O Shalamar, projeto formado em 1977 e responsável por clássicos do sacolejo como "A Night To Remember" e "I Can Make You Feel Good", virou o RPM do soul americano: já acabou e voltou umas três vezes. Sua encarnação 2017 acaba de lançar single novo, o maravilhoso "The Real Thing". Com várias trocas na formação, o grupo hoje é o trio Jeffrey Daniel, Howard Hewett e Carolyn Griffey (filha da cantora Carrie Lucas). "The Real Thing" é um lindo pedaço de R&B atemporal; dançável, melódico e com harmonias vocais lapidadas à perfeição.
O duo francês Miss Kittin & The Hacker,
formado no final dos 90 por Caroline Hervé e Michel Amato, já acumula
dois álbuns e uma batelada de singles com respeitáveis doses de electro e
synthpop envolvidos. Seu lançamento mais recente é o EP Lost Tracks Vol. 1,
de 2015, com quatro demos inéditas gravadas entre 1997 e 1999. Para
2017, a dupla volta a trabalhar em conjunto na faixa "The X" (Dark Entries),
um techno subterrâneo sem espaço para melodia ou refrão. A música não
se mostra muito amigável numa primeira audição, mas os vocais sexy e
sussurrados de Miss Kittin e o instrumental pesado de Amato - com bleeps e
efeitos nos lugares certos - vão seduzindo aos poucos. Remixes
de gente como Jeff Mills seriam bem-vindos. "The X" é a única faixa com vocais de Le Théâtre des Opérations (disponível para audição no Spotify),
novo álbum de Michel - desta vez solo.
"The X":
O disco traz nove faixas de
techno com vasta influência de EBM e uma curiosidade: na contramão da
tecnologia e seus softwares milagrosos, foi todo gerado por equipamentos
analógicos. É isso que dá um sabor quente e especial à dance tracks
como a kraftwerkiana "Dark Neon" (lembra vagamente as explosões eletrônicas de "It's More Fun To Compute") e a totalmente Nitzer Ebb
"Body Diktat", com seu baixo cambaleante e baterias eletrônicas
paleolíticas. Ainda como destaques fortes do álbum, a abertura
"Underwater Sequence" e seus sintetizadores borbulhantes e o
encerramento "Camisole Chimique", de ritmo engrenado e bateria em
primeiro plano. Le Théâtre des Opérations é um disco
robusto, homogêneo e que se posiciona facilmente entre os melhores da
cena techno lançados neste 2017 carente de bons álbuns do gênero. Vale -
muito - um confere.
Paul Jason Robb, produtor do technopop americano de segundo escalão (Red Flag, T42) e de bons nomes do freestyle (TKA, Noel), além do seu Information Society, tem um currículo interessante, mas eu mal sabia que ele tinha uma carreira solo. Vi dia desses que Robb acaba de lançar seu quarto (!) álbum, Impossible Piano, por seu próprio selo, HAKATAK International. O título é oportuno, porque a maioria das nove faixas aqui traz temas instrumentais que tem o piano tratado eletronicamente de modo a parecer realmente improvável a extração desses sons pela simples execução num Steinway & Sons da vida. Os efeitos (ecos, rufos, reverbs), reforçados pelas camas lúgubres de cordas que emolduram as composições, criam paisagens oníricas de placidez e serenidade, sensação potencializada pelo timbre abafado do piano, onipresente nos sons registrados no disco. A viagem de Robb fica no meio do caminho entre ambient e eletrônica, pendendo para um certo darkismo facilmente detectável em Impossible Piano. O surrado clichê que fala numa suposta "trilha sonora para um filme imaginário" é conveniente para tentar decodificar o trabalho.
Se você acha o incensado Ambient 1: Music for Airports, de Brian Eno, um saco, fuja. Se quer um acompanhamento sonoro para noites de leitura, vinho e frio, é o que há.
Pra você que perdeu o début do Trickfinger (homônimo, 2015), saiba que conhecer o projeto-de-um-homem-só de John Frusciante já por esse segundo álbum, recém lançado pelo selo americano Acid Test, não faz a menor diferença.
Com duas músicas a menos que o seu predecessor de 2015, Trickfinger II não surpreende o ouvinte quando se descobre que as faixas são todas da mesma época (2007, no caso) e que Frusciante nem pensava em lançá-las "oficialmente". Fato é que o disco de seis temas instrumentais repete a ideia central da faceta eletrônica de Frusciante: acid house experimental com um acabamento propositalmente primário, onde tudo soa como se fosse um live P.A. gravado e mixado sem overdubs ou pós-produção de nenhum tipo (os solos de improviso fundidos às mil e uma variações da TB-303 em "Ruche", deixam isso bem claro).
Os únicos momentos de Trickfinger II que perigam ficar na memória são - para o bem - "Exclam", com seu esqueleto dorsal serpenteante em forma de arpejo de sintetizador que percorre toda faixa e, por cima disso, timbres acid que derretem e voltam a forma original em centésimos de segundo e - para o mal - "Hasan", onde Frusciante nitidamente perde a mão nos botões do equipamento e acavala programações de bateria e sintetizadores numa maçaroca ininteligível. Apenas como curiosidade, "Cuh" é uma tentativa techno-nostálgica que não faria feio no catálogo da Metroplex em 1987.
Lançar um disco desses em pleno 2017 não deixa de ser louvável e corajoso (por tudo que, digamos, Frusciante representa), mas convenhamos, se é pra ouvir uma aparente jam session freestyle assim, em forma de álbum, melhor catar os vídeos que o A Guy Called Gerald posta em seu perfil no Facebook.
"Exclam": um dos raros bons momentos de Trickfinger II.
"Hip-hop reggae inna dance hall style". Pronto, numa frase extraída de um dos maiores hits daquele fantástico 1991, o nigeriano Alban Uzoma Nwapa definia seu som.
Na verdade, "No Coke" foi lançada em Novembro de 1990, mas na era pré-Internet, as coisas aconteciam no seu tempo. Na pista que eu frequentava, ela tocou durante o ano inteiro e, lembro bem, era uma comoção aos primeiros acordes do baixo. Foi bem nas paradas europeias, especialmente no país que Alban adotou aos 23 anos para estudar Odontologia (daí o Dr., sacou?), a Suécia (primeiro lugar). O som não era exatamente novidade, mas a pegada pop de "No Coke" facilitou as coisas pra quem não era chegado no raggamuffin' cru e seco de Cutty Ranks, por exemplo, e talvez sem querer, Dr. Alban (junto com Shabba Ranks) estava ajudando a popularizar um gênero que vinha borbulhando desde o meio dos anos 80, quando os estúdios jamaicanos descobriram o sampler e por consequência, timbres impensáveis até então para o contra-baixo. E o que salta aos ouvidos em "No Coke" - além do óbvio manifesto anti-drogas da letra ("Cocain will blow your brain / And ecstasy / Will mash your life"), é a frequência subterrânea de sua linha de baixo, lapidada ao extremo pelo genial e saudoso Denniz Pop (que pouco depois produziu Ace of Base, Backstreet Boys, Britney Spears, N'Sync e Rick Astley, entre outros). Alguém anotou a placa?
"No Coke": pra testar a qualidade dos alto-falantes.
O MGMT sempre foi meio esquisitinho, psicodélico e chapado em sua eletrônica revisionista de, até agora, três álbuns: a boa estréia Oracular Spectacular (de 2007, que gerou os ótimos singles "Kids", "Electric Feel" e "Time To Pretend"), o fraquíssimo Congratulations (2010) e o autointitulado MGMT (2013), que passou totalmente batido (ao menos pra mim). Eis que a dupla americana formada pelos cantores e multi-instrumentistas Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser retorna agora com um single ("Little Dark Age") e um álbum de mesmo nome, programado pro início do ano que vem. Vídeo e música mantém o padrão imposto especialmente no primeiro álbum - dosando pop e experimentação -, mas nesse single o MGMT aponta seus sintetizadores mais em direção à 1982 do que 1968. É um synthpop de sobretons neogóticos e belos arpejos em progressão no refrão. Gostei bastante.
"Fiquei realmente surpreso quando o Guru Josh chegou na Espanha primeiro e se manteve 17 semanas no primeiro lugar. 'Pacific State' deveria ter feito isso."
O espanto do tecladista Martin Price, do 808 State, não escondia uma certa frustração por seu single "Pacific State" não ter alcançado o mesmo sucesso que "Infinity", faixa lançada quase simultaneamente pelo britânico Paul Walden, o Guru Josh, em 1989. A ideia, a grosso modo, era a mesma: ambient house tranquilona, com uma cama macia de teclados e, coincidentemente, solo de saxofone em ambas. "Pacific", sem dúvida, tinha uma produção mais refinada. Sons ambientais e um baixo elástico fundindo-se à melodia eterna do sax de Graham Massey, enquanto "Infinity" vinha numa embalagem new age meio canastrona (a frase "nineteen ninety... time for the guru" repetida incessantemente), com o próprio Josh se achando uma espécie de Messias da nova geração da dance music. Fato é que o riff de "Infinity" também foi digno de ficar na memória, para o bem ou para o mal. Tanto que a faixa ganhou uma recauchutagem em 2008 e foi hit tão forte quanto a primeira versão, se não maior.
Josh faleceu em Dezembro de 2015 e sua morte foi apontada como suicídio.
No único álbum lançado por Guru Josh (também Infinity, de 1990, capa acima), tem minha música preferida do tecladista. E não é a faixa-título, é "Lift Up Your Arms".
"Lift Up Your Arms":
Mas o hitaço de Josh é mesmo "Infinity (1990's... Time for the Guru)":
A arte da mixagem não diz respeito somente ao simples alinhamento de batidas. É muito mais que isso. Tem a ver com climas, texturas, timbres, coerência, feeling, senso musical apurado... tudo o que anos de cabine deram ao DJ Renato Lopes e que faz seus sets transformarem-se em experiências transcendentais, onde a música leva a lugares desconhecidos e, muitas vezes, para além dos limites da pista de dança. O prazer da viagem e as surpresas que aparecem no caminho estão no mais recente set que Renato subiu no Mixcloud, chamado another mix Oct 2017. O mix inclui desde pioneiros da house como Glenn Crocker (Glenn Underground) até gente nova e talentosa como Alexander Dorn (Credit 00) e CVBox, em quase uma hora em que adicionar as palavras "viradas perfeitas" é absolutamente redundante. Ouça no player abaixo ou visite o perfil de Renato Lopes no Mixcloud, onde outras maravilhas como esta estão prontinhas pra serem ouvidas.
Bem-vindo ao mundo VIP do Chainsmokers: narcisismo, ostentação, hedonismo, famosidades, caras, bocas, poses, tapetes vermelhos... e música ruim. É o vazio existencial traduzido em beats de EDM fuleiro que a dupla americana Andrew Taggart e Alex Pall devolve em forma de canções como "#Selfie", o primeiro hit, de 2014: "Vocês podem me ajudar a escolher um filtro? / Eu não sei se eu deveria escolher o Xxpro ou Valencia / Eu quero parecer bronzeada / O que devo colocar na descrição? / Eu quero que seja algo inteligente / Que tal 'vivendo com minhas vadias, #viver' / Eu só consegui dez likes nos últimos cinco minutos / Você acha que eu deveria apagar? / Deixa eu tirar outra selfie". De uma composição pueril com a nítida intenção de tirar proveito de um termo em voga, o Chainsmokers foi ao encontro de uma geração prontinha pra abraçar, por simples identificação, uma dance track fadada ao sucesso: o single vendeu mais de um milhão de cópias só nos Estados Unidos e o vídeo tem mais de 500 milhões de visualizações no Youtube.
Depois de mais alguns singles e EPs de sucesso e amparada por dígitos acima de seis zeros, a dupla chegou a 2017 com material suficiente para o primeiro álbum, Memories...Do Not Open (saiu em Abril, pela Columbia). Não foi surpresa, portanto, que o disco chegasse no topo do paradão da Billboard. É uma coleção homogênea de dance music de linha de montagem, provavelmente manufaturada com softwares comuns a produtores da mesma estirpe (como Calvin Harris, Avicii e nossa estrela canarinho Alok), porque soa exatamente igual a esse pessoal. Fácil constatar que Memories... atingiu em cheio seu público-alvo, de obcecados por som automotivo (porquê os graves aqui são surreais) até quem acha que a Tomorrowland é, realmente, a Terra dos Sonhos da música para dançar de todo o Universo. O álbum tem metade das faixas narrada (porque "cantar" não é exatamente o verbo aqui) de forma monocórdica e semi rouca por Andrew Taggart e o restante traz gente tão ruim quanto: da insossa Emily Warren (ligada ao selo do picareta Dr. Luke) até o arroz de festa do Coldplay, Chris Martin (na sofrível "Something Just Like This").
Não tem nada, mas nada, minimamente aceitável nesse Memories...Do Not Open e a única boa notícia é que "Honest", single mais recente do duo, alcançou
apenas um modesto número 77 no paradão de singles da Billboard, o que diz muito sobre a descartabilidade e a volatilidade do pop de hoje quando a ameaçadora sentença bate à porta: não vendeu, babau. Quem
sabe eles somem tão rápido quanto apareceram?
"Something Just Like This": Chris Martin beijando a lona.
Uma pausa para o amor em 45RPM: o projeto nova-iorquino Raze, formado
pela dupla Keith Thompson e Vaughan Mason, lançou vários singles e dois
álbuns no período 1986/1992, mas serão lembrados eternamente por "Break 4
Love", de 1987; uma faixa de puro soul com roupagem house,
absolutamente brilhante em sua sedutora simplicidade. Classic garage
house anthem.
Tecnicamente, qualquer canção pode virar um reggae. É só dar uma checada na discografia do UB40 e constatar que a banda britânica construiu sua exitosa carreira apoiada, basicamente, em covers. Parece uma fórmula não muito honesta quando isso ocorre com clássicos como "Can't Help Falling In Love" (Elvis), que deu ao UB40 seu terceiro single número um no paradão inglês em 1993. Por outro lado, pode, também, trazer à tona e dar uma segunda chance a faixas semi obscuras como "Red Red Wine" (Neil Diamond, 1967) e transformá-las em hits mundiais (a versão do UB40, de 1983, chegou ao topo nos dois lados do Atlântico).
Seguindo essa cartilha, o outrora onipresente Inner Circle acaba de gravar sua "Light My Fire" (Doors) - coisa que o UB40 já havia feito em 2000. Com o auxílio dos cantores Konshens e J Boog, os jamaicanos cometeram uma versão bem comportadinha, talvez tentando reviver a década em que a banda dominava o dial (eles empilharam sucessos nos anos 90).
Se o cover não foi lá muito animador, a boa notícia é que, na sequência, o Inner Circle pretende lançar novas músicas com gente bacana como Maxi Priest e Mykal Rose e, ano que vem, comemorar 50 anos de estrada com - quem sabe - um disco novo, que espero, seja de inéditas.
Bruce Lee fez a cabeça da molecada americana nos anos 70. Filmes como A Fúria do Dragão, O Voo do Dragão e O Dragão Ataca, se pecavam pela falta de variedade temática, elevaram Lee à condição de ícone cultural e popularizaram definitivamente películas dedicadas às artes marciais, deixando um legado absorvido por artistas tão díspares quanto Wu-Tang Clan e Quentin Tarantino.
Foi nessa onda que embarcou o jamaicano Carlton George Douglas. "Kung Fu Fighting" deveria, originalmente, apenas preencher o lado B do single "I Want to Give You My Everything", mas após ter sido gravada (em menos de uma hora e apenas dois takes), um executivo da gravadora insistiu para que a faixa fosse prensada no lado A. Sábia decisão: lançado em 1974, o single vendeu mais de onze milhões de cópias. Produzida pelo subestimado indiano Biddu (Tina Charles, The Flirtations), "Kung Fu Fighting" tem um riff de flauta oriental clássico, entre vários "huh! hah!", representando foneticamente os movimentos da luta. Carl Douglas cantava bem demais, mas lustrava a cara de pau e mandava ver na performance metido nesse ifu (roupa para a prática do kung fu) do vídeo abaixo. Foi um hit só, mas lá em 1974, everybody was kung fu fighting.
O Rei do Freestyle chegou ao topo do paradão da Billboard em 1990 com a baba "Because I Love You (The Postman Song)", mas sua música mais conhecida é "Spring Love", lançada dois anos antes - ao menos no Brasil, onde foi megahit de pistas e rádios. Pode colocar boa parcela da culpa em Stevie B pelo fenômeno do funk melody ter se propagado por aqui (ele tem um single que batizou esse subgênero do funk carioca, inclusive), de onde saiu gente um tanto duvidosa, como Latino e Copacabana Beat e também um povo comprovadamente talentoso (Claudinho & Buchecha). "Spring Love" é a canção freestyle por excelência: percussão latina, gancho forte de sintetizador, vocais dramáticos e linha de baixo adiposa correndo juntinho com o bumbo. Acha melosa? Bobagem. Stevie B é um ótimo cantor de R&B e os arranjos de voz dessa faixa (especialmente quando entram os backing vocals), são irrepreensíveis. Pra saudar a chegada da Primavera, uma óbvia (e ótima) pedida. "Spring Love (Come Back to Me)": o cabelo está bem melhor agora.
Era de se esperar que o recém-lançado "You're the Best Thing About Me" (primeiro single do próximo álbum do U2, Songs of Experience),
viesse acompanhado de uma batelada de remixes, oficiais ou não.
Primeiro que faz bastante tempo que a relação do U2 com as pistas de dança é bem íntima, segundo que a banda irlandesa parece não querer
perder o trem da história. Pra isso, convocou o galã norueguês (produtor
e DJ nas horas vagas) Kygo para adequar a canção ao gosto dos frequentadores das Tomorrowland da vida. Kygo, fora suas duvidosas produções de dance, acumula as façanhas de ter ultrapassado
a marca de um bilhão de views de sua * cof cof * música no Youtube e
Soundcloud somados e ter sido o primeiro produtor de house music a se
apresentar numa cerimônia de encerramento de uma Olimpíada (no Rio, ano
passado). Uh.
A versão de Kygo para a faixa do U2 é uma EDM de paletó e gravata, sem
os tradicionais e enfadonhos drops nem os irritantes sintetizadores à
beira de um ataque de nervos, comuns ao gênero. Ao invés disso, Kygo optou por recriar o
riff original com um nível de distorção aceitável, picotou os vocais
aqui, espalhou uns pianinhos ali... nada original, mas, vá lá, eficiente para ouvidos com nível de atenção bem baixo
e pés não muito exigentes do público a que foi destinada.
Tem tudo pra ganhar sua antipatia: uma canção que se chama "Oh Susie" e uma banda chamada Secret Service.
"Oh Susie" é o primeiro single do grupo sueco, lançado em 1979. Ficou 14
semanas em primeiro lugar na parada local, depois virou hit mundo
afora. Aqui no Brasil saiu nessa versão sete polegadas acima. A faixa
pega carona em alguns bondes da época: o emergente technopop, uma
levadinha disco, soft rock, new wave. Gosto muito dos
sintetizadores e o refrão dá pra decorar na primeira audição.
Estranhamente constrangedora, datada. Na pista, a reação quase sempre é
um misto de incredulidade e contentamento. O ex-vocalista da banda, Ola
Håkansson, fundou a Stockholm Records em 1992, lançando nomes como The Cardigans. O que o redime, um pouco, dos pecados cometidos durante o período de atividades de sua banda.
Dois caras que se conhecem, descobrem afinidades musicais, gravam uma série de músicas, até que uma delas ganha execução considerável para atrair uma grande gravadora, que assina um contrato com a recém-criada banda e joga a dupla rumo ao estrelato. É parecida, mas essa não é exatamente a história do Tender e sim a do Lighthouse Family. E as semelhanças entre os dois não vão muito além do fato de ambos virem da Inglaterra e terem o R&B como leitmotiv. Só que enquanto as melodias ensolaradas do Lighthouse Family emolduram canções que versam sobre amor, esperança e boas vibrações, o terreno explorado pela dupla do Tender, James Cullen (vocais) e Dan Cobb (teclados), é o oposto muito mais sombrio; um mergulho nas águas turvas do desamor, desapontamento e perda.
Com nove (de um total de doze) músicas inéditas, o debut do Tender, Modern Addiction (Partisan Records),
traduz sentimentos tão comuns aos ouvintes que tornam as canções
familiares instantaneamente, apesar (ou por causa) das letras aguçadas e
diretas, de um romantismo em estado febril, mas não piegas. O
instrumental de Cobb é simples mas incrivelmente eficiente, converte as
letras num certo tipo de paisagismo sonoro, com uma paleta de sons
distribuídos precisamente em cada faixa - ora lúgubre e ritualístico
("Hypnotised", "Vow", "Trouble"), ora desenvolvido em células suaves,
quase dançantes ("Machine", "Powder"). A diversidade dos arranjos,
predominantemente sintéticos e percussivos (nunca grandiloquentes), são o
contraponto perfeito para os vocais murmurantes de Cullen desfilarem
suas letras quase como confidências de seus amores perdidos em climas
enfumaçados pelos teclados. A música do Tender atualiza o R&B
britânico com o uso contido da tecnologia, há vários hits em potencial
em Modern Addiction (o desempenho desse álbum pode - e
deve - dar uma segunda chance para os singles "Erode" e "Machine" irem ao encontro do mainstream), para que, finalmente, as comparações com o
Lighthouse Family encontrem mais uma similaridade: a dos números acima
dos seis dígitos. Faz por merecer.
Comprei esse disco totalmente às cegas, há uns 10 anos. Conhecia o Eno
do Roxy Music, mais algumas produções e colaborações, mas de seus
lançamentos solo, praticamente nada - situação não muito diferente da de
hoje em dia, confesso. Ouvi pouco esse vinil durante esse tempo. São
experimentos minimalistas; camadas sobre camadas de sintetizadores,
vozes, pianos, manipulação de tapes... tudo para "produzir peças
originais ostensivamente (mas não exclusivamente) para momentos e
situações particulares com vistas a construir um pequeno, mas versátil,
catálogo de música ambiental adaptado a uma ampla variedade de ambientes
e atmosferas" (segundo o próprio Eno escreveu no encarte do LP, na foto acima).
Não é meu preferido do gênero (Chill
Out, do KLF, está em primeiro na minha lista), mas esse Music for
Airports passa longe de definições pejorativas como "música enquanto
papel de parede". Este não é um álbum pra ser ouvido enquanto se lava a
louça - embora o próprio Eno tenha considerado que a música aqui pode
soar "tão ignorável quanto interessante".
Ambient 1: Music for Airports: se você dormir no meio da execução, tio Eno te perdoa.
Pedra fundamental do freestyle: "Let the Music Play", faixa de 1983 da cantora Shannon. Um marco da dance music. Claro, inspirado pelos alemães duros de cintura do Kraftwerk ("Numbers"), Afrika Bambaataa já havia experimentado com esses beats de funk sintético em 1982 ("Planet Rock"), mas o single de Shannon injetou aquele tempero latino característico do gênero e um apelo pop que fez a canção chegar aos primeiros lugares das paradas americanas.
O nova-iorquino Noel Pagan seguiu direitinho a cartilha do freestyle no seu debut autointitulado - que tinha no time de produtores gente como Paul Robb (Information Society), John "Jellybean" Benitez e "Little" Louie Vega - e conseguiu emplacar alguns hits. "Silent Morning" é sua canção mais conhecida. Incluídana trilha da novela Vale Tudo, em 1988, estourou Noel por aqui e trouxe consigo uma avalanche de artistas de freestyle que ganharam projeção e popularidade em rádios e pistas brasileiras: TKA, Stevie B, The Cover Girls, Will to Power, Tony Garcia... a lista é grande.
Noel bem que tentou se desvencilhar do freestyle em sua tentativa pop rock Hearts on Fire, álbum de 1993, mas o resultado foi decepcionante e, mesmo sem gravar discos há um bom tempo, o cantor permanece na ativa fazendo shows.
Art Rock é um guarda-chuva multifacetado, que tanto pode abrigar gente
que faz o rótulo ser visto com bons olhos (leia-se ouvidos), como o Roxy Music, ou pode trazer para perto de si abacaxis do tamanho de um Kansas,
por exemplo. Fato é que discos que já nascem com o carimbo de Grande
Arte estampado em suas capas geram uma expectativa que pode
transformar-se em decepção assim que a agulha pousa no vinil (ou quando
você clica no play); por presunção, vaidade ou falta de talento, mesmo. O
australiano Angus Andrew, que agora conduz sozinho o Liars, segue pelo
tortuoso caminho escolhido para o seu pop oblíquo por natureza, que, no
final das contas, junta art rock e eletrônica, com resultados ambíguos.
Com um novo álbum recém lançado (TFCF, Mute Records)
e uma temática centrada quase que exclusivamente sobre a degeneração da
relação entre Andrew e seu ex-companheiro de banda, Aaron Hemphill, o
Liars soa desafiador ao disparar uma metralhadora de batidas abrasivas
("Staring At Zero"), toneladas de amostras de sons/timbres esquisitos,
violões que surgem redentores e vocais ora cantados com a doçura de um Wayne Coyne ("No Help Pamphlet"), ora declamados com o tédio abissal de um rap desengonçado em slow motion à Beck Hansen ("The Grand Delusional"). No final de Agosto, o Liars jogou no Youtube o primeiro vídeo extraído de uma canção de TFCF,
"Cred Woes" e ela deixa muito claro que o trabalho da banda-de-um-homem-só vai trilhando propositalmente essa rota perigosa, que pode ser o
equivalente sonoro de um quadro de Jackson Pollock ou, na pior das
hipóteses, de Romero Britto. Para decodificar a arte de Angus Andrew,
escolho os dois.
O nome de guerra não era à toa: Tony Dawson Harrison, o Captain Hollywood, era realmente capitão do exército americano. Tio Sam perdeu um militar mas o mundo pop ganhou um, hããã... bom dançarino. Certamente Harrison não vai ser lembrado por sua voz rouca e sombria, rapeando no meio de divas flamejantes com pulmões e gargantas muito mais privilegiados.
Seu single de estreia, "More And More" (1992), é uma típica obra eurodance: techno diluído, pop enérgico, riffs ganchudos de sintetizador, refrãos repetidos à exaustão. Fez tanto sucesso que gerou uma "Parte 2", disfarçada sob o nome "Only With You" - que, descontando o rap sem graça de Hollywood - acho superior à "More And More". Simpatizo com ambas, no entanto.
O álbum, intitulado com a pérola de sabedoria Love Is Not Sex, vendeu bem, manteve o projeto em evidência durante 1993 e gerou mais dois singles (a boa "All I Want" e "Impossible"). Captain Hollywood mantém-se na ativa até hoje, provavelmente esperando um revival eurodance acontecer.
Udeze Ukwuoma (a.k.a. Dday One) é um DJ e produtor americano, na ativa desde meados da década de 90. A onda dele é hip-hop instrumental, um subgênero que já deu ao mundo nomes muito interessantes, como DJ Krush, RJD2, J Dilla e DJ Shadow, (cujo álbum Endtroducing….., de 1996, é um marco da música eletrônica).
Dday One acabou de lançar seu novo EP, Artifact, pelo próprio selo, Content (L)abel,
com seis faixas carregadas de beats engenhosos e samples variados
convivendo em harmonia com instrumentos acústicos. Além da (boa) música
contida no EP, um detalhe que chama atenção em Artifact é o
formato em que ele foi lançado: um edição limitadíssima de apenas cem
cópias... em disquete. A inusitada plataforma vem devidamente
autografada e inclui um download code para o EP em versão MP3 e ainda um
arquivo de texto que contém um link para uma faixa extra. Mais estranho
ainda é saber que a prática pouco usual não é exclusiva de Dday. Tem um
povo que também emprega essa forma de divulgação atualmente, num movimento muito bem descrito
pelo jornalista Ricardo Schott em uma matéria para o seu site Pop Fantasma. Quem, porém, não quiser se aventurar pelos problemáticos floppy disks, pode ouvir Artifact e outros trabalhos de Dday no Bandcamp do artista.
Os australianos do Cut Copy acabaram de divulgar o segundo single do novo álbum Haiku From Zero, "Standing in the Middle of the Field". Pra você (como eu) que ficou mal acostumado com o alto nível
do (synth)pop urdido pelo quarteto na boa estreia Bright Like Neon Love (2004) e, especialmente, no ótimo In Ghost Colours
(2008) e viu a coisa desandar nos três álbuns seguintes, tenho que dizer
que a nova música não lembra - nem de longe - aquele Cut Copy do começo da década passada. Percussiva e preguiçosa, "Standing in the Middle of the Field" arrasta-se por cinco minutos e meio de vocais sonolentos e instrumental sem inspiração. Decepcionante.
O single anterior, "Airborne", deu alguma esperança de que Haiku From Zero pudessetirar o Cut Copy do estado de letargia em que a banda se encontra nos últimos anos: com sua guitarrinha funkeada, uma linha de baixo toda trabalhada no talento e vocais
indie-verãozinho bem apreciáveis, ao
menos é melhor que qualquer coisa que eles lançaram de 2011 pra cá.
O vocalista, tecladista e guitarrista Dan Whitford explicou em comunicado a imprensa que "...é a primeira vez que criamos um álbum com cada membro da banda em diferentes cidades em todo o mundo e durante seis semanas nos reunimos novamente no estúdio em Atlanta para fazer essas gravações. Para mim, provavelmente é a melhor destilação do que nossa banda representa, combinando nossa sensibilidade de produção de estúdio com a energia de nossas performances ao vivo. Eu não poderia estar mais feliz com a forma como acabou e estou realmente animado para os fãs ouvirem o próximo capítulo do Cut Copy." Quando li isso, lembrei na hora do que Martin Gore, do Depeche Mode, falou simultaneamente ao lançamento do clássico álbum Violator, de 1990: "Você tem de se lembrar de que nenhuma banda tem qualquer perspectiva sobre o disco que ela acabou de finalizar. Então podem muito bem sair dizendo que é o melhor que eles já fizeram." Sábias palavras.
Haiku From Zero tem nove faixas e o lançamento está programado para 22 de Setembro, pela gravadora nova-iorquina Astralwerks.
Disco novo do Hercules and Love Affair à vista: Omnion é o quarto do grupo, criado e liderado pelo DJ e produtor americano Andy Butler. Com uma discografia irregular até agora, o projeto talvez tenha sofrido um pouco com o fato de ter feito uma estreia empolgante - o debut homônimo, de 2008. Contando com vocalistas convidados (Antony Hegarty entre eles), o álbum foi produzido pelo próprio Butler e pelo DJ e produtor inglês Tim Goldsworthy (U.N.K.L.E., LCD Soundsystem, Cut Copy e Rapture no currículo) e traz Antony Hegarty cantando em cinco das dez faixas, entre elas o soul sintético "Time Will", a percussiva e sussurrada "Easy", "Raise Me Up" (em que os vocais foram soterrados na mixagem em favor do baixo galopante e da bateria disco) e o hit "Blind", cheia de gemidos, trompetes e euforia. Outras canções de destaque são "You Belong" (uma house de refrão grudento em que a levada de piano lembra uma "Understand This Groove" dos suecos do Sound Factory em slow motion), "Iris" (algo Andrea True Connection) e ainda o baixo formidável de "Athene", os metais de "This Is My Love" e as totalmente setentistas "Hercules Theme" (instrumental) e "True False/Fake Real". Num dos melhores discos de 2008, pouca gente veio com uma coisa tão divertida naquele ano.
"Blind":
Apesar de dançante, o melancólico álbum seguinte (como evidencia o título) Blue Songs, de 2010, continua a saga de Butler através dos beats e synths oitentistas ligados diretamente ao technopop e a house music, mas sem o brilho pop do disco anterior e sem a participação de Antony Hegarty. Ainda assim, é um trabalho apreciável, com bons singles como "My House", "Painted Eyes" e a participação de Kele Okereke, do Bloc Party, em "Step Up".
"Painted Eyes":
The Feast Of The Broken Heart, o terceiro álbum (2014), traz de novo vários vocalistas convidados, que, segundo Butler disse à época, formaram "...o melhor conjunto de cantores que já tive". Com produção impecável e grandes canções como "I Try To Talk To You" (com a voz reconhecível à quilômetros de John Grant), "Do You Feel The Same?" (vocais do belga Gustaph e um bassline agressivo com timbres de TB-303) e a Chicago house clássica de "My Offence". Ao contrário dos dois discos anteriores, The Feast Of The Broken Hear não usou instrumentos "orgânicos", como metais e cordas, deixando um pouco de lado a porção disco de seu som.
"I Try To Talk To You":
O próximo trabalho do Hercules, Omnion, traz onze canções e trata de tolerância e fé, conforme comunicado. Algumas amostras já saíram: o ótimo dance pop de "Controller", a contemplativa faixa título, "Rejoice" (um tiquinho mais techno) e "Fools Wear Crowns" (com lindos strings). O que parece certo é que, mais ou menos dançante e baseado no material que já foi divulgado, é pouco provável que Andy Butler decepcione.
Quando "Ice Ice Baby" começou a fazer sucesso (no meio de 1990), Vanilla Ice teva a cara de pau de dizer que não chupou o baixo do Queen
("Under Pressure"). Um tempo depois, admitiu o sample. Seu rap de rimas fracas não foi além de bobagens tipo "Com meu conversível aberto pro cabelo poder esvoaçar / As garotas na espera, só acenando pra dizer olá" ou ainda "Preste atenção porque eu sou um poeta lírico" (essa foi demais).
"Ice Ice Baby" inicialmente era o lado B do single "Play That Funky Music", mas assim que ganhou execução por rádios e DJs, tornou-se imensamente popular - tanto que foi o primeiro rap a chegar no topo do Hot 100 da Billboard, e por conta desse hit, Vanilla Ice colecionou mais discos de ouro do que jamais sonhou.
Em 1990, eu - então com 15 anos - estava me lixando pra letra e nunca tinha ouvido "Under Pressure". Hoje, reconheço que o sample do baixo encaixou direitinho. Foi uma ideia que provavelmente não veio de Robert Matthew Van Winkle, um cara comprovadamente sem talento.
Não tive coragem de comprar o álbum To The Extreme (o segundo de Ice, incríveis 16 semanas no topo da Billboard e mais de 15 milhões de cópias vendidas), mas "Ice Ice Baby" foi licenciada para várias compilações, como essa aí abaixo.
Não leve o título ao pé da letra porque de batucada essa house não tem nada. "Batuque" é o primeiro single do escocês Stephen Housego pelo selo brasileiro 294 Records e traz uma vibe "full brazilian", conforme indica o release. Isso inclui um loop de piano elétrico, trompetes que pontuam a melodia e um monólogo (em inglês) que meus dois anos e meio de Wizard não me habilitaram entender do que se trata. De qualquer forma, é uma house praieira deliciosa, em que a única dúvida que fica é levantar da espreguiçadeira pra dançar ou não.
O Tender segue pavimentando solidamente seu caminho até o primeiro álbum. O misterioso duo londrino, formado em 2015 pelo vocalista e multi-instrumentistaJames Cullen e pelo tecladista Dan Cobb prepara-se para lançar o debut Modern Addiction dia 1º de Setembro, pela gravadora britânica Partisan Records. A expectativa gerada até agora pelos três EPs e mais algumas faixas disponibilizadas de forma independente pela dupla aponta para um trabalho quase totalmente inédito, levando-se em conta o tracklist do álbum, já liberado. O som do Tender é um cruzamento entre R&B contemporâneo e eletrônica visceral; soaorgânico, sem truques banais como o autotune e cozinha em fogo brando, com uso farto de sintetizadores de timbres vintage amadeirados - climas aquecidos por Cobb que fazem a cama perfeita para Cullen desfilar sua voz sexy e semi-sussurrada. Talvez Terence Trent D'Arby soasse assim na atualidade, se estivesse vivo musicalmente. A canção mais recente do Tender, "Machine", deixa isso muito claro e perceptível: beats programados e teclados precisos, numa faixa que cresce devagar e explode num refrão memorável e que funciona igualmente bem tanto na celebração da pista de dança quanto na solidão-conforto do sofá da sala. O vídeo, que sugere o vazio existencial e a futilidade dos prazeres transitórios da vida moderna que tomam conta de boa parte da geração atual, retrata bem a letra, cujo refrão sentencia: "You cut me open, and pull me apart / A hollow chest instead of a heart". Sério candidato a revelação do ano. Ouça o Tender no Spotify.
Um tempo atrás o peruano Luis Leon meteu a mão em "This Charming Man", clássico single-debut dos Smiths, de 1983, e saiu-se com um edit muito bem feitinho, com timbres de sintetizador cuidadosos e sem exageros estilísticos.
Desta vez é o DJ e produtor americano Eric Estornel (a.k.a. Maceo Plex) que resolveu desafiar a ira dos fãs mais xiitas. Ele apareceu hoje com um edit de "How Soon Is Now?", emblemática canção da banda inglesa, lançada em 1984. Na nova versão, o tremolo original da guitarra de Johnny Marr - possivelmente, a referência mais identificável da música - foi mantido em toda a base por Maceo, assim como alguns trechos dos vocais de Morrissey. A isso, foram adicionados alguns efeitos e uma batida 4x4 bem simples. Não é um edit inesquecível, mas é uma boa atualizada numa faixa com mais de 30 anos. E se a ala fundamentalista dos fãs dos Smiths ficar putinha de raiva, melhor ainda.
Imagino que o maior mérito do When In Rome foi um dia ter sido confundido com o Depeche Mode por conta de seu single "The Promise", de 1988. Mas, convenhamos, um ouvido minimamente treinado não cometeria tal heresia. Martin Gore, principal compositor do Depeche, não redigiria uma rima constrangedora como "If you need a friend / Don't look to a stranger / You know in the end / I'll always be there", nem nos tempos de ginásio. E os esforços dramáticos de Clive Farrington ao microfone nem de longe lembram a extensão vocal de barítono de Dave Gahan. Porque a confusão, então? Mania do ouvinte médio de colocar tudo que soa relativamente parecido no mesmo balaio de gatos. E olha, o When In Rome é fraquíssimo, pra ser generoso. Seu autointitulado debut (e até hoje, único álbum) é horroroso, um sub-Alphaville de composições com o dobro da cafonice da banda alemã e instrumental uns cinco anos defasado em relação ao reluzente technopop praticado pela concorrência do primeiro escalão na época (o próprio Depeche, Erasure e Pet Shop Boys). Salva-se a melodia ensolarada de "Heaven Knows" e "The Promise", que tem, vá lá, um baixo interessante.