segunda-feira, 31 de março de 2014

Segunda Class: Com Truise


Com Truise ainda não me convenceu.

Seth Haley viaja na dele, perdido entre seus sintetizadores vintage e suas baterias eletrônicas retrô - ou em seus emuladores virtuais, vai saber. Fato é que seu novo EP, Wave 1, é mais farinha pro mesmo saco. Truise passa longe de noções como originalidade e seu som soa familiar, mas ele é incapaz de compor algo que te faça ter vontade de ouvir de novo, basicamente por que suas melodias e programações são processadas na região frontal do cérebro, as chamadas memórias de curto prazo. O que significa dizer que terminadas as sete faixas do EP, não se tem ideia de como é a primeira. Pra ser honesto, a única coisa que lembro de Wave 1 (e ouvi o disco várias vezes) é a guitarrinha com timbre New Order da faixa-título. É um disco até interessante, uma espécie de papel de parede sonoro pra deixar rolar enquanto há coisas mais importantes a fazer, tipo não deixar a cerveja esquentar. Mas com músicas tão semelhantes entre si, também pode passar totalmente batido. O que é péssimo pra um artista de eletrônica instrumental como Seth Haley.

Wave 1 inteiro em menos de meia hora: amnésia.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Sexta Feira Bagaceira: New Kids On The Block


Meus amigos que me zoavam há uns dez anos quando eu cantarolava "Rock Your Body" de Justin Timberlake, deveriam dar uma olhada na carreira do ex-'N Sync hoje. É só contar em quantas listas de melhores seu álbum The 20/20 Experience foi parar ano passado e - dinheiro nunca é demais - quanto vendeu esse disco.

A verdade é que boy bands sempre tem alguma coisa aproveitável. Musicalmente, claro. O próprio 'N Sync, Backstreet Boys, Five, Take That, Menudo... não, peraí. Menudo não. Jonas Brothers, nem pensar. Mas a maioria teve seu momento.


O New Kids On The Block, por exemplo. Fabricados pelo produtor Maurice Starr (que também descobriu o New Edition), a molecada estreou em 1986 com o fracassado álbum autointitulado. O sucesso só veio dois anos depois, com Hangin' Tough. Desse disco saíram cinco singles, todos Top 10 nos Estados Unidos - "You Got It (The Right Stuff)", entre eles. Irresistível. Meio synthpop, meio R&B, a faixa tem socadas eletrônicas de bateria, sintetizadores grudentos e um refrão no esquema axé music, infalível: "Oh, Oh, Oh, Oh, Oh... the right stuff!". Hit instantâneo, simples, pop.

O New Kids ainda se manteria no topo com o álbum seguinte, Step By Step (1990) e lançaria no mesmo ano o curioso No More Games/The Remix Album, com gente como Arthur Baker e Clivillés & Cole (C + C Music Factory) dando um trato na produção pasteurizada de Starr. Daí pra frente, foi ladeira abaixo. Normal. Ainda na ativa, o grupo anunciou recentemente um rolê pela Europa, começando em Maio.

"You Got It (The Right Stuff)": coreografadinhos.

quarta-feira, 26 de março de 2014

To The Moon And Back


Porque, depois de uma série memorável de singles e EPs, Todd Terje lançaria um álbum? A resposta é a mais óbvia e mais clichê possível: por que no seu debut, Terje pôde colocar tudo aquilo que não caberia em edições curtas e direcionadas à um local específico, obviamente, a pista de dança.

Seguindo essa lógica de fácil compreensão, o DJ e produtor norueguês investiu sem pudor em sons que não fariam muito sentido lançados sob a limitação de um doze polegadas, como nas paragens latinas ligeiramente abrasileiradas e contagiantes de "Svensk Sas" e "Alfonso Muskedunder" - um negócio meio Hermeto Pascoal, meio jazz, meio prog. Sim, a disco espacial (desafio alguém a resenhar um álbum de Terje sem usar esse termo) do barbudo continua forte, vide as pegadas firmes de "Strandbar" (essa com um pianinho ítalo ensandecido), o pseudo-tema de Miami Vice "Delorean Dynamite" e "Oh Joy". Mas It's Album Time serviu também para Terje exercitar um lado mais contemplativo, como na versão lentíssima de "Johnny and Mary", originalmente de Robert Palmer (dividida com um quase irreconhecível Bryan Ferry nos vocais), ou suar em temas mais complexos, como na instrumental "Preben Goes to Acapulco". It's Album Time reforça o status de Terje como um dos artistas de eletrônica mais inteligentes dos últimos tempos.

"Johnny and Mary": Mr. Cool em pessoa, nos vocais.

terça-feira, 25 de março de 2014

Muito Mais Que Um Rostinho Bonito

 

De onde menos se espera, daí é que não sai nada. Mentira. As fotos da italiana Tying Tiffany disponíveis na rede são pra deixar o desconfiômetro na luz amarela e poderiam sugerir música em segundo plano, mas Drop, seu quinto álbum, vai bem além de poses estilosas para as lentes.

O que artistas como Tiffany sacaram, é que o gótico é um filão inesgotável. Enquanto houver gente que cultiva o desencanto, a predileção pelo preto, Tim Burton, Drácula e Edgar Allan Poe, vai ter mercado na música pros tons menores, batidas fúnebres e estética do desespero.

E Drop surpreende. Quase tudo nas dez faixas do disco é encoberto por um manto pesado de sintetizadores lúgubres, da abertura "One Place" até o encerramento "Dissolve". No meio disso, pequenos fragmentos de funk ("One Second"), hip-house ("Neon Paradise"), rap meio desajeitado ("One Girl"), synthpop ("No Way Out"), momentos de desolação pura ("One End") e delicadas ambiências sintéticas ("Deep Blue River").

A mistura parece, mas não é indigesta. Tiffany amarrou tudo direitinho (ela toca, compõe e canta), de maneira pessoal, mas acessível - como em "A Lone Boy", a melhor faixa do álbum. Mesmo com as estrofes aflitivas ("Everyone I love dies / Everyone I know cries") e teclados ameaçadores que vão sufocando sua voz, o alívio vem no refrão, com uma luz de otimismo finalmente aparecendo ("I'll find a way", repetido à exaustão). No final das contas, o caminho escuro percorrido por Tiffany encontra, ao menos, um pouco de oxigênio no final.

"A Lone Boy": dark classudo. 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Segunda Class: Dubstar


O Dubstar - como o nome parece sugerir - não é uma banda de dub reggae. As investidas do trio de Newcastle consistem num synth bem pop, sonhador e melancólico. Prova disso foi seu maior hit, o single "Stars", lançado em 1995. Pra deixar bem clara a incômoda pecha de one hit wonder, uma compilação dos hits do grupo, de 2004, foi convenientemente chamada de Stars: The Best of Dubstar.


Em meados de 2002, a vocalista do grupo, Sarah Blackwood, abandonou o Dubstar pra montar junto com Kate Holmes o projeto Client. A dupla já lançou quatro álbuns e, acaba de soltar o quinto (Authority). O som do Client é mais ou menos o que se transformou o Ladytron dos últimos discos: pop eletrônico tecnicamente correto, bem produzido; mas sem brilho, sem boas canções pra fazer a diferença.

O Dubstar continua na ativa, e segundo Blackwood, vem disco novo por aí. Se conseguirem reeditar qualquer coisa parecida com o diamante "Stars", tá valendo. Produzida por um dos caras que ajudou a definir o technopop inglês dos 80 (o americano Stephen Hague), a faixa estourou numa época em que o mundo ainda estava se refazendo do susto causado por Dummy, do Portishead, e qualquer coisa com andamento lento, beats de rap e um clima dolorosamente bonito como o dessa música, levava o carimbo de trip-hop na hora. Um momento e tanto.

"Stars": dream pop.

sábado, 22 de março de 2014

Futuro no Presente


Não ouvi os álbuns anteriores do Future Islands. Aliás, até esse Singles cair no meu HD, nunca tinha sequer ouvido falar na banda da Carolina do Norte. O álbum - que está sendo lançado oficialmente na próxima terça-feira, dia 25 - já é o quarto da discografia do trio, que no começo deste ano, assinou com a 4AD. Não dá pra dizer que são estranhos no ninho da gravadora inglesa, já que o pop eletrônico urdido pelo grupo encontra pares como Twin Shadow e Grimes sob as asas do selo.


 Pra você ver como o divisão A&R da 4AD não está de bobeira, como eu. Porque esse pessoal certamente ouviu os trabalhos anteriores do Future Islands e percebeu ali duas coisas fundamentais pra alguém que almeja sair do anonimato musical: talento e viabilidade comercial.

Singles - juro que não é exagero - vai ser provavelmente o melhor disco synthpop de 2014. Tem muitas qualidades pra isso. São dez faixas e menos de uma hora de duração que não enjoam de jeito nenhum, nem que você clique no repeat sem se importar - como eu estou fazendo há dois dias. Já ouvi perto de dez vezes e não consigo encontrar uma faixa pra falar mal. Não é uma coletânea, como o nome sugere, mas a assombrosa homogeneidade é tamanha, que está tudo nivelado por cima, sem arestas a aparar.

 Com características, trejeitos e um timbre singular, Samuel Herring é um vocalista absolutamente original. Com o ritmo e o tom emotivo (que passa longe da pieguice) que imprime em todas as canções, Herring fica lado a lado dos inimitáveis Martin Fry e Mark Hollis, o que, num gênero em que soar como o barítono Dave Gahan parece ser o objetivo de quem tem o microfone nas mãos, não é pouca coisa.

Tente não ficar inebriado com o impressionante trabalho do cantor em "Like The Moon":

O primeiro single e faixa de abertura do álbum, "Seasons (Waiting On You)", traz consigo outro padrão estabelecido pelo Future Islands: as linhas de baixo com vida própria, livres do estigma New Order, perseguido à exaustão pela geração atual. No vídeo abaixo, a recente apresentação da banda no Late Show de David Letterman, na arrepiante performance de "Seasons":


Com a riqueza instrumental e os arranjos sempre dispostos a arriscar metais (mesmo que seja o trompete sintetizado de "Sun In The Morning" e "Doves") e cordas (na belíssima levada de violões casada com o baixo propulsor de "Light House"), o trio abusa da elegância e bom gosto nas composições, algo como um encontro imaginário entre Anne Dudley e Roxy Music.

Singles é a fusão do synthpop oitentista sem cheiro de naftalina com indie rock sem afetação, nunca dispensando formalmente o uso da guitarra ("Back In The Tall Grass", "A Dream Of You And Me"), nunca deixando a máquina assumir o controle (vide os sintetizadores habilmente contidos em "Spirit" e "A Song For Our Grandfathers").

Vão ser grandes, anota aí.

"Light House": cellos e sintetizadores entrelaçando-se. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Mariah Carey


Nem vem. Ela canta muito. 


"Someday" saiu em Dezembro de 1990, terceiro single consecutivo de Mariah Carey no lugar mais alto da Billboard, mais uma ótima canção inclusa no debut homônimo e multiplatinado da cantora. E qualquer dúvida que possa existir sobre o talento vocal da então guria de tenros 23 aninhos, cai por terra com a exibição abaixo. Ah, os malabarismos com a voz? Nada fora do lugar. E a perfeição das backings? E a banda espetacular? E o trinado em 03:30?

"Someday": potência não é nada sem controle.

terça-feira, 18 de março de 2014

A Segunda Vez a Gente Esquece


Quando uma amiga me indicou o New Division, no começo de 2012, confesso que achei interessante o esforço dos californianos em soar como um mix atualizado de suas bandas preferidas, a saber, Depeche Mode, New Order e Joy Division. Claro que uma penca de gente que se veste preferencialmente de preto já estava explorando esse filão há algum tempo, desde o segundo escalão derivativo do She Wants Revenge até bandas que conseguiram se desvencilhar do excesso de referências disco após disco, como Editors e Interpol. O negócio é que desde que começaram a fazer showzinhos descompromissados pros amigos da faculdade até a brincadeira ficar séria e sair o primeiro disco (Shadows, 2011), o New Division parecia saber dosar suas composições nubladas com pop aparentemente digerível, o que poderia garantir um lugar ao sol ao quinteto.

Aí, estamos em 2014 e sai o segundo álbum. E, vou te falar, foram meus 45 minutos mais desperdiçados do ano. O disco é tenebroso. O que, em Shadows, vinha embalado pela acessibilidade de refrões amigáveis e levadas dançantes - mantidas por bases sóbrias e de uma certa beleza triste - em Together We Shine mostra a banda optando pela solução mais baixa, mais óbvia e mais preguiçosa possível: juntar sua sonoridade pseudo-sorumbática ao que de pior a dance music oferece hoje em dia, leia-se a EDM de gente como Avicii e Swedish House Mafia.

Pule sete casas e vá direto em "Lifted". O que temos? House music padrão Jovem Pan, com um verniz de new wave xinfrim e um riff de sintetizador que faria até o Steve Aoki corar de vergonha. As lambanças estão espalhadas pelo resto do disco. Os efeitos de bateria de nonagésima categoria de "Den Bosch", a interminável chupação dos baixos de Peter Hook ("Shine", "Honest"), a inevitável balada emocional ("St. Petersburg"), os timbres surrados dos teclados, a tentativa desesperada do vocalista John Kunkel em soar como um ícone atormentado do darkismo oitentista.

Datado e cafona, Together We Shine começa mal já no título e se estende até suas onze canções insossas, vazias e sem a menor inspiração. Se alguém se importar com esse lançamento, deve disputar a liderança na lista de piores do ano.

Uma geral em Together We Shine: sente o drama.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Segunda Class: Remembrance


De onde saiu o misterioso Remembrance? Que importa. Seu EP Day & Night é um dos lançamentos mais sólidos de drum'n'bass de 2014 - até agora. O lance aqui é exercitar a percepção, não os quadris. Atente para os detalhes que saltam aos ouvidos em faixas como "Instant Dreams": berimbaus preparando o terreno pros subgraves, floreios de guitarra entrelaçando-se aos samples vocais, batida que não segue nenhuma sequência humanamente executável. As guitarras continuam aparecendo, só que distorcidas e perfeitamente encaixadas ao baixo, na frieza do ótimo liquid funk da faixa-título. "After Life" capta um pouco da aura do Photek dos tempos do clássico Modus Operandi, com uma variedade de timbres de bateria invejável. O rigor das programações é quebrado pelos sintetizadores plácidos em segundo plano. "Simplicity" encerra o EP com mais uma sucessão de beats singulares e timbres de teclado esvoaçantes, que se perdem em ecos até ficarem imperceptíveis.

Instrumental e agradabilíssimo de ouvir, Day & Night não é a salvação criativa e absolutamente original do gênero, mas traz consigo batidas sedutoras e timbragens que passam longe do lugar-comum, sempre correndo ao lado das baixas frequências que impulsionam o drum'n'bass. Não perca. 

"Instant Dreams": quebradeira na selva.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Doug Lazy


Virada dos 80 pros 90: hip-house no auge. Tyree Cooper ("Turn Up the Bass") e Beatmasters ("Rok Da House") disputando o título de 'primeira faixa de hip-house registrada em vinil', hits, crossover pistas/rádios, todo mundo usando o sample "Uh! Yeah!" e finalmente, a bagaceirada que diluiu o gênero.

O DJ e produtor americano Gene Finley, conhecido como Doug Lazy, pegou a coisa na gênese e guardou ao menos três balaços pra posteridade: "Let The Rhythm Pump", "H.O.U.S.E." e o primeiro sucesso, "Let It Roll", de 1989. Baseada em samples de Marshall Jefferson ("Move Your Body"), Mantronix ("King of the Beats"), Big Daddy Kane ("Set It Off") e M.A.R.R.S. ("Pump Up The Volume"), "Let It Roll" tem a ladainha meia boca de Lazy, na clássica linha Kurtis "Eu Sou Foda" Blow, mas sinceridade que a letra é o que menos importa aqui. O que vale é se deixar levar pelos pianos flutuantes e esse baixo monocórdico irresistível. Just let it roll, let it roll, move!

"Let It Roll": hip-house mainstream.

quinta-feira, 13 de março de 2014

TRNSTNS


Deve pintar esse ano disco novo do SBTRKT, sucessor da boa estreia homônima de 2011.

Por enquanto, Aaron Jerome começa a disponibilizar em vinil e digital uma série de EPs com material que não vai entrar no álbum, gravado de 2011 pra cá. O primeiro chama-se Transitions, e dá pra ouvir inteiro no site do mascarado.

Transitions tem seis faixas instrumentais e nenhuma relação com pista de dança (muito menos com bass drops de dubstep ordinário). A criatividade de Jerome salta aos ouvidos quando ouvem-se coisas como "Hold The Line" e "Resolute", onde batidas fraturadas colidem com arpejos de sintetizador, formando uma cascata multicolorida de sons - imagem fictícia bem representada pela capa do EP, acima. "Gamalena" sugere algum tipo de trilha ritualesca que vai ao encontro da imagem adotada por Jerome para aparições em público. "Kyoto" continua a exploração do darkismo proposta pelo produtor desde o primeiro disco, enquanto as baterias desorientadoras de "Stifle" projetam SBTRKT para o seu próprio futuro (que eu prefiro nem chamar de pós-dubstep). 

"Hold The Line": complexidade rítmica.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Crônica De Uma Morte Anunciada


Nem era difícil prever. Sonny John Moore vem de uma série de EPs, mas álbum cheio até agora, nada. Eu cheguei a ficar coçando o queixo depois de ouvir "First of the Year (Equinox)" - pouco mais de quatro minutos de uma alquimia eletrônica distorcida em sua esmagadora fusão de reggae, dubstep e hardcore digital - mas agora que saiu seu primeiro disco, Recess, respirei aliviado. É horrível.

Skrillex diz que o que faz não é dubstep. A praia dele é o brostep, espécie de variação do subgênero, com a adição de elementos típicos do metal. Acho que é por isso que Recess soa tão repetitivo, tão irritante, de ideias tão limitadas. Não consigo imaginar em que tipo de prazer doentio se encaixa o deleite de algum ouvinte ao som do teste de paciência chamado "Dirty Vibe", parceria com Diplo - este, aliás, pode ter qualquer atributo: saqueador de funk carioca, pegador da M.I.A., mas talento musical, isso não. Me diz quem tem saco pra um zumbido dissonante como o de "Stranger"? E a cara de pau de gravar uma "Equinox II" (em "Try It Out")? A mesma cascata de efeitos, os mesmos vocais com pitch alterado, os mesmos cortes secos, a mesma bateria heavy. E olha, ele não acerta uma. Da abertura com a previsível fusão do raggamuffin dos Ragga Twins com os sons de liquidificador que saem dos sintetizadores virtuais de Skrillex em "All Is Fair In Love And Brostep" ao encerramento com a vibe chapada e estrategicamente colocada como última faixa de "Fire Away". Mas ele é malandro. De olho nos shows da tour que vem aí, Skrillex fez a apelativa "Ease My Mind", pretensamente um hino de estádio com letra adolescente tipo "se a gente não se Raoni, a gente se Sting", que deve ser berrada em uníssono por seus fãs: "Oh DJ, ease my mind, will you / Play that song again 'cause we were in love / Before, before the rain began / And if I cry I cover my ears." Lindo, não?

“Pare de se levar tanto a sério. Pessoas que criam estereótipos de gêneros, que dizem, ‘se você faz isso, você é assim’ – é quase racismo... Você é um artista – você pode oferecer algo legal”, disse o produtor californiano à Rolling Stone. Bom, em Recess, só faltou uma coisa legal: música.

"All Is Fair In Love And Brostep": com a fúria de um camundongo rugindo para a vassoura.

terça-feira, 11 de março de 2014

Quem Bate?


Não tem ruim pro The Knocks: Ben Ruttner e James Patterson já remixaram tranqueiras como Two Door Cinema Club (“Sleep Alone”), já meteram a mão em coisa boa (Santigold e sua “The Keepers”), e já dividiram o palco com gente tão diferente e estranha quanto Deadmau5, Skrillex, M.I.A., Tiësto e Weezer.


O mais novo EP da dupla nova-iorquina acabou de sair, e traz quatro faixas de bom pop eletrônico, dançável e assobiável. A razoável "Dreaming" é compensada pela viajandona "Savior", cheia de bleeps de techno antigo e vocais sonolentos de Wes Miles (do indie Ra Ra Riot). "The One" (participação dos australianos do Sneaky Sound System) é uma ótima sugestão para a pista, mas a melhor do pacote é a faixa título "Comfortable", com sua linha de baixo engrenada, refrão certeiro e um esperto vídeo de perversão blasé. Um dos bombons pop do primeiro trimestre.

"Comfortable": "all my shameful intentions."

segunda-feira, 10 de março de 2014

Voxless


Você acorda certo dia com um riff clássico de sintetizador na cabeça. Aí, você procura pela versão instrumental da música, e constata que ela simplesmente não existe. O que fazer?

Aí que alguém que atende pelo pseudônimo de vdublu909 criou um canal no Youtube pra divulgar seu trampo: versões sem vocais de clássicos synthpop e new wave dos 80 e comecinho dos 90. Usando softwares virtuais, vdublu, em alguns casos, beirou a perfeição. Extremamente complicado soar como os sintetizadores daquela época, mas o cara conseguiu. Dá uma ligada na recriação dos timbres de "Sweet Dreams", do Eurythmics:



Tem muito mais na página de vdublu909: Yazoo, Bronski Beat, Pet Shop Boys, Laura Branigan... um negócio profissa. Boa diversão, recomendo.

domingo, 9 de março de 2014

Mais Um Trabalho de Hercules


Andy Butler já prepara terreno pro terceiro álbum do seu Hercules and Love Affair, The Feast Of The Broken Heart, que sai em Maio.


Por enquanto, o novo single do projeto, "Do You Feel The Same?", apareceu na página do Hercules no Soundcloud. Com vocais do belga Gustaph e um bassline agressivo de TB-303, a faixa parece apontar para um disco bem mais animado que o último do grupo (Blue Songs, de 2011). 

"Do You Feel The Same?": acid house.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Os Dez Melhores Covers Dance


Tese inovadora: covers são facas de dois gumes. Uns melhoram sensivelmente o original, outros destroem o esforço da matriz. Na dance music, a prática é comum. A esmagadora maioria, é horrível. Sem imaginação. Catar hits infalíveis de outros gêneros e simplesmente adequar a canção à pista é o que mais acontece. Mas reconstruir, ousar, buscar aquela obscuridade e transformar numa coisa praticamente nova, quem? Juntei dez singles que, acho, cumpriram a tarefa. Com louvor. As versões originais estão em vermelho, é clicar logo abaixo do título. E não, não tem "Please Don't Go", do Double You.
 
"Don't Let Me Be Misunderstood" - Santa Esmeralda
Original:  Nina Simone


The Animals também coverizou essa, mas a primeirona a gravar a canção foi a diva Nina Simone, em 1964. Virou um monolito na voz dela, mas o Santa Esmeralda fez uma versão disco/flamenca/latina muito digna. Repare no paredão de metais em 03:22 e na trama de violões muito bem executada. O mix tem mais de 16 minutos e o vocalista Leroy Gomes parece ter tido orgasmos múltiplos no estúdio depois de seis minutos e meio.

"Always On My Mind" - Pet Shop Boys
Original: Brenda Lee


Pois é, eu também achava que o original era do Elvis. A cantora pop/country Brenda Lee é quem gravou "Always On My Mind" pela primeira vez (1972), das mais de 300 versões que a música possui. Em 1987, o duo britânico Pet Shop Boys transformou a candura de Brenda num sofisticado e dançável synthpop, chegando ao número um no paradão inglês.

"Going Back To My Roots" - FPI Project
Original: Lamont Dozier


Compositor de uma pá de hits para artistas da Motown, Lamont Dozier gravou ele mesmo "Going Back To My Roots", em 1977. Os italianos do F.P.I. Project fizeram sua ótima versão house em 1989, cheia de pianos saltitantes e com um lindo arranjo de sintetizadores. Tem aquele "Uh! Yeah!" que encheu a paciência, mas, em compensação, tem a Sharon Dee Clarke (Nomad) nos vocais.

"Walk On By" - Sybil
Original: Dionne Warwick

 

Composição dos geniais Burt Bacharach (música) e Hal David (letra). A ideia de um cover com beat quebrado já havia aparecido em 1988, com a dupla inglesa Smith & Mighty. Um ano depois, o produtor americano Eddie O'Loughlin fez sua "Walk On By" bem parecida, um tanto mais classuda e com um groove rechonchudo. Com o falsete afinadíssimo da cantora Sybil, foi hit nos bailes charme aqui no Brasil.


"Tainted Love" - Soft Cell
Original: Gloria Jones

 

Um trabalho notável de transformação do soul original num synthpop febril, com o cantor Marc Almond acertando os vocais no primeiro take da gravação. Rihanna baseou-se amplamente na versão do Soft Cell, no seu hit "SOS", de 2006, e ainda sampleou os clássicos bleeps de sintetizador da música (bolados por Almond, e não Dave Ball). O single da dupla inglesa foi o mais vendido na Inglaterra em 1981.

"Only Love Can Break Your Heart" - Saint Etienne
Original: Neil Young


O original estava esquecido em alguma gaveta desde que foi gravado por Neil Young, em 1970. O Saint Etienne recuperou a bela música do canadense e fez sua arrasadora versão 20 anos depois, no segundo single da sua carreira. Inesquecível.


"Be Thankful For What You've Got" - Massive Attack
Original: William DeVaughn


O Massive Attack aproveitou alguns elementos (linha de baixo, piano elétrico) do clássico original de William DeVaughn (1974), mas o grande trunfo do grupo de Bristol foi o timbre sensacional do vocalista Tony Brian - sexy e inacreditavelmente feminino. O DJ Paul Oakenfold ainda conseguiu melhorar o que já era excelente, com esse "Perfecto Mix", polindo os beats e injetando umas flautinhas hipnóticas. O subtítulo dá a pista de como ficou o remix.

"Fantasy" - Black Box
Original: Earth, Wind & Fire



Na versão do projeto house italiano Black Box, a bateria foi sampleada de "La Vie en Rose" (na regravação de Grace Jones para a clássica canção de Édith Piaf) e os vocais são maravilhosamente berrados por Martha Wash - embora a modelo Katrin Quinol apareça no vídeo dublando na cara dura.


"Can't Take My Eyes Off You" - Boys Town Gang
Original: Frankie Valli


Ótima banda de estúdio, o Boys Town Gang só emplacou esse cover feito em 1982 para o clássico de Frankie Valli, de 1967. Um dos últimos espasmos da disco original, a "Can't Take My Eyes Off You" do Boys Town Gang já entra no terreno da Hi-NRG, com sintetizadores fundindo-se à uma linda sessão de cordas e um naipe de metais memorável.


"Another Day In Paradise" - S.L.Line
Original: Phil Collins


Transformar a compaixão pelos sem-teto do hitaço de Phil Collins em jogação foi digno de Midas. O S.L.Line só teve o trabalho de usar a batida downtempo de "Keep On Movin'" do Soul II Soul e colocar alguém com a voz igualzinha à de Collins pra cantar. O groove de Jazzie B caiu como uma luva. Parece um remix, mas é um cover mesmo.

terça-feira, 4 de março de 2014

Shakin' That Bass


Sei não, mas periga passar meio batido o EP novo do Groove Armada.


Pork Soda traz três faixas de house com recortes vocais, baixos engessados e pouca variação melódica. Uns adereços a mais em "Hyde & Freak" (guitarra, sax) e o pianinho Chicago em "Jack in Black" devem garantir que o EP fique restrito às pistas, sem o airplay significativo dos tempos de "I See You Baby" e "My Friend".

"Jack in Black": back to the 90's?

segunda-feira, 3 de março de 2014

Segunda Class: Daley


Falei sobre Daley em Julho do ano passado, e agora sai o debut do cantor e compositor de Manchester, Days + Nights. Com um batalhão de produtores por trás da empreitada (são 12 - entre eles Pharrell Williams e Bernard Butler, ex-Suede), o álbum valeu o tempo gasto: Daley vem montando o disco desde 2012. Days + Nights é R&B quebradinho ("Broken"), soul ("Time Travel"), cordas ("Blame the World"), beats e texturas muitíssimo bem estruturadas. Um passo a frente pro R&B britânico, ante a estática da matriz norte-americana.

"Blame The World": arranjo luxuoso.