoso Denniz Pop), uma letra de duas estrofes e um refrão repetido ad infinitum, a faixa parecia ter sido feita na medida pra emplacar nas pistas suarentas da América do Sul (até um 12" promocional foi prensado), mas acho que não ultrapassou a categoria de semi-hit. O que é inegável é que - apesar das composições fracas - Gottsha canta muito. Intencionalmente ou não, a música contida em No One To Answer é dance exageradamente pop e sua ótima voz foi subaproveitada. Poderia ter virado nossa diva house dos 90.

"Do You Wanna Love Me?": semi-hit.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Queen Of The Night


Estreou ontem o vídeo para o novo single solo de Tracey Thorn (Everything But The Girl). "Queen" precede Record, o primeiro álbum de Tracey desde Love And Its Opposite, de 2010 e que deve ser lançado em Março. O vídeo, simplesinho como a canção, mostra a cantora dando um rolê de carro no que pode ser a noite londrina. Synthpop contido, "Queen" pode não ser algo tão memorável quanto várias faixas inesquecíveis que ela produziu com Ben Watt no EBTG ("Temperamental", "Walking Wounded", "Wrong", "I Didn't Know I Was Looking For Love"), mas a elegância e o timbre único de Tracey Thorn são mais do que bem-vindos, do jeito que for.    


"Queen": rolezinho na night.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

It’s Very Electronic


Não me impressionou muito a nova do bom Editors, "Magazine". O single precede o próximo álbum do grupo, Violence, programado pra Março. Ouvindo "Magazine", lembrei de "Where's the Revolution", recente canção do Depeche Mode - mas mais pela temática (política, corrupção, poder) do que pelo som. Tom Smith, vocalista, letrista, tecladista e guitarrista do Editors, andou dizendo que Violence trará um equilíbrio muito bem dosado de rock e eletrônica ("... when it’s electronic, it’s very electronic..."), como jamais a banda conseguiu. A perspectiva de um novo trabalho (do ponto de vista do artista) é sempre a de que o melhor álbum é o próximo, então descartemos a perigosa expectativa gerada por Smith baseados pela simples audição de "Magazine", uma música apenas OK, mas que pode até render um versão bacana pra pista - todo mundo lembra do remix espetacular do grupo inglês Cicada para "Munich", faixa do Editors de 2005.


"Magazine": regular.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Bruxa à Solta


Por onde andava a Witch House? Com alguns nomes curiosos e/ou engraçados (Gvcci HvcciGuMMy†Be▲R!oOoOO), algumas coisas realmente interessantes (SalemClams Cassino), temática ocultista, eletrônica e batidas arrastadas, o (sub)gênero parece ter sumido com a mesma velocidade que ascendeu (lá por 2009/2010). Mas deixou alguns vestígios, como o misterioso (esconder o próprio rosto parece ser outra característica dos produtores de witch house) e impronunciável GVLVXY ("galaxy", dá pra sacar no primeiro sample de voz que aparece). Não sei quem é, de onde vem, como vive, nem do que se alimenta, mas sua "Ashia" apareceu agora no comecinho do ano e me fez voltar uns sete anos no tempo - e é uma nostalgia boa de sentir, porque a música é bacana: instrumental curiosamente tageado como electro na página do Soundcloud, mas que vem com aquele mesmo beat lento e seco, bumbos gravíssimos, clima fúnebre e samples vocais tensos. Bem-vinda a 2018, bruxa.


 
"Ashia": de volta à floresta.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Melhores de 2017 - Músicas


Minha lista de músicas preferidas de 2017 é composta por dez faixas bem distintas entre si. O ponto aqui não é se uma música é melhor que a outra; a ordem da listagem diz respeito somente ao que eu mais gostei, simples assim. Os títulos que estão em vermelho levam pro post da canção. Tem pop, drum'n'bass, R&B, synthpop, funk, indie... mas todas com pelo menos um dos três ingredientes em sua receita: são dançáveis, tem groove ou tem algum elemento forte de eletrônica. Exatamente do que o blog trata. Eis:

1) "Holding On" > The War On Drugs



2) "Havana" > Camila Cabello



4) "The Mirrored River" > Goldie



10) "Pop Voodoo" > Black Grape

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Sexta Feira Bagaceira: Ace Of Base


Imagina o tamanho do pepino pros suecos do Ace Of Base: como gravar um disco depois do sucesso absurdo do debut Happy Nation (1993, mais de 20 milhões de cópias vendidas)? O caminho mais fácil seria manter a pegada reggatta de blanc que tornou singles como "All That She Wants" e "The Sign" imensamente populares mundo afora. Mas não foi isso que aconteceu. O segundo álbum, The Bridge (lançado em 1995), veio - em boa parte das faixas - introspectivo, emocional e por vezes, melancólico. Com a produção um passo a frente - mais sofisticada e experimental - The Bridge ainda assim vendeu um terço de seu antecessor, o que não é exatamente um fracasso.

Desse álbum, saiu o single "Beautiful Life": pop altamente dançante, com backing gospel, riff de piano eufórico e harmonia vocal na melhor tradição escandinava de ABBA e Roxette. Artistas como Lady Gaga, Katy Perry e Robyn citam o Ace Of Base como influência e se o grupo não deixou (até agora) nenhum álbum realmente memorável, basta lembrar da penca de singles incríveis que o quarteto enfileirou. Sai de baixo.

"Beautiful Life": Michael Jackson, em pessoa, aplaude o playback.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

The Phoenix Alive


Delícia pop do dia é o duo francês Ninety's Story e sua "Kikuyu", extraída do EP homônimo lançado no final do ano passado (o segundo da banda). O electropop urdido pelo Ninety's assemelha-se ao indie francês brisado e dançante de gente como Phoenix e Tahiti 80, mas tem brilho próprio, como prova a própria "Kikuyu" e as outras três faixas do EP ("Don't Mind Me", "I Want Your Love" e "Two Steps From the Sun"). Olho neles.

"Kikuyu": pra deixar no repeat.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Dance Ferdinand


 Sensacional o novo single dos escoceses do Franz Ferdinand, "Feel The Love Go". Com uma relação estreita com as pistas de dança desde sempre, a banda de Alex Kapranos retorna com uma faixa na medida para os clubes menos cafonas: com uma introdução de sintetizadores elásticos, a canção explode em guitarras, hi-hats disco e um refrão memorável em menos de um minuto, pra encerrar com um solo de saxofone eufórico, que beira o improviso. A música vai estar em Always Ascending, novo álbum do grupo, que sai em 9 de Fevereiro


"Feel The Love Go": energia, eletrônica e saxofone.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

David Byrne Is Playing At My House


O genial David Byrne está de volta com single novo (“Everybody’s Coming To My House”, saiu ontem) e álbum (American Utopia, agendado pra 9 de Março). O disco é o primeiro do artista desde Grown Backwards, de 2004, sem contar as colaborações de Byrne em projetos com St. Vincent, Norman Cook (Fatboy Slim) e Brian Eno. Com os vocais meio esganiçados de sempre, baixo todo picotado e uma saudável e ligeiramente caótica percussão, “Everybody’s Coming To My House” é dançável por si só, mas bem que poderia ganhar um remix de um certo James Murphy (LCD Soundsystem), que deve muito musicalmente a Byrne - notadamente no álbum mais recente do LCD (Americam Dream, do ano passado).


"Everybody's Coming To My House": o Byrne instigante de sempre.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Future Funk


Me admirei - muito - ao ouvir "Filthy", o primeiro single do novo álbum de Justin Timberlake, Man of the Woods (lançamento programado pra 02 de Fevereiro). Produzido pelo próprio Timberlake mais o parceiro de sempre Timbaland e o produtor Danja, "Filthy" é um funk cibernético corpulento e futurista, junta R&B e electro sob um baixo paquidérmico e um rolo compressor de efeitos, não facilita as coisas com as saídas mais fáceis do pop urdido por gente que dá as cartas atualmente como Dr. Luke e Max Martin e, mesmo assim, é totalmente digerível. Tão assombroso quanto a música é o vídeo elaborado para "Filthy", logo abaixo. Renovador e impressionante.


"Filthy": Justin rumo ao topo.