quinta-feira, 31 de maio de 2012

Drum'n'Brasil


Junho batendo na porta e ou eu estou totalmente por fora da cena drum'n'bass atual ou esta é realmente a primeira grande faixa do gênero que ouço em 2012. 
 

O single Feeling Translated do projeto americano Random Movement saiu mês passado, corre veloz na raia do liquid funk e foge um pouco das baixas frequências costumeiras do estilo. Recortes de synths loopados vão se entrelaçando aos vocais oníricos em português quase ininteligível (não sei se a voz é sampleada ou original: se você souber a fonte, me deixe ficar sabendo). Chill'n'bass pra ver o sol caindo devagarinho.

"Feeling Translated": "... e todos os meus medos estão..." o quê?

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Da Boa


Tem alguma coisa diferente no som do italiano Herve Atsè Corti, nascido em Florença em 1991. Sampler EP / Meanwhile In Madland é apenas seu segundo EP gravado com o pseudônimo Herva (o primeiro, Skin EP, é do ano passado) e aqui temos elementos de soul, downtempo, house, techno e hip-hop agrupados de forma orgânica  sob ricas camadas instrumentais. 


As melodias passam longe da obviedade, você nunca sabe que rumos elas vão tomar: basta ouvir a quase-deep house "Be Like Me Or Shut Da F_ck Up!" que abre o EP com uma linha de baixo mantendo uma certa distância da bateria e amostras de cordas revezando-se com sequências circulares de teclados. "Triangle" tenta inicialmente te desorientar com beats desengonçados, até transformar-se numa house de prato sibilante a partir de um minuto e meio. As relaxantes "Soul Crash" e "Breathe" trazem ótima diversidade percussiva e blips techno discretamente colados entre as baterias, mas o grande momento aqui é a levada hipnótica com vocais à Ofra Haza de "Broken". É onde Herva prova que (já) atingiu aquele ponto onde é possível experimentar com timbres unusuais e soar acessível ao mesmo tempo. A bem da verdade, a Itália nunca saiu do mapa da boa dance music, mas agora Florença ameaça se infiltrar na primeira classe.

"Broken": quando a ênfase é no ritmo, não no groove.
  Herva - Broken (DJ Nature Remix) by TRMOOD

domingo, 13 de maio de 2012

Bra-Bra-Brazil!

Curto e grosso: ninguém faz revolução dando zero no Ibope. Em outras palavras, quero dizer que se já passou da hora do pop nacional se renovar, que essa reforma seja comercialmente viável. Não dá mais pra aturar indie-sambinha universitário, pseudo-funk carioca engraçadinho ou experimentos eletrônicos que são uma viagem ao fundo do indecifrável cérebro do autor. Conseguiu captar a mágica do negócio? O tio desenha pra ti: tem que ser um som com um mínimo de dignidade artística, mas possível de executar nas AMs, FMs e elevadores, sacou? Acessível mas não pasteurizado. Difícil, né? É, eu também acho. Mas tem gente tentando, penso eu. Abaixo, três exemplares da espécie popularis brasiliensis se embrenhando na perigosa selva verde-amarela:

Máquina


Saudade do Zero? O trio carioca Máquina tem uma certa ambição poética e apreço por sintetizadores que remetem à ex-banda do afetado Guilherme Isnard. Notadamente influenciado por New Order (ouça o ótimo trabalho do baixista Nuno Virgílio em "Céu das Três"), Depeche Mode e pós-punk, o Máquina tem boas letras (algo raro hoje em dia), ousadia (a cantora lírica Gisele Diniz empresta sua voz em "Pequena Árvore da Grande Sombra") e pelo menos uma candidata à hit com a climática e metafórica "Vidro" (clipe abaixo). Dá pra baixar o álbum autointitulado sem culpa no site da banda.


Martin e Eduardo


Ainda bem que não se trata de mais uma dupla sertaneja engrossando as fileiras de Michel Teló. Martin e Eduardo são, respectivamente, guitarrista e baterista da banda da cantora Pitty. O primeiro álbum (Dezenove Vezes Amor) é de 2010, mas a dupla começa a ganhar boa rotação e mais exposição agora com o canal de vídeos nacionais BRZ, que substitui a MTV nas transmissões de TV aberta via parabólica. É um pop rock honesto, apesar dos vocais inseguros do baiano Martin - que também faz backing nos shows da patroa. Muita atenção para a belíssima levada de "Strange Days":



Fino Coletivo



Não é exatamente uma novidade, já que a banda foi fundada em 2005 e tem dois álbuns lançados. Com uma boa base de fãs, o Fino Coletivo trafega entre samba-rock, MPB e alfinetadas de eletrônica e dá uma aula de ritmo, entusiasmo e musicalidade ao broxante circuito da nova MPB de músicos medíocres e canções inofensivas incensados por aí. Tente resistir ao refrão, o wah-wah, os metais e o balanço em slow motion de "Fidelidade", se for capaz. O álbum mais recente é o espetacular Copacabana, de 2010.

terça-feira, 8 de maio de 2012

David Evans Syndrome

 

Some Velvet Morning é um trio londrino, de nome provavelmente extraído daquela canção imortalizada por Nancy Sinatra (a filha do The Voice) e que virou hit de inferninhos indie com o Primal Scream e Kate Moss em 2002.


A banda trabalha no esquema crowd funding, ou seja, levantam uma grana com a boa base de fãs que tem e financiam gravações de álbuns, turnês, bebidas, vagabundas e drogas. Não, mentira. Bebidas, vagabundas e drogas eu não sei. Mas não duvido. Buenas, nessas aí os Mornings já estão no segundo disco, Allies, recém lançado com essa capa estilosa aí. É bacaninha, sabe? Tem no ar uma certa ingenuidade cheirando à U2 no começo de carreira (se me dissessem que "Resistance" é uma sobra de estúdio de War, eu acreditaria), além de guitarras adeptas ao pedal de efeito característico de um certo The Edge.

"Resistance": vai Bono... digo, vai Desmond!


Não é nenhuma revolução (a despeito do single "How To Start A Revolution"), mas dá pra ouvir Allies numa boa. Agora, o mais curioso nisso tudo é que por tabela acabei chegando num vídeo de um cover que a banda fez de "The Things You Said" do Depeche Mode. Achei realmente do caralho.

"The Things You Said": e esse riff recriado na guitarra?

domingo, 6 de maio de 2012

Almost Unreal


Se você leu por aí que Tom Jenkinson deu uma diluída na sua música em seu novo álbum Ufabulum (lançamento oficial previsto para 14 de Maio), melhor ouvir o disco com mais atenção.  


Reconheço que nunca ouvi um Squarepusher tão palatável quanto o de "Unreal Square" - vai ver foi por isso mesmo que ele chamou essa música assim. Mas não se engane. A melodia ingênua e o rufar marcial dos tambores vai só até a metade da faixa: dali pra frente Jenkinson trata de subverter tudo, revirando as baterias e partindo os teclados em pedacinhos. Em "Energy Wizard" é a mesma coisa: sintetizadores afáveis começam fazendo carinho nos seus ouvidos mas logo se transformam em monstros cibernéticos pulando de um lado para outro das caixas de som. Na progressiva "Stadium Ice" parece que um Steve Vai autômato aparece solando entre batidas trêmulas e timbres new age. A ameaçadora "Red In Blue" divide o álbum. A partir daí, Ufabulum entra num terreno escuro de eletrônica abstrata e experimental de nada fácil audição. Ouvir "The Metallurgist", "Drax 2" e "303 Scopem Hard" é como dormir e acordar no meio de um filme de David Lynch. Jenkinson ameniza os ataques em "Dark Steering" e "Ecstatic Shock", mas sem facilitar muito. As duas faixas igualam-se no clima opressivo e nos estrondos metálicos de percussão, mas trazem uma sucessão de sons menos agressivos. De qualquer maneira, Ufabulum é um ótimo disco de eletrônica. Nem sempre agradável, mas também nada previsível e que passa longe da descartabilidade.

"Unreal Square" ao vivo: audiovisual ao pé da letra.

 

sábado, 5 de maio de 2012

Control C + Control V


 
"... talvez a decadência tenha evoluído a partir do culto do DJ, quando qualquer um podia regurgitar a essência do rock ‘n’ roll revitalizando todos os clássicos do funk dos anos 70, colocando algumas bobagens de rap em cima e chamando isso de seu próprio trabalho. A música moderna não é mais vista como uma forma de arte? Ou é agora só mais um negócio?"

O trecho acima foi extraído de um artigo que Alan Wilder, ex-tecladista do Depeche Mode, escreveu para a revista virtual Side-Line, em 2008. O texto foi traduzido por Jeovane Cazer no site Música Para As Massas, e vale muito um confere. Estranhamente, lembrei do que Alan escreveu depois de descobrir o vídeo abaixo. Nele, há algumas fontes dos samples que o Daft Punk usou para compor o álbum Discovery, de 2001. Alguns são quase imperceptíveis, outros óbvios demais. Acontece que fiquei meio desapontado com a dupla francesa depois de ouvir isso. Então é assim? Chupa a base inteira da obscura "Cola Bottle Baby" de Edwin Birdsong pra montar "Harder, Better, Faster, Stronger" e chama de sua música? Ou o talento do Daft Punk é justamente transformar canções completamente esquecidas como essa em megahits planetários? Gosto do Daft Punk, mas confesso que pra mim tem mais graça quando os samples são praticamente irreconhecíveis e não tão na cara quanto os de Discovery.

Autorizados ou não, os samples não foram creditados no encarte do disco.

Yo, Japan



Desde que o DJ Shadow resolveu que tinha que fazer arte ao invés de música (e isso aconteceu logo após sua impressionante estréia Endtroducing, de 1996), o campinho do hip-hop instrumental ficou mais vazio. Os órfãos do californiano tiveram nesse meio tempo trabalhos interessantes de gente como DJ Krush, RJD2, e mais recentemente AraabMusik, mas o nível parece ter ficado quase inatingível depois do debut de Josh Davis. Paciência. Acho que nenhum desses artistas grava discos pensando em superar um álbum fundamental e altamente influente como Entroducing. Além do mais, só pelo fato de apontar direções opostas ao rap mainstream americano onde a temática não vai muito além da tríade grana, armas e vagabundas, já está de bom tamanho. 


É nessa onda que vai o DJ japonês Mitsu The Beats. Sem muito alarde, ele acaba de lançar Beat Installments, um álbum com dez faixas que exploram batidas hip-hop com enxertos de jazz, soul, house e até samba ("Masquerade"). Bom colecionador de vinis que é, Mitsu tem um gosto apurado na escolha das amostras que viram loops hipnóticos nas suas mãos: a primeira faixa ("Always Something") com seus metais repetidos à exaustão e salpicados com beats de rap é perfeita pra exemplificar isso. Beat Installments é um disco relaxado, cheio de sons aconchegantes e linhas de baixo fluídas, chill out de músico - mesmo que tenha sido construído com embasamento em samples. Boa pedida.

"Always Something": meu saquê, por favor.


Música Da Semana: Kavinsky


Kavinsky é o francês Vincent Belorgey. Lembro que ouvi seu single Nightcall lá no meio de 2010 e não bateu muito não. Achei o som um mero pastiche daquele synthpop europeu exageradamente romântico do começo dos 80, tipo Savage e FR David. Os remixes então... variações pouco inspiradas do mesmo tema e um lado B que parecia ter saído da trilha d'A Super Máquina ("Pacific Coast Highway").


Pois bem, há coisa de dois meses a rádio Antena 1 resolveu incluir a faixa na programação, e mesmo martelando o dia inteiro eu não fazia idéia do que era - mas ficava hipnotizado quando essa música tocava. Fui procurar identificar e a ficha caiu: era o mesmo Kavinsky que eu havia desprezado quase dois anos atrás. Qual a teoria aplicável? Que acabamos vencidos pela insistência do playlist ou que nem sempre o amor à primeira vista é o mais arrebatador? "Nightcall" chegou a ficar um primeiro lugar no Top 10 da rádio, e bom, surpreso mesmo eu fiquei quando descobri que esse refrão quem canta é a Lovefoxxx, aquela mesma do Cansei de Ser Sexy. E canta lindamente, diga-se, sem aquela histeria indie/nonsense de sua banda original. Pra completar, a produção é de Kavinsky e Guy-Manuel de Homem-Christo (sim, metade do Daft Punk) e a mixagem do DJ e produtor SebastiAn. Não podia dar besteira. "Nightcall" é simples e sofisticada: um loop de teclado que lembra uma guitarra, sintetizadores limpos, bateria monocórdica e um refrão que acerta em cheio o ouvido. E prometo prestar mais atenção nos próximos lançamentos de Vincent Belorgey.

Kavinsky na Antena 1: Listen Without Prejudice.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ambiente-se


Prevista originalmente para ser lançada em 1994 sob o pseudônimo Amorphous Androgynous, a série Environments só viu a luz do dia a parir de 2007, creditada ao The Future Sound Of London, o principal projeto de eletrônica da prolífica dupla britânica Garry Cobain e Brian Dougans.


O volume 4 acabou de sair, e apesar de não fazer frente à trabalhos essenciais como Lifeforms (1994), o disco traz a cartilha básica do ambient techno para amantes do gênero: sintetizadores que crescem devagar e se dissipam lentamente, samples étnicos, ritmos tribais e uma espécie de paisagismo sonoro que te coloca dentro de um filme de ficção científica numa faixa e no meio de uma floresta equatorial segundos depois. A exploração do espaço interior na forma de sons baseados na natureza misturados à claustrofobia de cidades pós-apocalípticas projetadas no trabalho do FSOL é o grande atrativo na hora de escutar um álbum como Environments 4. Não pensa que é fácil traduzir isso em música sem cair nos clichês pasteurizados de figuras como Jean-Michel Jarre.

"River Delta": se a canoa não virar...

terça-feira, 1 de maio de 2012

Na Pista: Entity + E-Z Rollers


A dupla britânica E-Z Rollers é um dos nomes mais relevantes do drum'n'bass desde 1995 e acaba de lançar uma compilação de algumas de suas melhores faixas lançadas sob seu selo Intercom Recordings.


Crowd Rocker Cuts tem doze faixas e no meio delas está "Portugal", creditada à um projeto chamado Entity, mas com remix do E-Z Rollers. A música nem é nova (foi lançada em 2006), mas como eu não conhecia e saiu nessa coletânea do E-Z Rollers agora em Abril, tá valendo. Porque Entity escolheu o título "Portugal" se o que temos aqui é essa salsa com sessão de metais, percussão e um "lo-re-la-lai, lo-re-la-lai" tipicamente cucaracha é que eu não sei. Mas que mixada com a pancadaria do drum'n'bass ficou do cacete, ficou.

"Portugal": aulas de geografia pro Entity, urgente.

Para Baixo e Avante


Num passado recente, eu curtia o Keane. Deu pra pescar boas faixas de seus três álbuns: "Somewhere Only We Know", "Everybody's Changing", "This Is The Last Time"... E eles até tentaram perder um pouco daquela pecha de "fábrica de baladas existenciais grandiloqüentes" com singles sacolejantes como "Spiralling" e a surpreendente "Looking Back" (do bom EP Night Train, de 2010) com participação do rapper canadense K'Naan e sample do tema de Rocky, "Gonna Fly Now".


Tudo em vão. Eles retornam em 2012 com Strangeland e o primeiro verso do álbum diz "Fearfull child have faith in brighter days / Stay young till this darkness fades away". Aí fica difícil. Os dois singles lançados até agora mantém o nível de poesia por análise combinatória ("If I am a river, you are the ocean / Got the radio on, got the wheels in motion", de "Silenced by the Night") ou rimas metáforicas constrangedoras ("Something's crept in under our door / Silence soaking through the floor", de "Disconnected"). Some à essas letras arranjos de cordas melosos ("The Starting Line", "Black Rain"), rockinhos insossos ("On The Road", "Day Will Come") e canções tristes (no sentido de enfadonhas mesmo) como "Sea Fog" e "Watch How You Go", e pronto, lá vai o Keane descendo a ladeira. De novidade mesmo só a efetivação de Jesse Quin como baixista da banda, porque em Strangeland o Keane só repetiu fórmulas de uma maneira pior.

"Disconnected":  o Coldplay está em boa companhia.