O Erasure passou a ser uma banda de singles a partir de 1994. Nesse ano a dupla britânica lançou o fraco
I Say I Say I Say, e o álbum naufragou com a produção excessivamente digitalizada do admirável
Martyn Ware (Human League, Heaven 17). Ou você lembra de alguma coisa de
I Say que não seja a orientalizante "
Always"? Ainda assim, era mais um disco do Erasure que chegava ao topo do paradão inglês. Pela última vez. Claro que o número de cópias vendidas não serve como termômetro para medir qualidade, mas como Andy Bell e Vince Clarke pareciam ter a fórmula mágica dos três minutos nas mãos durante a segunda metade dos 80 e o comecinho dos 90, foi de se estranhar que o tecno assumidamente pop da dupla começasse a rarear, em troca de composições mais longas ora tristonhas, ora experimentais. O problema é que até mesmo para singles o Erasure parece ter perdido o Toque de Midas. "In My Arms" (1997), "Freedom" (2000), "Breathe" (2004)... dá pra contar nos dedos o que é realmente digno de nota desse período. E eles se intimidaram? Nada. Continuaram lançando discos. Foram oito de 1995 até 2011, média de um a cada dois anos - contando o mais recente,
Tomorrow's World, que saiu mês passado. Aqui temos Vince Clarke de novo usando sua coleção de synths de boa cepa para dar um acabamento mais envernizado nas canções e Andy Bell sofrendo nas mãos do produtor
Frankmusik, no que tange aos vocais. O cantor está irreconhecível em "Fill Us With Fire" e cai na armadilha dispensável do auto-tune em "A Whole Lotta Love Run Riot". Honestamente, Bell soa muito melhor ao vivo do que nesse álbum (vi um show da banda em Agosto). Você certamente vai ler coisas por aí como "... é o melhor disco do duo desde...", e a gente quase acredita ouvindo refrãos como "Then I Go Twisting" e "Just When I Thought It Was Ending" ou o esforçado single "When I Start To (Break It All Down)". Fato é que o Erasure tem se desafiado constantemente nos últimos 15 anos: como não passar despercebido no meio de tanta música ofertada? Olha, só com um trabalho (ou uma sequência razoável de singles) realmente bom. E isso aconteceu pela última vez em 1991.
"When I Start To (Break It All Down)": softwares na voz.
Já o duo australiano radicado em Londres Monarchy finalmente debutou de forma oficial com
Around The Sun. O disco deveria ter sido lançado ano passado, vazou, foi adiado para Janeiro, depois Julho... Com a lista de faixas alterada em relação a 2010, o álbum ganhou a adição das novas (e ótimas) "I Won't Let Go" e "Jealous Guy". Se você passou batido por esse hype em 2010, saiba do que se trata no
texto que escrevi pro rraurl. Depois ouça
Around The Sun e tenha certeza que o synthpop está em ótimas mãos com bandas como o Monarchy.
"Jealous Guy": o futuro é o passado, baby.