Dois projetos brasileiros de eletrônica bem distintos: Technique e Pazes.
O Technique botou na cabeça
que tem que fazer a música que suas principais referências (New Order,
Kraftwerk, Pet Shop Boys e Depeche Mode) não fazem mais, porque não
podem (pelo esgotamento da força criativa) ou não porque não querem
(pela tendência natural da busca pela evolução do som). Vai saber. Pra
isso, a banda usa de todos clichês disponíveis no seu álbum Memorizer
(saiu no começo do ano): resgata aqueles vocais blasé do technopop
europeu dos 80 pra discursar sobre temáticas pueris, com letras tão
constrangedores que mais parecem os títulos das novelas mexicanas que o
SBT exibe à tarde em sua programação ("The Price Of Lies", "Empty Eyes",
"Book Of Life"). O instrumental não difere muito do que o Tek Noir
fazia em 1990, com a diferença fundamental que a dupla mezzo argentina mezzo
brasileira não dispunha de um décimo da tecnologia que o Technique tem
em mãos hoje, e conseguia resultados incomparavelmente melhores.
Enquanto o synthpop de bandas como o Technique não se desvencilhar desse
excesso de referências óbvias e se recusar a olhar pra frente, o que
teremos é mais e mais grupos empilhados num terceiro escalão imaginário
desse tal futurepop - que tem na Alemanha um berçário fértil e
aparentemente, inesgotável.
"The Price Of Lies": os oitenta, ainda.
"The Price Of Lies": os oitenta, ainda.
Já o Pazes (representado pelo paulistano Lucas Frebraro) acena como uma boa promessa da música sintética nacional. Seu EP Sleeping Dolls acabou de sair, e não abdica de noções como criatividade e acessibilidade pra montar faixas como a espetacular "Frozen", com os vocais atmosféricos da turca Biblo. Pisando com cuidado no terreno dark, a música de Frebraro tem um gostinho melancólico, mas com seus beats engenhosos, pode virar hit de pista facilmente ("Burn Out"). Boa, garoto.
"Frozen": etérea.
"Frozen": etérea.